“Um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”, o que os versos usados por Jorge Ben Jor para descrever o Brasil não previam é que o país também carregaria o título de quinto país mais sendentário do mundo e o líder na América Latina, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
E assim como tantas outras startups que nasceram com a missão de solucionarem um problema, o Gympass transformou o território do sedentarismo em seu mercado ideal. O resultado foi uma empresa que em apenas 8 anos já é avaliada em mais de $ 1 bilhão, está presente em 14 países e conta com um portfólio de parcerias com academias e studios que inclui mais de 50.000 locais.
Com a empresa em um novo patamar e atuando em um mercado muito mais competitivo, Gustavo Diament, CEO do Gympass na América Latina, mantém a filosofia e o propósito que acompanharam a empresa desde os primeiros passos: a batalha contra o sofá. “Mais do que ser ou não ser unicórnio, nosso propósito é combater o sedentarismo,” revela Diamant em entrevista exclusiva. “Na América Latina, a média de pessoas que fazem exercícios físicos guiados por um profissional é 5%, ou seja, é muito baixa. Mas se você pega a média dos usuários finais do Gympass, isso chega a 35% ou 40%, é muito maior. Estamos trazendo muita gente nova para esse estilo de vida ativo, esse é o nosso propósito.
O momento do mercado tech fitness

Apesar de considerar que o Gympass é muito mais do que apenas uma empresa de tech fitness, pois o negócio já evoluiu a ponto de não apenas oferecer uma atividade por meio da tecnologia, mas sim usar os recursos tecnológicos como ferramenta para facilitar o acesso de pessoas a diferentes modalidades de exercícios, Diament acredita que nunca houve um momento mais promissor para o mercado, principalmente na América Latina.
No entanto, o empresário destaca que isto só foi possível porque houve uma mudança de comportamento relevante em relação a como o mundo corporativo encara o bem-estar dos funcionários. Atingindo uma receita de 94 bilhões de dólares em 2018, de acordo com o relatório anual sobre o segmento HRSA 2019 Global, a indústria de saúde e bem-estar global alcançou um crescimento de 12% nos últimos quatro anos, tendo as Américas e a Europa como protagonistas nesses resultados.
Apenas na América Latina, a receita arrecadada pelo setor em 2018 foi de $ 5,8 bilhões e o potencial de crescimento ainda é classificado por Diament como “gigantesco”. No mercado brasileiro, esta realidade não poderia ser diferente e o empresário explica por que citando dados de uma pesquisa realizada pela Deloitte e comissionada pelo Gympass sobre as oportunidades neste segmento no país. “Só para mostrar como os conselhos de empresas estão colocando agenda nisso, 78% dos departamentos de RH hoje planejam aumentar o investimento em programas de atividade física, é um número muito alto. Quando você olha para para lugares de saúde e fitness, 44% dizem que não tem capacidade de aproveitar ao máximo a oportunidade corporativa de bem-estar, ou seja, precisam da ajuda de alguém para que essa oportunidade vire realidade. 92% desses centros acreditam que bem-estar corporativo é uma maneira de aumentar a receita e 56% acham que é uma oportunidade de crescimento gigantesca. Então, assim você vê que existe na verdade uma cadeia super importante alinhada com nosso propósito e o nosso modelo de negócio”, afirma.
E com a ascensão do mercado, naturalmente mais competidores são atraídos para o segmento, como o ClassPass, empresa americana que tem parceria com gigantes da tecnologia como Google e Facebook nos EUA e que chegou ao Brasil no final de 2019 prometendo que o país seria apenas o primeiro da lista de expansão para a América Latina.
Com atuação no México, Chile e Argentina, além do Brasil, país sede da empresa, Gustavo Diament reforça a importância do fortalecimento da marca na região e consolidação do Gympass em cada um desses países latino-americanos, considerando os diferentes estágios de cada mercado, é um dos principais objetivos da empresa. “A gente quer fortalecer muito a nossa presença nesses mercados, principalmente fora dos grandes centros onde já estamos muito fortes, através de novos canais e vendas SMB. Ou seja, queremos continuar forte em São Paulo e Rio, mas ir muito além disso. Continuar forte em DF, mas ir muito além disso”, afirma revelando uma das maiores apostas da empresa para seguir aumentando seu share de mercado: as parcerias com pequenas e médias empresas, principalmente nas cidades do interior. A plataforma SMB por enquanto está disponível apenas para o Brasil.
