A distância que separa o jovem brasileiro recém formado no Ensino Médio do mercado de trabalho formal está cada vez maior – dados mais recentes do IBGE mostram que a taxa de desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos chegou a 29,8%. Foi para atacar esse problema que a startup Galena nasceu. Com pouco menos de dois anos de operação e apenas duas turmas formadas, a tese da edtech conquistou a Altos Ventures, fundo de venture capital do Vale do Silício, que liderou um investimento de US$ 16,7 milhões (quase R$ 80 milhões) na Galena.
Participam também da rodada Série A o braço de ventures da Exor N.V, a Owl Ventures, principal gestora global de investimentos em edtechs, o Reaction, fundo de impacto de alumnis de Stanford, e a Globo Ventures, veículo de investimento do grupo Globo, além de investidores individuais, como David Velez, Kevin Efrusy, Dan Rosensweig, Armínio Fraga, Romero Rodrigues e André Street.
A Galena foi fundada em 2020 por Guilherme Luz e Eduardo Mufarej, dois empreendedores com ampla experiência em educação: Luz atuou na Nova Escola, organização da Fundação Lemann dedicada à formação de professores da rede pública, e Mufarej criou o Renova BR, uma escola de formação de lideranças políticas. Antes, a dupla trabalhou na Somos Educação, empresa focada no desenvolvimento de soluções educacionais para escolas brasileiras.
Em entrevista ao LABS, Luz contou que foi nessa incursão pelo terceiro setor que os sócios identificaram o problema que queriam atacar: a desconexão entre a educação básica e o mercado de trabalho.
O jovem formado no ensino médio pela rede pública de ensino tem uma enorme dificuldade para entrar no mercado. A escola brasileira ainda falha em preparar para o trabalho. Foi aí que vimos a oportunidade: criar uma solução que ajude esse jovem a conquistar um emprego legal e a partir daí construir sua carreira. A Galena quer ajudar o jovem brasileiro a evitar a informalidade, o subemprego ou o desemprego.
Guilherme Luz, cofundador e CEO da Galena
Esta é a segunda captação da Galena; em março de 2021, a startup garantiu US$ 7,3 milhões em uma rodada Seed. O capital recém captado será investido em produto, tecnologia e ampliação do time. A meta para 2022 é escalar a primeira trilha de aprendizagem, a aprimorar o modelo de negócio para, a partir do ano que vem, incluir novas formações no currículo. No médio prazo, a meta é alcançar a marca de 50 mil jovens inseridos no mercado de trabalho em cinco anos.
Trilha de aprendizagem e match com empresas
A Galena criou um programa de formação em Vendas e Sucesso do Cliente voltado para jovens entre 18 e 24 anos que tenham se formado no Ensino Médio pela rede pública.
Luz contou que antes de definir o currículo do programa, os cofundadores conversaram com quase 40 empresas para entender quais eram as áreas com mais oportunidades e quais competências e habilidades eram necessárias. “Nós identificamos duas áreas mais quentes, Tecnologia e Vendas e Sucesso do Cliente, que oferece mais vagas. Optamos por começar com essa trilha de aprendizagem e criamos o currículo do programa a partir da necessidade concreta das empresas que contratam, cobrindo as competências técnicas e comportamentais.”
A formação da Galena dura quatro meses e o currículo é exigente – são 8 horas diárias de dedicação às atividades. O programa simula o ambiente de trabalho que os jovens vão encontrar depois, para que eles saiam dali entendendo como funciona a área de vendas, os conceitos e noções do trabalho, as ferramentas e dinâmicas comuns a essas empresas.
Fim do programa, hora do match.
“No final do programa, fazemos o processo de matching. A tecnologia da Galena avalia e recomenda os melhores candidatos para as empresas. O sistema identifica quem é o candidato ideal para cada vaga oferecida pelas empresas parceiras, a partir do cruzamento de informações do candidato, da vaga e da cultura da empresa”, explicou Luz.
Por meio de parcerias com 18 empresas – como iFood, QuintoAndar, Cora, Unilever, Stone, Nubank, Alelo, XP, Arco, Dell, PetLove, entre outros –, a Galena consegue inserir o jovem no mercado de trabalho em uma vaga formal, CLT, com uma média salarial de R$ 2.300, benefícios e plano de carreira. Segundo Luz, todos os alunos formados na primeira turma conseguiram emprego e 45% da segunda turma já estão trabalhando (o prazo para a inserção no mercado de trabalho via startup é de três meses).
Pelo modelo de negócios da Galena, em vez de pagar pelo curso normalmente, o aluno só quita o curso quando estiver empregado; se ao fim do prazo de três meses não tiverem conseguido um emprego, não precisam pagar. O custo final da formação varia entre R$ 3.500 e R$ 6.000. A startup também recebe uma taxa por contratação feita pelas empresas parceiras.
O modelo de pagamento e a alta taxa de assertividade da Galena tornou o processo seletivo da startup bastante concorrido. Desde que foi fundada, a edtech já recebeu mais de 21 mil inscrições e o NPS (Net Promoter Score, métrica que avalia a satisfação do cliente) é de 96 por parte das empresas parceiras e de 84 por parte dos jovens.
“Queremos revolucionar a forma como os jovens do sistema público de ensino se preparam e ingressam no mercado de trabalho. Temos um modelo diferente e mais assertivo, que une talentos e oportunidades”, concluiu Mufarej.