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“Nossa meta é co-fundar 5 startups por ano”, diz Carlos Gamboa, sócio da Fisher

Em entrevista ao LABS, Gamboa e Amanda Graciano, nova sócia de corporate venture building, falaram sobre o modelo de atuação e os planos da empresa

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Já pensou fundar uma startup por ano? Bem, foi isso que a Fisher fez desde sua fundação, sete anos atrás. E o plano agora é acelerar e lançar ao menos uma startup nova por semestre. O que diferencia a Fisher de outros do ecossistema é o modelo venture builder, que têm crescido internacionalmente e se destacado como ferramenta de gestação e administração de novos negócios.

A Fisher é uma das poucas empresas do Brasil que atuam no segmento, e recentemente anunciou a contratação de Amanda Graciano, ex-head do Cubo, para incrementar o time como sócia na parte de corporate venture building. Em conversa com o LABS, Amanda e Carlos Gamboa, um dos sócios da empresa, falaram sobre o modelo de negócios da Fisher e de como a metodologia empregada pela empresa pode afetar a cultura de startups no cenário brasileiro e mundial. 

A Fisher diz ter hoje um modelo que possibilita a co-fundação de uma startup por semestre. Mas diante de um mercado aquecido e que constantemente escalona suas investidas já é possível vislumbrar uma atuação mais intensa. A ideia, segundo Gamboa, é aumentar esse número no médio e longo prazo. 

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“Nós estamos bem satisfeitos com o que fazemos hoje. Olhando para nossa trajetória, ao longo desses quatro anos e meio, nós começamos com uma tese e sabíamos o que queríamos fazer. Se vamos investir esforço e suor em um time excepcional e montando empresas transformacionais, queremos fazer isso com negócios que tenham um impacto para nossa sociedade, país e mundo. Nós fazemos o que consideramos relevante, mesmo que dê muito trabalho. Quando falamos sobre criar duas startups por ano, é muita coisa. Por outro lado, nós acabamos atraindo mais pessoas excepcionais e olhando para mais teses transformacionais do que hoje podemos concretizar. Nesse lado de venture building, no portfólio da Fisher, nós pretendemos ir para um ritmo de cinco por ano”, comentou o sócio.

O foco da Fisher está direcionado para a co-fundação de startups cujos segmentos e modelos conversem diretamente com as experiências da equipe montada. Até por isso, a empresa vem procurando novos talentos para incrementar seu time e, futuramente, ter um portfólio ainda mais capaz e diversificado.

Estamos nos estruturando para isso. Estamos trazendo profissionais que complementam essa formação. Vemos profissionais como parceiros e como clientes. Mas nós não fazemos consultoria: escolhemos clientes com quem gostaríamos de trabalhar e conjuntamente podemos ajudar nessa jornada mais avançada de inovação. Queremos fazer mais, queremos usar nosso método de forma construtiva para alcançar mais transformações e impactos

Carlos Gamboa, sócio na Fisher.

O que é e como funciona o modelo de venture building

O modelo de venture building tem se tornado imprescindível para o desenvolvimento contínuo do mercado de startups. Diferente de aceleradoras ou incubadoras, as empresas que usam o modelo VB tendem a acompanhar o progresso das startups desde o início do projeto, da gestação da empresa às rodadas de investimento, e continuar atuando com protagonismo durante o processo. 

Recentemente, a Fisher foi convidada para integrar a GSSN (Global Startup Studio Network), um grupo internacional focado em estudar o processo operacional de venture builders. Com isso, a empresa teve acesso a dados sobre a evolução do modelo, que tem crescido desde 2015, no mundo todo.

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Mais popular e dinâmico em mercados mais maduros como o norte-americano, o modelo também é importante – ainda que por razões diversas — em mercados emergentes como o Brasil, onde o fomento ao empreendedorismo só começou a romper as barreiras do “montar um negócio por necessidade” há pouco tempo.

“Em ecossistemas como o dos Estados Unidos, tanto o empreendedorismo quanto tudo ligado a isso (a tolerância à falha, o foco em produto) são um pouco mais nativos. Há toda uma safra de profissionais do ramo que não é restrita a uma elite, é uma cultura mais disseminada. Então, a cultura e o mercado geram uma base de pessoas qualificadas mais abrangente. Com isso, a montagem de times é mais natural, você consegue um ritmo de construção de startups maior”, explicou Gamboa.

“Nos Estados Unidos, você possui alguns modelos de startup studio onde são feitos vários testes de produtos. De quinze feitos, por exemplo, dez avançam no processo e cinco viram startups. É um processo mais serial e focado na cultura. No Brasil, ainda não estamos lá, mas estamos melhorando bastante. Aqui, há uma escassez maior de talento. No Brasil, nós acabamos tendo que nos envolver mais do que no mercado americano, por essa necessidade de profissionalizar o negócio desde os estágios iniciais. É uma das coisas que tentamos destrinchar para desenvolver uma metodologia mais robusta e que atraia as pessoas certas para esse mercado”.

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Dentro desse cenário, torna-se imprescindível que uma venture builder saiba gerenciar seus sócios e parceiros para acrescentar ao time visões e expertises que a equipe atual não possui. A própria contratação da Amanda Graciano chegou para ocupar essa lacuna. 

“Minha chegada soma com a experiência da equipe porque temos trajetórias bem parecidas. No último ano, devo ter analisado mil startups. Então foi um casamento interessante, até porque todos os sócios estão totalmente voltados para o desenvolvimento de negócios, e é legítimo ter um olhar com uma preocupação organizacional para aplicar nossa metodologia e fazer esse modelo ser cada vez mais serial”, comentou Graciano.

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O modelo VB também traz dúvidas para muitos empreendedores e uma das mais recorrentes é com quanto uma venture builder fica de cada negócio que ajuda a criar? “O esforço que dedicamos a cada startup é relevante, intenso e consome efetivamente a nossa capacidade de estar realizando outros negócios. Digo isso para afirmar: nosso modelo não é de incubação ou aceleração, no qual você trabalha e tem uma pequena porcentagem. Nós somos sócios sempre minoritários, mas muito relevantes. Cada caso é um caso, mas temos uma política de alinhamento com padrões globais de venture builders, praticado inclusive por empresas do Vale do Silício”, disse. Segundo apuração do LABS, este índice de participação no capital ou nas ações varia, em média, de 25% a 40%.

Você pode perguntar ‘mas é assim no mundo todo?’, e eu te digo: é. Nós já empreendemos e investimos, então entendemos a dinâmica do negócio. Sempre que começamos esse modelo, nós já estamos pensando três casas à frente. Por exemplo: toda startup nasce com um Plano de Opção de Compra de Ações previsto. Sempre vai haver um gap entre o time inicial e o que você vai precisar ao longo da jornada. Por isso, nós sempre dedicamos entre 10% e 20% do capital da startup para captação de talentos. Porém, a Fisher nunca vai ser majoritária de uma startup

Carlos Gamboa, sócio na Fisher.

Para melhor explicar a proposta e o posicionamento da Fisher, Gamboa usou como exemplo os projetos em andamento da empresa: “Há uma startup que estamos criando que foi totalmente concebida aqui dentro da Fisher, pois um dos nossos sócios tinha experiência no setor e identificamos uma oportunidade em um mercado específico. Ela nasceu 100% Fisher, e mesmo assim, os co-fundadores, que não pertencem ao time da Fisher, possuem 60% da empresa”.