Merama completa um ano e ganha unicórnio de presente
Renato Andrade e Guilherme Nosralla, cofundadores da Merama, que recebeu US$ 225 milhões da Advent e SoftBank este ano. Foto: Merama/Divulgação
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Então é Natal, e o que você fez? Os fundos de capital de risco deram muitos presentes para a América Latina em 2021

O LABS conversou com a Kaszek, o SoftBank e o Valor Capital Group, figurinhas carimbadas nas rodadas de 2021; LAVCA mostra que investimento de fundos estrangeiros cresce a cada ano na região

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Enquanto 2020 foi um ano marcado pelas incertezas da pandemia da COVID-19 e, portanto, de adaptação do ecossistema de inovação ao novo cenário, 2021 foi um ano de aceleração, com novos unicórnios surgindo até o apagar das luzes: a Facily captou US$ 135 milhões no dia 23 de dezembro e virou a mais nova startup no clube dos bilionários da América Latina.

Embora ainda não seja possível saber quem deu mais “presentes” para as startups na região, o LABS conversou com alguns dos fundos e gestoras que mais apareceram nos anúncios de aportes ao longo do ano. 

Entre eles está a Kaszek, que investiu em 23 startups na região em 2021, contra 14 no ano passado. Segundo Hernan Kazah, co-fundador da empresa de capital de risco, a Kaszek participou de 84 rodadas de investimento em 2021, contra 50 em 2020. O número de rodadas follow-on (as rodadas subsequentes em empresas do portfólio) também aumentou, de 36 no ano passado para 61 este ano. 

Ao todo, a Kaszek investiu US$ 500 milhões em 2021, o triplo do que a empresa investiu em 2020. “43% de todo o capital levantado na América Latina, do primeiro trimestre até o terceiro trimestre, foi para empresas do nosso portfólio”, disse Kazah.  

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Hernan Kazah, co-fundador da Kaszek. Foto: Divulgação/Kaszek

Outra figura carimbada nas divulgações de aporte este ano, o SoftBank não revela o número de rodadas que participou, mas, segundo Eduardo Vieira, diretor de comunicação do conglomerado japonês na América Latina, do início do ano até o dia 30 de junho, o SoftBank investiu em 48 empresas na região. Hoje, o fundo do SoftBank para a América Latina tem 60 empresas no portfólio.

Até o dia 30 de junho, o SoftBank Latin American Fund tinha uma taxa de retorno de investimentos (TIR) bruta de 103% em moeda local. Em dólar, a TIR bruta do fundo foi de 90% e líquida de 85%. 

Segundo Vieira, a participação do SoftBank nas empresas da região cresceu em relação ao ano passado. “2021 foi um ano fantástico para a América Latina e provou a nossa tese de que a região é muito promissora. Possui problemas estruturais e desafios em praticamente todos os segmentos da economia e isso atrai ideias e empreendedores muito bons”, disse. 

Este ano, de acordo com Vieira, foi de consolidação do capital que os fundadores precisavam. “Uma demonstração desse movimento foi o nosso comprometimento de US$ 3 bilhões adicionais ao fundo de US$ 5 bilhões que já existia para a América Latina“.

Perguntado se o Softbank se considera “o campeão” dos aportes em 2021, o diretor disse que o conglomerado não faz esse tipo de consideração e que o objetivo do SoftBank é ser o melhor parceiro dos empreendedores. “Prova disso é que temos o privilégio de ter 75% dos unicórnios da América Latina em nosso portfólio. Fomos pioneiros na região em 2019 e estamos colhendo os frutos”. 

Novo diretor de comunicação do SoftBank na América Latina, Eduardo Vieira. Foto: Divulgação/SoftBank

Para Vieira, o compromisso do SoftBank com a América Latina é sólido e de longo prazo. “Diferentemente de outras empresas de VC, temos escritórios na região, com equipes inteiras dedicadas. Temos feito investimentos em recursos humanos e ajudado as empresas a crescer. Somos uma empresa de capital de visão para a América Latina e esperamos continuar a ter esse poder transformacional”. 

O BID Invest, o braço do setor privado do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), investiu US$ 8,3 bilhões na América Latina e Caribe em 2021. Neste ano, o BID aumentou o foco em projetos de digitalização e integração regional, que representaram 15% e 25% dos compromissos financeiros, respectivamente. O BID Invest liderou investimentos em startups como a ProducePay, Recarga Pay, Kubo e Merqueo.

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Enquanto isso, o Valor Capital Group fez “entre 15 a 20 investimentos” neste ano, contando investimentos primários e follow-ons. “Somos o fundo norte-americano mais ativo na América Latina, temos um portfólio de mais de 95 empresas e 75% dessas empresas estão na América Latina“, disse o sócio da Valor Capital Group, Michael Nicklas

“2020 acabou sendo um ano em que muito do foco foi ajudar as empresas a se segurarem para se reposicionar. Este ano foi interessante, foi um ano muito agitado não só para a gente mas para o ecossistema também. Vimos grandes players vindo de fora, aportando, players que não tem necessariamente escritório no Brasil, como a DST e a D1, além de Tiger Global e SoftBank. Vimos um ecossistema muito acelerado, desde os estágios seed até os follow-ons e as rodadas Série C, Série D. Também foi um ano com muitos eventos de liquidez, com IPOs, SPACs, entre outros”, lembrou Nicklas.

Michael Nicklas, Managing Partner do Valor Capital Group. Foto: Divulgação/Valor Capital Group

Dados da LAVCA (Associação para o Investimento em Capital Privado na América Latina) mostram que a participação global em investimentos na América Latina tem aumentado desde 2019; 21% das transações na região incluíram pelo menos um investidor global em 2019, saltando para 23% em 2020 e 31% na primeira metade de 2021.

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Segundo Nicklas, a competição do Valor Capital Group “é um jogo contra nós mesmos”. O ciclo de vida de um fundo é de uma década. Neste tempo, a empresa de capital de risco tem que mostrar resultado para seus LPs (Limited Partners, que de fato comprometem o capital investido). 

A cada dois anos e meio, a Valor vai para o mercado para arrecadar capital para novos fundos com os LPs. Hoje, Nicklas afirma que a empresa está satisfeita com os resultados que conseguiu. “A gente não olha só os outros fundos como a Kaszek, a Monashees, a Redpoint eventures, a gente compete a nível global porque o capital dos investidores, das instituições, sejam multilaterais como banco central ou fundo de fundos ou fundos soberanos, estão buscando retornos absolutos. Então para eles é meio indiferente se o fundo está nos Estados Unidos, na Ásia, no Brasil. Tem que ter uma tese que os retornos desses fundos vão ser competitivos com fundos parecidos a nível global”. 

O Valor Capital Group tem dois veículos de investimento ativos ao mesmo tempo, um para o early-stage e outro para o growth stage (Série B para frente), para dar continuidade nas empresas do early-stage que estão indo bem.

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“É sempre um mix, a gente gosta de liderar rodadas, a gente co-investe também, a gente participa. Se o perfil do retorno está certo, a gente é indiferente a essa nomenclatura”. 

Que setor ganhou presente em 2021?

A LAVCA disse que entre as segmentos em crescimento que mais receberam investimentos significativos durante 2021 estão os agregadores de comércio eletrônico, serviços bancários, provedores de crédito, especialmente Buy Now, Pay Later (BNPL) e criptomoedas. 

“Também vimos um interesse crescente de investidores no potencial de tecnologias baseadas em hardware e soluções de IoT (internet das coisas) com rodadas no Brasil, México e Chile”, disse a associação.

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