A InstaCarro, startup fundada pelo argentino Luca Cafici para atender o mercado brasileiro de compra e venda de veículos usados por meio de leilões online, acaba de anunciar uma rodada Série B de R$ 115 milhões liderada pelos fundos americanos J Ventures, FJ Labs e Rise Capital. Também participaram do aporte os fundos All Iron Ventures e Big Sur, da Espanha, entre outros investidores.
No mercado desde 2015 e com atuação apenas em São Paulo, a InstaCarro já movimentou mais de R$ 1 bilhão em vendas com uma solução C2B por meio da qual proprietários de veículos usados conseguem oferecer o veículo para uma base de mais de 4 mil compradores, entre concessionárias e revendedoras. Os veículos são vendidos em leilões online e ganha quem fizer a melhor oferta aprovada pelo vendedor. Segundo a startup, as vendas são concluídas em até 24 horas – toda a documentação e transferência do veículo fica sob responsabilidade da startup, que também paga ao vendedor à vista.
Com o capital recém injetado, a InstaCarro vai investir pesado na ampliação da operação em São Paulo e na expansão para Campinas, Curitiba, Joinville, Santos, Brasília, Goiânia, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
LEIA TAMBÉM: unico se torna novo unicórnio brasileiro e o quinto investido pelo SoftBank
Além disso, a empresa não descarta lançar um novo serviço, dessa vez B2C, para vender carros usados dentro da plataforma. Isso porque, explica Cafici, 50% dos clientes pessoa física da startup não quer apenas vender um carro, mas também comprar um. “Além de uma boa experiência de venda de veículos, queremos oferecer uma boa experiência de compra”, disse.

Crescimento de 20% ao mês durante a pandemia
O aporte da InstaCarro vem na esteira do aquecimento do mercado de carros usados no Brasil. Após um recuo nos meses de abril, maio e junho do ano passado, as vendas de seminovos voltaram a crescer no país a partir de julho e fecharam o ano em alta. No primeiro semestre de 2021, foram 63% maiores do que as registradas no mesmo período no ano passado, conforme relatório divulgado em junho pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Dados compilados por outra entidade, a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), mostram que os números do primeiro semestre não só recuperaram a queda registrada nos primeiros meses de 2020 devido à pandemia, como já superaram os resultados de 2019 – a média diária de veículos vendidos no país passou de 54.802 em 2019 para 58.944 unidades em 2021.
Seguindo a tendência do setor, a InstaCarro também viu suas operações recuarem nos dois primeiros meses de pandemia no ano passado, mas logo recuperou o fôlego e voltou a crescer. “No início sentimos o choque, porque tanto nós quanto nossos clientes lojistas tivemos que fechar as lojas físicas. E nessa época, nosso canal de lojas físicas era muito forte, os clientes valorizavam essa experiência”, conta Cafici.
LEIA TAMBÉM: Dona do iFood, Movile recebe aporte de R$ 1 bilhão da Prosus
Diante do novo cenário, a startup realizou adequações na operação para manter o ritmo de crescimento: expandiu o canal de atendimento residencial personalizado para as avaliações dos veículos e investiu em melhorias da experiência online.
Com essas adaptações e maior foco no digital, a startup afirma ter conseguido manter um crescimento de 20% ao mês e ter aumentado sua lucratividade em até 10 vezes na comparação com os índices pré-pandemia. A empresa não revela números absolutos da operação. Cafici afirma que os investimentos em tecnologia e na experiência online vão continuar.
A indústria de carros tem uma penetração online historicamente baixa. A pandemia obrigou o setor a digitalizar, e os clientes a experimentar o processo online. E agora todo mundo viu que funciona, o que gerou uma aceleração dessa digitalização.
LUCA CAFICI, CEO E FUNDADOR DA INSTACARRO
Como funciona
O modelo de negócio da InstaCarro é composto pela plataforma e por uma estrutura de atendimento presencial, que conta com lojas físicas e avaliadores. Quando um cliente decide vender seu veículo, pode optar por levar o veículo até uma das lojas físicas ou receber o profissional em casa para a inspeção do veículo, em que são avaliados mais de 150 itens, desde a estética até a mecânica. É a partir dessa avaliação que a InstaCarro define o valor base do veículo para o leilão. O cadastro do automóvel na plataforma e a organização do leilão são feitos pela própria startup.
A grande sacada do leilão, segundo Cafici, é que não há um consenso geral sobre o valor de um veículo usado. Cada carro, é um carro. O leilão, por sua vez, possibilita que um mesmo veículo receba ofertas variadas de compradores variados, até se chegar à melhor oferta para as duas pontas do negócio.
A precificação de um carro usado é muito subjetiva. Nosso trabalho é garantir que o leilão tenha muita concorrência, para que seja mais eficiente vender pela InstaCarro do que por conta própria, já que o veículo será visto por uma base de milhares de lojas de vários lugares. Além disso, o aceite de uma determinada proposta cabe ao vendedor, ele não é obrigado a aceitar nenhuma oferta.
Luca Cafici, CEO e fundador da InstaCarro
Antes de empreender, Cafici passou por uma startup de classificados de carros na Ásia, o que lhe garantiu alguns insights sobre o processo de negociação e venda de veículos. “O processo de venda de um veículo usado, além de visitas, de negociação de valores, está sujeito à desistências, fraudes, burocracias. Nós nascemos com esse propósito de tornar a venda mais rápida, segura e vantajosa do ponto de vista financeiro. Para a pessoa física, nossa proposta de valor é a segurança e um preço competitivo. E para os lojistas, a possibilidade de comprar veículos em escala”, explica.
A experiência de usuário, seja pessoa física ou pessoa jurídica, é o forte da InstaCarro, garante Cafici. A startup cuida de todas as etapas da oferta e da venda, de modo que vendedor e comprador não têm contato um com o outro. “É um mercado que tem muita informalidade e insegurança, então nós blindamos as duas partes. Se o carro apresentar algum problema depois da compra, que não foi identificado na vistoria, nós nos responsabilizamos. Da mesma forma, se o lojista por acaso desistir da compra, nós nos responsabilizamos.”