Não há dúvidas de que o ecossistema de inovação está em plena expansão na América Latina. Os investimentos de venture capital estão em alta, chegando a US$ 12 bilhões de dólares distribuídos entre mais de 500 negócios em 2021 – e o ano ainda não terminou.
No entanto, há um problema latente por trás desse crescimento: mulheres empreendedoras e fundadoras recebem apenas uma pequena fração desse enorme fluxo de investimentos em comparação com seus colegas empreendedores homens. De fato, startups fundadas por mulheres têm se saído mais mal desde o ano passado, com uma redução de 27% no financiamento destinado para fundadoras em todo o mundo em 2020, de acordo com levantamento do Crunchbase. E piora: o Índice Mastercard de Mulheres Empreendedoras relata que mais de 50% das empresas lideradas por mulheres foram impactadas negativamente pela pandemia.
Em vista desse cenário, o IDB Lab, o hub de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (IDB na sigla em inglês), lançou, via WeXchange, o LAC Women’s Accelerator Program, um programa para aumentar a visibilidade de startups lideradas por mulheres junto a investidores. Ao mesmo tempo, a iniciativa conecta as fundadoras a especialistas e promove o acesso a informações e ferramentas que podem ajudá-las a alavancar o negócio.
Como maior fonte de financiamento para o desenvolvimento da América Latina e o Caribe (LAC), a estratégia do IDB Lab é identificar e apoiar novas ideias e startups com potencial para melhorar a vida de populações vulneráveis e carentes da região. Promover o desenvolvimento econômico de mulheres, particularmente nas áreas de ciência e tecnologia, é uma das grandes metas do hub.
O IDB Lab lançou o fórum WeXchange em 2013 com o objetivo de conectar mais mulheres fundadoras de startups STEM (acrônimo, em inglês, de Science, Technology, Engineering and Math, ou Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) a mentores, investidores e especialistas da indústria, conta Laila Gyoung Joo Choe, diretora e diretora sênior de investimentos do Fórum WeXchange.

“Em 2011 ou 2012, a porcentagem de startups lideradas por mulheres e financiadas por empresas de venture capital era muito baixa e [devido a isso] não era uma surpresa que a rede de mulheres empreendedoras fosse muito menos robusta do que a rede de fundadores homens. Assim, lançamos o Fórum WeXchange para conectar essas empreendedoras a mentores e investidores, com competições anuais para ajudar a dar mais visibilidade a elas. Quando lançamos a primeira edição da competição em 2013, recebemos mais ou menos 100 inscrições. No ano passado, recebemos mais de 900 inscrições”, diz Choe.
Após nove anos cultivando essa rede de mulheres empreendedoras via o WeXchange, a criação do LAC Women’s Accelerator Program, um programa completo de aceleração voltado para mulheres fundadoras, foi um passo natural.
“Há muitos anos o Google for Startups vem executando um programa de aceleração para fundadores na região. Achamos que seria excelente fazer parceria com o Google e replicar esse programa especificamente para as mulheres. Uma das maiores diferenças é que convidamos mais mulheres mentoras e investidoras como palestrantes e participantes do programa. Também é muito valioso para as fundadoras ter esse acesso direto aos especialistas em tecnologia do Google“, diz Choe.
A proposta do programa de aceleração para fundadoras mulheres foi certeira: o IDB Lab recebeu mais de 300 inscrições de startups de mais de 30 países, entre as quais 20 fundadoras foram selecionadas para o programa de 10 semanas de duração, que incluí workshops imersivos, treinamento em marketing digital, design de produtos, estratégias de aquisição de clientes e de captação de recursos, desenvolvimento de liderança, além de sessões individuais de mentoria com investidores e especialistas do Google, WeXchange/IDB Lab e o centro tecnológico do Google, Centraal.
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“Como queríamos democratizar o acesso a esses tipos de programas de aceleração por fundadoras da região, incluindo empreendedoras de ecossistemas emergentes, como da América Central, Palawan, Bolívia ou da região andina, convidamos todas as candidatas que não foram selecionadas para o programa principal a participar de um programa de oficinas chamado WeXchange Ignite”, acrescenta Choe.