“É um canal relativamente novo pra gente ainda, mas já estamos com nosso piloto voando aqui no Brasil, fazendo um número expressivo de vendas, e totalmente self-service. A pessoa da empresa que entra consegue fazer todo o funil sozinha, sem contato humano nenhum. Não tem jeito da gente fazer que a nossa missão seja massificada e pulverizada sem entrar fortemente nos SMB’s” e complementa afirmando que o foco neste segmento corporativo é “um dos principais pilares para a nossa expansão em 2020”.
Ainda assim, Diament considera a chegada de novos concorrentes como um aspecto positivo para o segmento de modo geral. “A concorrência é sempre bem-vinda e isso é sempre melhor para os clientes finais, então acho positivo, mas como eu te disse, o sedentarismo é tão grande que o grande concorrente ainda é o sofá”.
A inteligência artificial como arma secreta
Com um portfólio de parceiros bem estabelecido e um plano de expansão consistente, o Gympass investe agora em melhorar a cada dia mais a experiência dos usuários com o produto, não apenas em relação a aspectos como velocidade e usabilidade, mas sim aplicando inteligência artificial em favor do negócio.
“Recentemente, compramos a Flaner, uma startup de inteligência artificial em Portugal, e estamos criando um hub de tecnologia em Lisboa, além disso nós também criamos um hub de inteligência artificial em Nova York”, afirma Diament. “A inteligência artificial é para usar algoritmos para que as pessoas encontrem uma atividade física que elas gostem. É muito normal ouvir alguém falando que não vai para a academia, porque não gosta de musculação ou natação. Nós temos mais de 800 opções de atividades físicas e os algoritmos podem ajudar muito pra que essa experiência de interagir com a plataforma e rapidamente encontrar uma atividade que a pessoa goste seja possível”.
A startup foi criada em 2018 por brasileiros em Portugal e tinha como missão original a criação de uma ferramenta que ajudasse turistas a explorarem melhor novas cidades. Após a aquisição, o produto voltado ao mercado de turismo será deixado de lado para que o time concentre-se nos objetivos do Gympass. A movimentação é apontada como uma das principais estratégias para a expansão global do unicórnio brasileiro.
Missão para 2020
Alcançar em 2019 o valor de mercado de $ 1 bilhão foi apenas o começo da trajetória para o Gympass e a empresa agora mira muito mais alto. Além de consolidar-se nos países latino-americanos, a empresa aposta também na diversificação do portfólio de empresas parceiras, com maior participação dos órgãos governamentais entre seus clientes. “No Brasil, já trabalhamos fortemente com o governo, recentemente ganhamos uma licitação para a Petrobras e a gente trabalha com a AFPESP, a Associação dos Servidores Públicos do Estado de São Paulo. No México, existe a norma 35 que faz com que não só o governo, mas também as empresas tenham responsabilidade geral pelo bem-estar dos seus trabalhadores. Então o governo na posição de um grande empregador e, mais do que isso, como o órgão que coloca o exemplo e a régua lá em cima, está cada vez mais envolvido com essa agenda de bem-estar. O Gympass é uma plataforma que faz com que essa agenda de bem-estar vire realidade muito rápido. Por isso, temos uma abertura cada vez mais forte com os governos na América Latina”, detalha Gustavo Diament.
Além disso, os planos de expansão da empresa continuam a todo vapor este ano. “Existe um estudo que estamos fazendo para a expansão da empresa para a Ásia, essa expansão é muito importante”, revela Gustavo Diament sem deixar de ressaltar que na América Latina a missão agora é consolidar-se nos quatro mercados em que a marca já está presente.