56% dos consumidores brasileiros afirmam ter dificuldades em guardar dinheiro, aponta levantamento da plataforma Acordo Certo, fintech especializada em renegociação online de dívidas. A pesquisa, realizada com mais de 1.500 entrevistados em janeiro, mostra ainda que 50% deles também encontram problemas ao fazer um planejamento financeiro para organizar as contas.
Muitos fatores podem estar por trás desses números: traços culturais e um histórico de instabilidade político-econômica são alguns deles. Mas a Flourish, plataforma de engajamento digital com sede em Berkeley, nos Estados Unidos e fundada em 2018 pelo brasileiro Pedro Moura e pela norte-americana com ascendência filipina e mexicana Jessica Eting, quer mudar esse cenário. Para isso, conta com o apoio de uma rodada semente de US$ 1,5 milhão liderada pela gestora brasileira de capital de risco Canary, anunciada neste mês.
“Foi nosso primeiro aporte seed institucional. Nossa meta como empresa é trazer de dois a três bancos ainda neste ano”, revela Moura em entrevista ao LABS. Por meio de sua plataforma de engajamento digital, voltada para ajudar as instituições financeiras a reter usuários, a Flourish cria soluções de recompensa e lealdade através de gamificação.
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“A abordagem inovadora que Pedro e Jéssica construíram para ajudar as pessoas a ter educação financeira e gerir melhor o orçamento familiar nos atraiu, bem como a solução tecnológica que eles podem oferecer para diferentes parceiros em uma região extensa como a América Latina,” pontua Marcos Toledo, sócio da Canary.
Em suma, a plataforma da Flourish oferece três serviços principais para os usuários: um sistema de recompensas, que garante incentivos financeiros àqueles que cumprem seus objetivos de economizar ou investir; e regras automáticas de microinvestimento, que podem ser customizadas de acordo com as preferências do usuário – como fazer com que ele invista uma pequena quantia a cada vitória de seu time de futebol. Há ainda uma ferramenta de educação financeira que transforma as transações e gastos do usuário em um jogo de perguntas e respostas.
“Isso está atrelado ao nosso sistema de recompensas, mas [por meio desse jogo de perguntas e respostas] você está entendendo seus gastos e possivelmente mudando ou recebendo um alerta”, explica Moura. “Para o banco, Isso é muito bom: você está voltando para o balcão digital dessa instituição”.

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Se, da perspectiva do usuário, a Flourish tem a missão de empoderar as pessoas a terem hábitos financeiros saudáveis; do lado dos bancos, a fintech trabalha para fornecer ativos que melhorem o relacionamento entre as instituições e seus clientes, gerando retenção desses usuários.
Não por acaso, o open banking brasileiro, iniciado neste ano, e o processo massivo de inclusão financeira nos países latino-americanos, ocasionado pelos depósitos digitais de auxílios emergenciais ligados à pandemia do COVID-19, parecem formar um pano de fundo bastante positivo para a solução da fintech.
“Acreditamos que não só os bancos têm a oportunidade de se conectar com a nossa plataforma, vemos uma grande oportunidade em outros tipos de instituições que têm transações financeiras e que nossa tecnologia pode apoiar: fintechs, varejistas, telecomunicações”, resume Moura.
Não é só digitalizar, você tem que engajar, encontrar os incentivos corretos para realmente poder ajudar as pessoas a prosperar. Para isso, as instituições que vão ganhar, são as instituições que passam de transações a relacionamento.
Pedro Moura, cEO e co-fundador da Flourish
Com um modelo de software-as-a-service que licencia a tecnologia para outras empresas, as instituições financeiras podem se conectar à solução da Flourish por meio de um kit de desenvolvimento de software – um SDK – ou via API. A Flourish cobra uma taxa, paga pelas instituições, por cada usuário ativo do serviço.
Mas antes de pivotar para o modelo B2B, a fintech californiana reuniu experiências e aprendizados com uma versão piloto B2C, chamada Flourish Savings App, lançada nos EUA. O aplicativo, que hoje funciona como um laboratório de testes de novas mecânicas, oferecia aos usuários uma conta poupança digital com recompensas e experiências, como jogos, a cada fase avançada na jornada financeira.
Segundo Moura, em 2020, o aplicativo registrou usuários retornando à plataforma de duas a três vezes por semana, além de ter gerado economia média de US$ 600, durante seis meses, aos usuários. “Aprendemos muito com esse modelo e vimos uma oportunidade de escalar utilizando o sistema que já existia”, lembra o executivo.
Com parcerias com instituições nos Estados Unidos e na Bolívia, como CommonWealth, Opportunity Fund e BancoSol, no Brasil, a Flourish iniciou operações em um projeto com a cooperativa de crédito Sicoob. “Acreditamos que nossos próximos dois ou três clientes virão do Brasil. Mas estamos vendo uma oportunidade interessante em países como México e Colômbia”, revela.
Para apoiar esse roteiro de expansão, o aporte de US$ 1,5 milhão liderado pela Canary deve ajudar a Flourish a aumentar o número de instituições financeiras e usuários atendidos na América Latina e desenvolver novos recursos para grandes empresas.
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Expandir o time de dez pessoas, dividido entre Estados Unidos, México e Brasil, também é um dos objetivos com o novo investimento – e para isso, a Flourish contará com um novo talento: Cris Miano, ex-gerente de produto da fintech brasileira Neon.
Com mais de 20 anos de experiência como empreendedor, Miano desenvolveu programas de lealdade e engajamento para marcas globais como Coca-Cola, Honda Serviços Financeiros e CitiBank. Na Flourish, o executivo – que inicialmente ingressou na fintech como investidor – vai liderar a área de parcerias estratégicas, com foco em abertura de novos mercados e importante papel na área de produto. “Ele reforça e acelera o que buscamos construir na América Latina”, Moura acrescenta.