A startup argentina de soluções para o e-commerce Nuvemshop (ou Tiendanube) anunciou recentemente uma rodada de US$30 milhões em uma Série C, co-liderada pelos fundos Kaszek Ventures e Qualcomm Ventures. Captar esse valor durante a pandemia tem relação com a confiança dos investidores em um negócio que deu certo em tempos de incerteza. A Nuvemshop faz parte do seleto grupo de startups que conseguiram crescer na crise.
O COO e co-fundador da Nuvemshop, Alejandro Vázquez, disse em entrevista ao LABS que o GMV (Volume Bruto de Mercadoria) dos varejistas dentro da Nuvemshop deve crescer mais do que cinco vezes, e que boa parte desse crescimento ocorreu durante a pandemia da COVID-19. A startup não divulga faturamento.
Com o distanciamento social, a startup, que opera no modelo de SaaS (Software as a Service), viu que varejistas que já eram clientes passaram a vender mais, ao mesmo tempo em que novos negócios adotaram a plataforma da Nuvemshop para conseguir vender online.
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“Sempre tivemos esse mindset de construir produtos simples que conferissem autonomia para o lojista. A pandemia nos mostrou o valor disso. Vimos negócios fechando as lojas físicas e, desesperadamente, esses negócios buscaram alternativas. Para muitos a saída foi criar um e-commerce”, diz Vázquez.

Brasil é o maior foco da Nuvemshop na América Latina
A Nuvemshop é usada hoje por mais de 65.000 lojistas na América Latina (o número de varejistas mais que dobrou, já que eram quase 30.000 no início do ano). Esses lojistas da Nuvemshop estão vendendo mais de US$ 1 bilhão em GMV (Gross Merchandise Volume), que é o volume bruto de mercadoria neste ano, com uma previsão de que o volume transacionado chegue a US$ 5 bilhões até 2025. Isso representa mais de uma venda por segundo na plataforma da startup, segundo Vázquez. Quase metade desses varejistas estão no Brasil – segundo o co-fundador da plataforma, lojistas brasileiros vendem mais também, em média, que os argentinos e mexicanos.
Por isso, o maior foco da empresa na América Latina é o Brasil, que espera o grande volume de vendas para a Black Friday deste ano. A Ebit/Nielsen projeta uma alta de 27% nas vendas deste ano em comparação com o evento de 2019. “Os números para este ano e para a Black Friday são muito expressivos por refletir a adaptação do consumidor às compras online. Nesta pandemia, o e-commerce se tornou um porto-seguro ao substituir de forma eficiente e prática o ambiente físico”, afirma a líder da Ebit|Nielsen, Júlia Ávila, na pesquisa.
“Não somos um marketplace, mas conseguimos ver novos consumidores dentro do ecossistema”, lembra Vázquez. Ele conta que de fevereiro para junho o número de novos usuários cresceu quatro vezes.
No Brasil, a criação de contas digitais para pagamento do auxílio emergencial contribuiu para uma maior bancarização da população brasileira, o que, segundo a Nielsen, é um fator que deve ajudar a impulsionar o comércio, aliado ao hábito cada vez mais comum de realizar compras pela internet, potencializado pela COVID-19.
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Segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (AbComm), 150 mil lojas online foram criadas entre março e julho deste ano. Dessas, 80% optaram por realizar suas vendas em grandes plataformas.
Atendendo pequenas e médias empresas na região
Criada em Buenos Aires em 2011, a Nuvemshop tem hoje 300 funcionários entre escritórios da Argentina, São Paulo, e agora também no México. Os fundadores Santiago Sosa, Alejandro Vázquez, Martin Palombo e Alejandro Alfonso se conhecem há ainda mais tempo, da época da faculdade, quando desenharam um projeto de marketplace.
“O que vimos dessa primeira experiência era que os empreendedores estavam utilizando o produto que a gente tinha criado como uma vitrine online. Entendemos que era uma grande dificuldade ter uma loja virtual e a maioria dos negócios não sabia nem por onde começar”, explica Vázquez. Foi quando eles decidiram mudar o modelo para uma plataforma que fosse de simples manuseio para pequenas e médias empresas.
“Nosso foco hoje não é grandes empresas, eventualmente será. Nos próximos cinco anos estamos trabalhando para ser a opção óbvia para a maioria dos negócios da América Latina”, afirma.
Nos próximos 18 meses, a empresa quer expandir ainda mais pela região, mas por enquanto, a nova rodada será investida no desenvolvimento da plataforma, permitindo que parceiros possam integrar soluções e desenvolver APIs de pagamento e logística com a Nuvemshop.
Estamos baixando as barreiras para para que qualquer pessoa possa empreender, para que qualquer negócio possa se digitalizar. Queremos levar isso a longo prazo e matar o desemprego no Brasil e na América Latina.
Alejandro Vázquez, co-fundador da Nuvemshop
Vázquez acredita que o e-commerce representará pelo menos 80% das vendas no varejo na América Latina em até 20 anos. Uma fatia de mercado pela qual vários rivais na região estão batalhando, como a Magazine Luiza, por meio do Parceiro Magalu, o Shopify, o MercadoLibre, a B2W, a Locaweb e a TOTVS.
Mas também não é como se a loja física fosse acabar, segundo o empreendedor. “O offline continuará sendo importante. Não só pelas vendas mas também pela experiência, pela criação de marca. Acho que as lojas físicas vão ter esse papel de experiências agora, mais do que a representatividade nas vendas”.