Hugo Mathecowitsch e André Wetter, sócio-fundadores da a55. Foto: Divulgação/a55
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Fintech brasileira a55 recebe US$ 35 milhões para expandir no México

André Wetter, presidente da a55, conversou com o LABS sobre o modelo de negócio que permite investir em startups de receita recorrente sem venda de participação

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A fintech brasileira a55, que fornece linhas de crédito para startups, anunciou nesta terça-feira (4) um aporte de US$ 35 milhões liderado pela investidora Accial Capital, especializada em carteiras de empréstimos de fintechs em mercados emergentes. O aporte também teve a participação dos investidores anteriores: E3 Negócios e Mouro Capital (fundo sucessor do Santander InnoVentures, do Grupo Santander). Os recursos vão bancar a expansão da fintech, incluindo a ampliação no México e o aumento de portfólio de uma maneira geral.

Fundada em 2017 por Hugo Mathecowitsch e André Wetter, a a55 oferece linhas de crédito para startups que trabalham com receitas recorrentes, o chamado monthly recurring revenue (MRR), que é basicamente o modelo de receita de empresas de tecnologia como a Netflix e o Spotify, que cobram mensalmente pelo serviço. 

André Wetter, presidente da a55. Foto: Divulgação/a55

“Trabalhamos para empresas da nova economia. Normalmente são startups que estão em uma trajetória de crescimento. A gente ajuda essas empresas, principalmente as que têm um modelo de assinatura, com capital de giro”, explica Wetter, em entrevista ao LABS

No ano passado, a fintech também passou a atender empresas de e-commerce, financiando estoque e investimentos em marketing digital. “É um setor que cresceu na pandemia. Todo mundo que tinha uma lojinha tentou se digitalizar, e esse movimento aconteceu com muita dificuldade. Muitas pessoas não conseguiam fazer marketing digital, não conseguiam integradores [plataformas que integram o negócio do lojista com os marketplaces], e a gente auxiliou nesse processo de digitalização [com financiamento].” 

Essas linhas de créditos são para tíquetes menores, entre R$ 20 mil e R$ 2 milhões, com prazos de até 24 meses no Brasil. No México, a fintech atende 30 clientes maiores, com financiamentos de US$ 500 mil, em média, mas a ideia é ampliar o escopo e, com o tempo, absorver as pequenas empresas também. 

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“Estamos levando nossos produtos para o México aos poucos. Primeiro, fizemos um produto para esse mercado de assinatura no Brasil. Depois, fizemos uma plataforma que ajuda quem tem esse modelo a crescer, um dashboard financeiro”, explica. A plataforma da a55 conecta contas bancárias, soluções de custódia, faturamento, meios de pagamento e inteligência de crédito. 

Para financiar as linhas de crédito, a a55 usa operações de securitização, como emissões de debêntures, e um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). Até hoje, a fintech emprestou R$ 150 milhões para empresas no Brasil e R$ 50 milhões para empresas mexicanas. No total, atendeu mais de 200 startups. 

Sem abrir números absolutos, a empresa diz ter crescido mais de quatro vezes em faturamento em 2020, e que pretende crescer seis vezes neste ano. A meta geral da a55 é superar R$ 1 bilhão de originação de crédito no Brasil e US$ 100 milhões no México até o ano que vem. 

Por que o México?

O time da a55 tem hoje 80 funcionários, com escritórios em São Paulo, Florianópolis, Manaus e no México. A ideia de avançar para o México é porque, segundo Wetter, o ecossistema financeiro do mercado mexicano “é bem mais avançado que no Brasil“. 

“Aqui a gente ainda está falando muito de open banking. No México isso é muito mais simples, você já tem open banking lá. Tem acesso, por exemplo, às notas fiscais eletrônicas que uma empresa está mandando, ao imposto de renda. Você enquanto fintech consegue fazer um débito autorizado direto da conta. Foi muito mais rápido a gente colocar nosso sistema para funcionar no México do que foi no Brasil. No Brasil demorei anos, no México eu demorei meses.”

Wetter conta que no México também é mais fácil abrir uma Sociedade de Crédito Direto, o que ajuda a startup a fazer financiamento buscando dados das empresas para dar crédito de forma acessível e assertiva, “mais simples do que no Brasil“.  A fintech está com vagas abertas para mexicanos que entendem do sistema financeiro. 

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Do venture capital para as linhas de crédito: a aposta de Wetter

“Queremos financiar empreendedores que estão começando. Antes fazíamos linhas de crédito para empresas que já tinham algum faturamento, mas agora a gente começou a ter também crédito para empresas bem pequenininhas, para aquele cara que abriu o CNPJ há seis meses”. 

Antes de criar a a55, Wetter trabalhou com capital de risco, investindo em startups, no banco BTG Pactual e com consultoria. A startup veio da experiência de investimento em empresas de tecnologia aliada à falta de capacidade das startups brasileiras de fazer captação de dívida (o chamado venture debt). 

“O  empresário ficava refém de conseguir o investimento de novos sócios, então, ele sempre precisava dividir a participação dele. Ele não conseguiria venture debt porque não tinha garantia. Essas empresas são [o que chamamos de] asset-light; não têm carro, não têm propriedade, no máximo um monte de gente inteligente e computador lá fazendo o negócio funcionar.”

A ideia de Wetter foi um modelo de linhas de crédito para essas startups crescerem com capital de terceiros e sem necessidades de investimento e participação externa.

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Receber investimentos sem diluir equity e sem captar dívida: o caso da Reach

Uma das clientes da a55 é a Reach, uma plataforma SaaS (Software as a Service) de comunicação. A empresa realizou um financiamento baseado em receita com a a55 recentemente.

A ideia da Reach foi trazer capital, mas sem abrir mão de equity e evitar a diluição dos fundadores. Os recursos foram captados por intermédio da e-Captei, empresa que auxilia empreendedores a levantar recursos para seus negócios, procurando soluções como a da a55. 

Ao LABS, Leonardo Simão, fundador do e-Captei e co-CEO estratégico da Reach, disse que optou por fazer essa rodada com a a55 para evitar a diluição da empresa e manter o controle nas mãos dos sócios (ele e Thiago Santos).A a55 não tem assento no conselho, não tem nada disso. O financiamento baseado em receita é uma opção muito interessante para startups.” O valor da operação não foi revelado, mas com o investimento, a Reach tem planos de crescimento acelerado em 2021, mirando R$ 35 milhões em faturamento recorrente anual (ARR). 

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