Depois de alguns meses flertando com o mercado brasileiro, a Clara, fintech mexicana de gestão de gastos corporativos, finalmente estreia suas operações no país, impulsionada por uma rodada Série B de US$ 70 milhões liderada pela Coatue – gestora de investimentos que também já apostou em nomes como Bytedance (TikTok), Cloudwalk, Deel e Bitso. Também participaram da rodada investidores anteriores da Clara: DST, monashees, General Catalyst, Avid Ventures, Global Founders Capital, Alter Global, entre outros. A captação eleva o valor de mercado da Clara para US$ 1 bilhão, transformando a fintech no mais novo unicórnio do México – e, segundo a empresa, na primeira startup latina a atingir o status de unicórnio em menos de 1 ano de operação.
A nova rodada veio apenas cinco meses após a captação de US$ 30 milhões da Série A. Em conversa com o LABS, o country manager da Clara no Brasil, Layon Costa, disse que a empresa não precisava de caixa, mas que, com os bons resultados que teve no México e com o lançamento no Brasil, os investidores “vieram atrás”. “Quanto mais capital, conseguimos melhores pessoas e expandimos mais rapidamente”, disse.

Fundada por Gerry Giacomán e Diego García em 2020, a startup iniciou suas operações no México em março de 2021 de olho no potencial do mercado de soluções financeiras B2B. A Clara oferece uma solução de ponta a ponta para gerenciamento de gastos em empresas. Em outubro, fechou uma parceria com a Mastercard para emitir cartões corporativos para seus clientes – as operações no Brasil também terão o respaldo da gigante de pagamentos. Além dos cartões de crédito corporativos nos formatos físico e virtual, sem anuidade e com limites e restrições customizáveis, a empresa possui um software de controle de despesas.
Em oito meses de operação, a Clara já tem cerca de 1 mil clientes corporativos no México — um terço deles, startups e empresas de tecnologia de alto crescimento, como Creditas, Kavak, Casai e Valoreo, entre outras. A startup diz ter visto o volume transacionado por meio de sua plataforma aumentar mais de cem vezes desde março. A Clara obtém sua receita a partir de taxas de intercâmbio em cada transação de cartão de crédito, mas não cobra nada dos clientes.
A estreia no Brasil marca o início de uma nova etapa da Clara. Costa, executivo que já trabalhou em empresas como QuintoAndar e Rappi e vai liderar a expansão da fintech no país, contou que a empresa já tem mais de 100 clientes entre processo de contratação e uma lista de espera de empresas interessadas em utilizar a plataforma.
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“A gente já estava conseguindo montar uma operação legal no Brasil e agora vamos acelerar ainda mais a contratação, o esforço do marketing local, [investindo] em time de tecnologia para ter um produto muito bem feito”, disse. Antes da operação no México começar, Costa já estava na Clara porque o plano sempre foi ter alguém no Brasil. “O brasileiro está mais acostumado com fintechs do que outros países talvez, temos o Nubank, que é muito conhecido, e várias startups”, contou ele.
A fintech espera chegar a 200-300 clientes no Brasil no primeiro ano de operação. Embora o mercado brasileiro tenha todo um potencial B2B a ser explorado, a Clara chega batendo de frente com concorrentes de peso, como a Cora e a Conta Simples. “A nossa proposta de valor é única: pensar em pessoa jurídica e no produto de cartão de crédito. Somos uma plataforma de controle de gastos para pessoas jurídicas com um produto de cartão de crédito desde o começo”, disse.
Buscando agregar mais serviços à plataforma, em agosto a Clara lançou uma funcionalidade que possibilita que os clientes não apenas gerenciem as despesas com cartões de crédito e reembolsos, mas também faturas, lista de fornecedores e contas a pagar. Com todas as despesas organizadas em um só lugar, os clientes da Clara podem utilizar a plataforma como ponto de partida para solicitar crédito com base em suas futuras transações.
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“As empresas poderão controlar tudo dentro da plataforma, fazendo centenas de pagamentos com um clique e diretamente da plataforma, gerenciando uma lista de fornecedores e conectando-os com suas informações fiscais. [Também pela plataforma] notificações poderão ser enviadas automaticamente a esses fornecedores, ajudando as empresas a manter todas as suas operações dentro do cronograma, tudo em tempo real. Nenhum banco pode oferecer uma solução semelhante a esta”, Giacomán disse ao LABS recentemente.
Com o mercado de recebíveis ganhando nova tração após mudanças regulatórias e o open banking sendo implementado, o Brasil pode ser um ponto de virada importante para a Clara. Com a Série B, a fintech planeja continuar expandindo o portfólio de produtos. A ideia é ser uma Brex (a startup de cartões corporativos fundada por brasileiros nos EUA e avaliada em mais de US$ 7 bilhões) para a América Latina.
“Queremos acabar com a burocracia do funcionário ter que juntar recibo para pedir reembolso. Na plataforma você consegue ver gráficos de cada departamento ou de cada regional, onde está gastando dinheiro, tudo atrelado ao cartão de crédito”.
Colômbia e Chile estão na lista dos próximos mercados da fintech. “A gente pretende, no próximo ano, ter pelo menos sete países aqui na América Latina“, disse Costa.