fundadores fintech Ume
Marco Cristo, Berthier Ribeiro, Theo Ramalho e Márcio Palheta, sócios-fundadores da fintech UME. Foto: Divulgação.
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Fintech Ume quer ir além do "crediário do futuro" e ser um banco para pessoas de baixa renda

A startup fechou 2020 com faturamento de R$ 3 milhões e 9 mil usuários. Para 2021, a meta é aumentar a originação de crédito 14 vezes

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Fundada em 2018, a fintech brasileira Ume concede crédito para consumidores de classe baixa desbancarizados, por meio de pontos de vendas de varejistas. Após “digitalizar” o bom e velho crediário e possibilitar que esses consumidores comprem por meio de um cartão virtual no aplicativo, a startup quer ampliar seu leque de produtos e serviços e virar um banco para pessoas de baixa renda.

“Estamos explorando um meio de comunicação já conhecido desde 1950, com Samuel Klein [fundador da rede de varejo Casas Bahia]”, explica Berthier Ribeiro, CEO e co-fundador da Ume, em conversa com o LABS. “Estamos extrapolando um conceito, deixando que o consumidor tenha acesso a vários lojistas por meio do nosso crédito”. 

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Ribeiro e outros três sócios – Marco Cristo, Theo Ramalho e Márcio Palheta – dedicaram os seis primeiros meses de operação para estudarem o mercado e testarem modelos de “crediário digital” com as varejistas Bemol e a Havan.

O processo de análise de crédito da Ume demora três minutos, contra 20 a 25 minutos no mercado tradicional. Isso porque a fintech desenvolveu uma rede neural proprietária que cruza dados e que dá ênfase ao comportamento do consumidor. Entre 25% e 30% da base dos clientes da Ume são negativados e mesmo assim conseguiram acesso a crédito na fintech.

A partir de agora, a ideia da Ume é focar nos varejistas de pequeno porte, uma fatia do setor que se viu forçada a se digitalizar devido à pandemia de COVID-19. Logo após começar a conceder crédito, no primeiro trimestre deste ano, a startup decidiu pausar o serviço por um tempo. “Foi uma decisão nossa, porque a demanda estava ali. A carteira ainda estava pequena e conseguimos fazer isso [essa pausa]”, explica Ribeiro. “Agosto foi o primeiro mês que, de fato, a gente voltou a dar crédito. Originamos R$ 100 mil (naquele mês), e (agora) vamos fechar dezembro com R$ 1 milhão. Crescemos 10 vezes de agosto até agora”, pontua. Em setembro, a fintech já concedia R$ 500 milhões em empréstimos por mês.

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A Ume fechou 2020 com faturamento de R$ 3 milhões e 9 mil usuários. Para 2021, a meta é aumentar o valor originado em 14 vezes. “Vamos chegar no final de 2021 com R$ 80 milhões originados e devemos atingir 85 mil usuários, com um faturamento entre R$ 6 milhões e R$ 8 milhões.” 

Para buscar essas metas, a Ume conta com uma rodada pré-Seed, levantada em outubro, cujo valor não foi revelado, e pretende levar um novo aporte ainda nos primeiros meses de 2021, com os mesmos investidores-anjo que apostaram na startup na rodada anterior. Segundo Ribeiro, 40% do dinheiro será usado em desenvolvimento de produto e melhor experiência para o usuário no aplicativo e na plataforma web da Ume. 

“Teremos um time focado em melhorar a experiência do usuário e um programa de relacionamento, para que ele tenha vantagens ao longo do tempo e possa acumular essas vantagens por meio de uma reserva de valor que a gente vai criar no início da nossa conta digital”, conta Ribeiro.

O restante do dinheiro será investido na expansão geográfica da fintech, que hoje atua mais no Norte do Brasil, e na ampliação das áreas de marketing e operações.  

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Ume quer lançar conta digital com vantagens voltadas para o varejo

A Ume já oferece um cartão digital que permite que o usuário faça compras utilizando o CPF e e o telefone celular, mas quer escalar esse produto em 2021. Antes de criar uma conta digital, a fintech quer consolidar um programa de relacionamento em que o usuário possa utilizar o serviço da Ume para obter desconto nas próximas compras. A oferta da conta digital viria na esteira desse programa de relacionamento.

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“A gente está criando uma relação de confiança e possibilitando que a vida do nosso usuário seja transformada a longo prazo, como um serviço de bancarização”, afirma o CEO. Ribeiro quer transformar a Ume em um banco provedor de soluções para pessoas de baixa renda a longo prazo. “O player que fará isso estará muito ligado ao varejo, que sempre foi o ambiente em que essas pessoas conseguiram acesso a crédito. O próprio varejo poderá se transformar em uma agência da Ume (onde os clientes poderão sacar e depositar)”. 

A ideia é que, até o final de 2021, a Ume tenha concedido crédito para 100 mil pessoas, e que metade desses usuários usem a conta digital da startup. Se a curto prazo, a startup, que tem um escritório em São Paulo e um em Manaus, quer crescer no Brasil, a longo prazo não descarta outros países da América Latina. “São realidades diferentes, terá que ter adaptações, mas é uma oportunidade que a gente vislumbra ao longo prazo”, diz Ribeiro.

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