A Incognia, startup de autenticação de identidade por localização que nasceu dentro da In Loco, antes de boa parte dela ser vendida para o Magalu, viu sua receita quadruplicar no último trimestre do ano passado. Em conversa com o LABS, o fundador e CEO da startup, André Ferraz, não revelou números absolutos, mas disse que a empresa tem tudo para dobrar a dose já no primeiro trimestre de 2022 e que o crescimento da plataforma está tomando direções não vislumbradas antes.
A pandemia de COVID-19 foi especialmente difícil para setores como o turismo, o varejo e os serviços. E a Incognia é um exemplo disso. Com milhares de lojas fechadas ao longo de 2020 em razão das medidas de distanciamento social para conter a COVID-19, o principal negócio da In Loco, de soluções de marketing baseadas em geolocalização, foi paralisado e 90% da receita da empresa desapareceu. Coube à equipe capitaneada por Ferraz achar uma alternativa. E ela veio quase que naturalmente, da tecnologia desenvolvida pela empresa.
Lançada em março de 2020 nos Estados Unidos como uma unidade de negócios, uma “empresa-irmã” da In Loco, a Incognia foi, ao longo daquele ano, tomando o lugar de protagonista da empresa – 60% do aporte Série B de US$ 20 milhões recebido pela In Loco em 2019 e liderado pelos fundos Valor Capital e Unbox Capital (gestora da família Trajano que tem R$ 500 milhões de ativos sob gestão) foi usado para a empresa começar a desbravar os EUA no ano seguinte.
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O legado da tecnologia antes usada para conectar aplicativos do varejo a usuários quando eles entravam nas lojas foi o ponto de partida para a solução de autenticação da Incognia. Entre o primeiro MVP da In Loco e o lançamento da Incognia passaram-se dez anos.
Ainda em 2020, a unidade voltado ao varejo, chamada de Inloco Media, foi vendida para o Magazine Luiza, empresa que já era uma parceira da startup, por um valor não revelado. Com a Incognia como estrela principal, Ferraz também decidiu mudar o nome formal da empresa para Incognia.
Em agosto de 2021, com menos de um ano de operações dedicadas apenas ao novo negócio, a Incognia já tinha 40 milhões de usuários ativos por dia, 100 milhões mensais. Meses antes, a empresa já vinha fazendo integrações importantes, também com outras startups de autenticação, como a brasileira idwall e a argentina auth0, plataforma comprada pela americana Okta, por US$ 6,5 milhões.
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“A Incognia cresceu 10 vezes mais rápido do que a In Loco no seu primeiro ano de existência. Hoje, são 50 milhões de usuários ativos por dia, em mais de 15 países, e 1,5 bilhão se sessões por dia (o mesmo usuário pode abrir um app várias vezes). A título de comparação, o máximo que a In Loco chegou foi a 60 milhões de usuários no Brasil,” ressalta Ferraz.
Para Ferraz, três fatores contribuíram para o sucesso da Incognia: o crescimento das fraudes online (nos EUA, primeiro mercado-alvo da startup, as perdas resultantes das fraudes online cresceram 230% em 2020, para US$ 56 bilhões); a estratégia de internacionalização, iniciada ainda na época da In Loco, mas que ajudou a Incognia a já nascer com receita diversificada; e o momento em que o mercado se encontrava e ainda se encontra, com forte crescimento das atividades via dispositivos móveis e a necessidade de se verificar identidades de forma menos invasiva e mais assertiva, sem depender de senha ou biometria.
“As fraudes estão crescendo, mas a maioria dos mecanismos de segurança pioram a experiência do usuário. Se a empresa começa a pedir senhas complexas ou para validar número de telefone ou email, ou mesmo exige biometria, [tudo isso] começa a deixar o uso daquele serviço mais complexo. Somado a isso está a transição para o mobile. Uma solução que é puramente mobile aumenta a segurança significativamente quando comparada a outros meios de autenticação. E á uma solução que não exige nenhuma ação do usuário”, explica Ferraz.
Como funciona a tecnologia da Incognia
A tecnologia de localização móvel da Incognia, é, segundo Ferraz, é integrada aos aplicativos dos clientes da empresa por meio de um SDK mobile, que coleta dados anônimos dos sensores dos dispositivos móveis. A tecnologia de Incognia utiliza não apenas dados de GPS, mas também de redes Wi-Fi, celular e Bluetooth, o que a torna altamente eficaz na detecção de spoofing de localização. A partir da força de sinais de localização e sensores de movimento mobile, Incognia constrói uma digital de localização para cada usuário baseado em seu respectivo comportamento de localização, que é único.
Todos esses dados são criptografados e não recolhem informações como nome da pessoa, ou qualquer outra informação de identidade civil do usuário.
Para clientes como bancos e financeiras, é possível identificar um determinado local como aquele onde o consumidor final mais frequentemente faz transações. A partir daí, esses clientes atendidos pela Incognia podem, por exemplo, lançar mecanismos de segurança que restrinjam ou peçam, a partir de alguma inconsistência, novas formas de verificação ao consumidor final. “O mais importante é que a solução da Incognia não pede nenhuma ação do usuário, o que é fundamental para quem quer oferecer uma experiência sem fricções”, diz Ferraz.
Os planos da Incognia para 2022
A Incognia começou com cerca de cinco funcionários abrindo o escritório nos EUA, em meio à chegada da pandemia do novo coronavírus. “Hoje, estamos chegando perto de 100 pessoas e estamos contratando gente no Brasil e nos EUA. Os times de tecnologia se concentram principalmente em Recife [cidade natal da empresa], já o comercial se divide entre São Paulo e São Francisco. Mas tem muita gente remota, gente em Jericoacara (Ceará) à Chapada Diamantina (Minas Gerais),” relata Ferraz. A maior parte das vagas abertas são para tecnologia, mas também há posições nas equipes de marketing e comercial.
Esse crescimento em pessoal se deve às metas ousadas da startup. “Para este ano, a gente espera quadruplicar a receita mensal em relação a registrada em dezembro. Provavelmente chegaremos perto de dobrar o que a gente fez [no trimestre] até dezembro no fim desse [primeiro] trimestre de 2022”, diz Ferraz, sem revelar números absolutos.
A maioria dos clientes da startup estão hoje nos EUA e no Brasil, mas, aos poucos, a empresa também está atraindo organizações da Ásia e da América Latina. O segmento financeiro é o principal para Incognia, seguido de plataformas de delivery. Aos poucos, porém, oportunidades no mercado de games e de mídias sociais também estão surgindo. “É uma demanda grande e até mesmo por isso decidimos, ainda em 2021, focar nossos esforços para empresas grandes, isto é, com mais de 1 milhão de usuários”, explica Ferraz. Segundo ele, os clientes têm chegado até a Incognia por meio de canais variados. “Um cliente no México veio por meio de outro no Brasil [no caso, o banco digital will bank], que viu as fraudes caírem mais de 90% após o uso da solução de autenticação da Incognia. Outros da Ásia estão vindo via nosso trabalho com conteúdo.”
Além da Valor Capital e da Unbox Capital, a Incognia também tem como investidora a Prosus (ex-Naspers), que além de participar da rodada Série B liderou a Série A de US$ 5,1 milhões, em 2017, e participou do aporte semente ao lado do Buscapé, em 2013.