Lissy Giacomán é co-fundadora e CEO da Vinco, uma startup mexicana de educação que conecta as empresas e seus funcionários a oportunidades personalizadas de educação continuada para ajudar a melhorar a retenção de talentos nas empresas. Após um ano de operação, a Vinco conquistou uma rodada Seed de US$ 2,4 milhões liderada pela Angel Ventures. A startup tem entre seus clientes gigantes como a Didi Food, Kavak e Nestlé.
Giacomán, que já havia sido convidada para o programa de aceleração da Y Combinator, foi selecionada para o LAC Women’s Accelerator Program do IDB Lab e afirmou que a experiência mais personalizada proporcionada pelo programa só para mulheres tem sido mais interessante, bem como a oportunidade de se conectar de uma forma mais significativa com colegas empreendedoras e mentores.
Grupos menores, limitados a 20 startups, é uma grande vantagem. Assim conseguimos nos conectar mais e sinto que estou conversando 10 vezes mais com outras fundadoras e que nós queremos ajudar umas às outras. O tamanho do grupo permite que o programa seja flexível em relação aos tópicos que as fundadoras têm interesse em abordar. Por exemplo, uma das fundadoras estava querendo saber mais sobre captação de recursos e valuation, e o WeXchange conseguiu adaptar a programação para incluir uma conversa sobre esse assunto.
Lissy Giacomán, co-fundadora e CEO da Vinco.
Patrícia Tavares, cofundadora e CEO da NeuralMind, conhece bem as necessidades de uma startup em estágio de crescimento. Ela e o cofundador Roberto Lotufo criaram uma solução de Inteligência Artificial enquanto gerenciavam o Parque de Ciência e Tecnologia e a incubadora de startups da Universidade Estadual de Campinas. A ferramenta desenvolvida por Tavares, chamada NeuroSearchX, já ganhou sete concursos internacionais de excelência técnica, e agora a startup se prepara para lançar o produto completo.
Nesse momento da jornada, Tavares está estudando a internacionalização e um plano de saída para sua startup, enquanto pensa em seu próximo empreendimento focado em IA. Para ela, o maior benefício do programa de aceleração tem sido o contato com mentores que podem ajudá-la a traçar e executar esses próximos passos da NeuralMind.
“Além de ser um programa sobre liderança feminina e ter ótimas palestras, o que eu mais amo são os mentores. Eles são altamente qualificados. Tive minha primeira sessão de mentoria há alguns dias com um empresário e investidor em série, e ele reforçou minha estratégia de ir para o mercado com o novo produto. Também tem sido bom estar mais próximo dos especialistas do Google. Acredito que tudo isso me trará mais visibilidade junto a potenciais investidores, além de que conhecer mais mentores seniores aumenta sua rede e suas chances de fazer negócios internacionais”, diz Tavares.
Tanto Giacomán quanto Tavares contaram estar particularmente animadas com o Demo Day, que ocorreu na semana passada. Magdalena Coronel, diretora de investimentos do IDB Lab, explica que o objetivo do programa de aceleração para fundadoras é “atrair mais investidores para o Demo Day, e esperamos que esses investidores se interessem por muitas das mulheres fundadoras. Não se trata apenas de investimento – trata-se realmente de construir essas relações com empresas de venture capital, com investidores e outros especialistas do setor”. Além disso, o próprio IDB Lab pode atuar como investidor.
O IDB Lab desempenha um papel importante como investidor direto, bem como um parceiro em mais de 50 fundos de capital de risco em toda a região. Temos um grande interesse em buscar investimentos potenciais para startups lideradas por mulheres em setores de alto crescimento e alto impacto, por isso definitivamente estaremos examinando mais de perto os investimentos potenciais nesse grupo de startups.
Magdalena Coronel, diretora de investimentos do IDB Lab.
(Traduzido por Carolina Pompeo)