Juliano Cornacchia e Alexandre Assolini, cofundadores da Vórtx. Foto: Divulgação/Vórtx
Negócios

Fintech que trabalha nos bastidores do mercado financeiro, Vórtx recebe aporte de R$190 milhões da FTV Capital

Antes do anúncio da rodada, a Vórtx tinha 100 vagas de emprego abertas, o que deve aumentar a partir de agora

Read in english

Cinco anos atrás, dois advogados do interior de São Paulo criaram o “patinho feio” das startups. Assim era vista a Vórtx, uma fintech de infraestrutura para o mercado financeiro. Sem fazer alarde, a empresa estruturou um time de 160 pessoas, boa parte engenheiros, matemáticos, e físicos, e foi ganhando escala. Viu o faturamento crescer 40 vezes até 2020, ano em que ultrapassou a marca dos R$ 100 bilhões. Nesta terça-feira, a Vórtx anunciou um aporte de $35 milhões (cerca de R$ 190 milhões) do fundo de private equity norte-americano FTV Capital, que agora tem participação minoritária na empresa. 

Parte do recurso será usado em tecnologia e parte em aquisições, como explicou Juliano Cornacchia, CEO e cofundador da startup, em entrevista ao LABS. Hoje, a Vórtx trabalha no modelo B2B com back office para o mercado financeiro, ou seja, quem contrata a empresa é quem atua no mercado de capitais. Mas as aquisições da fintech caminham para que a startup se torne a Amazon Web Services do mercado financeiro, com um modelo de negócios no qual, com um clique, o investidor possa começar um fundo. Assim, ao invés de o cliente contratar software, nuvem, contabilidade, tudo estará embutido na plataforma da Vórtx. Por isso, a empresa está integrando softwares de gestão. 

LEIA TAMBÉM: Startup brasileira netLex viu demanda por gestão de contratos triplicar com trabalho remoto

Recentemente, a startup investiu na fintech Parfin, entrando no mercado de criptoativos e em 2019, adquiriu a Vorasys/BCInf, de sistemas. 

O que é a Vórtx?

Criada em 2015, a Vórtx atua como agente fiduciário, em custódia de ativos, agente de garantias e de monitoramento, além de fazer a liquidação, escrituração e representação legal e custódia para investidores estrangeiros.

Na área de Funds Trust (fundos), os principais clientes são a XP e a Pátria Investimentos e na área de Corporate Trust (administração de dívida), os grandes bancos como o Itaú BBA, Bradesco BBI e BTG Pactual estruturam as operações com a Vórtx, que tem cerca de R$ 130 bilhões em ativos sob custódia. 

Com duas décadas de experiência advogando para operações de mercados de capitais, Cornacchia trabalhava em um escritório de advocacia com seu sócio, Alexandre Assolini, preparando todos os contratos, prospectos e documentos que o investidor teria de assinar durante uma transação. 

“A gente optou por entender muito do negócio dos clientes, discutíamos os economics das transações. Saía mais planilha e powerpoint do meu computador do que contrato. Cálculo tributário, contábil, eu fazia todos. O contrato é só output, ele não é a parte mais complexa, só reflete o interesse das partes,” explica. 

LEIA TAMBÉM: Socialtech brasileira Ribon é reconhecida entre as mais inovadoras do mundo pela Fundação Bill e Melinda Gates

A estratégia deu certo. O escritório cresceu e virou referência nas transações com que trabalhavam. Foi quando resolveram empreender. “A gente conhecia muito dos nossos clientes e eu não me senti numa posição de montar um asset para ter uma estratégia parecida com eles, porque eu sabia como eles operam. Pensei em achar um negócio que não fosse concorrente, e que fosse complementar com esse relacionamento que já tínhamos com os clientes do escritório. E aí vimos que tinha um negócio que ninguém estava prestando atenção, o back office.”

Em uma operação grande de investimento, o Itaú BBA, por exemplo, estrutura a transação com uma agência internacional que dá o rating, além de duas bancas grandes de advocacia. No fim da operação, quando advogado, Cornacchia entregava para um agente fiduciário ou para um administrador de fundos a gestão do que ele tinha planejado, mas com um rol de ferramentas analógico. Quando o mercado brasileiro se abriu para as fintechs, ele viu que sua tese estava certa: os bancos não controlavam a operação. 

Não é como se a Vórtx tivesse inventado a roda. O serviço já existe na indústria, dentro dos grandes conglomerados. O Itaú tem sua parte fiduciária, assim como o Bradesco, que trabalha para atender a demanda interna. 

O back office é um serviço obrigatório para qualquer operação, além de ser um negócio de escala, segundo Cornacchia. “O que você contrata de receita para um ano você acumula para o outro e assim por diante”. 

LEIA TAMBÉM: Startup brasileira Housi mira expansão para a América Latina em 2021

A empresa foi criada com governança: com conselho de administração e conselho independente. Assim, conseguiu a autorização para operar do Banco Central em 2013 e em 2015 efetuou a primeira transação. Mas os negócios só deslancharam de fato em 2016. “Fazia 15 anos que não entrava um concorrente nesse setor. Chegamos a ter 70% de market share em alguns papéis.” 

Remando contra a maré do desemprego 

A pandemia da COVID-19 foi cruel para muitos negócios. Mas foi durante a crise que a Vórtx acelerou a contratação de 80 pessoas. Com a taxa de juros em baixa (2%) o mercado bancário brasileiro migrou para o mercado de capitais, e a startup absorveu a demanda, crescendo quase 70% em relação a 2019. 

Agora, a Vórtx quer mais do que dobrar o faturamento em 2021 e entrar no mercado de fundos líquidos. “Como esse mercado é mais associado ao varejo e à pessoa física, ele demanda uma estrutura de capital mais robusta, por isso que a gente resolveu ter um sócio e fazer a rodada com a FTV Capital.”

LEIA TAMBÉM: Capital de risco visa a digitalização do mercado imobiliário da América Latina; Loft está avaliada em $ 2,2 bi

O executivo não descarta a internacionalização em locais estratégicos para os investidores não residentes no Brasil, como as Ilhas Cayman, que possuem incentivos fiscais. 

Antes do anúncio da rodada, a Vórtx tinha 100 vagas de emprego abertas, o que deve aumentar a partir de agora, segundo Cornacchia. Um terço das vagas são para cargos de tecnologia. A empresa não divulga o valuation após o aporte, porque, segundo o CEO, ainda há outras con

versas com investidores em andamento. 

A Vórtx quer ser listada na Nasdaq em até quatro anos, e a escolha do FTV Capital como investidor está relacionada com a demanda de se aproximar do Vale do Silício. “O FTV é americano, já fez saídas lá fora, e investe no nosso ramo mundo afora.”

Keywords