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Foto: Divulgação/Inter
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Inter escolhe marketplace como operação-chave para abrir as portas do mercado internacional

Na corrida dos super apps, o Inter se vale da expertise de banco digital para atrair (e reter) mais clientes. Em entrevista ao LABS, Rodrigo Gouveia, CEO do Inter Shop, revela a estratégia por trás da operação lançada nos EUA em março

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Na América Latina, o desejo de ser super app ganhou adeptos de todos os tipos. Enquanto grandes companhias de varejo e e-commerce, como Magalu e Mercado Livre, e startups, como o Rappi, agregam serviços financeiros a suas plataformas para aumentar recorrência, tem banco digital fazendo o caminho inverso. O Inter Shop, marketplace do Inter, é não só a maior aposta da empresa para deixar o termo “banco” para trás, como também para ganhar mercados internacionais.

Em março, o banco que virou plataforma bateu a marca de 10 milhões de clientes. No mesmo mês, deu o pontapé inicial em sua expansão internacional, com o lançamento do Inter Shop nos Estados Unidos. “O que estamos olhando agora é o movimento de consumer finance: fazer mais banking e menos banco. O que isso significa na prática? Tudo passa dentro de uma transação financeira,” explica Rodrigo Gouveia, CEO do Inter Shop, em entrevista ao LABS.

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“Eu [empresa] posso ser do segmento de food, delivery ou travel. No final do dia, você é uma empresa financeira que atua num segmento específico”, argumenta. Na lógica de Gouveia, a empresa parece ter uma vantagem competitiva: se, com licença de banco múltiplo desde 2008, o Inter tem expertise em uma série de operações financeiras, por que não se valer dessa estrutura e trazer mais verticais para dentro de casa?

Rodrigo Gouveia, CEO do Inter Shop. Foto: Divulgação/Inter

O Inter Shop habilitou sua plataforma de e-commerce na web para não correntistas do Inter no final de 2020. Até junho deste ano, revela Rodrigo Gouveia, CEO do Inter Shop (foto), o plano é liberar o aplicativo também. A aposta é que, com boa experiência e cashback (que é maior para correntistas), o usuário do Inter Shop acabe abrindo uma conta no Inter.

“Amadurecemos tanto as nossas ‘avenidas’ de negócio, que a gente entende que o cliente pode chegar de qualquer lugar”.  

Rodrigo Gouveia, CEO do Inter Shop

“Começamos a triangular: temos algo aqui que acaba virando uma plataforma, não é só um banco. É isso que estamos levando para o mercado nos últimos doze meses. Você tem uma conexão [entre as transações] e um mix de proposta de valor em um único app”, ressalta. No total, o Inter se apoia em cinco operações-chave hoje: banking, crédito, investimentos, seguros e e-commerce – essa última, encabeçada pelo Inter Shop, foi lançada há pouco mais de um ano e ultrapassou, no final de 2020, 1,4 milhão de clientes ativos e 9,5 milhões de transações no ano.

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O Inter Shop já conta com parcerias de peso. Amazon, Americanas, Nike e até Magalu são algumas das marcas que usuários encontram navegando pelo marketplace. 

Como funciona o Inter Shop

Dois modelos conectam as marcas de varejo ao e-commerce do Inter. No primeiro, de afiliação, a transação começa no Inter e termina na loja do parceiro, já que o usuário é redirecionado a uma nova página para completar a compra, com direito a cashback que pode chegar a 20% do valor. Hoje, 13 afiliados comissionam o Inter pelas vendas oriundas de sua plataforma, onde, segundo Gouveia, mais de 3 milhões de acessos diários são computados.

No segundo modelo, 73 parceiros, como Renner e Samsung, confiam ao Inter a operação de ponta a ponta: o usuário consegue concluir a compra sem precisar sair do aplicativo. “Começamos primeiro com o modelo de afiliados (…). Na sequência, por meio de uma parceria com a VTEX, fizemos uma junção de importação de catálogo e custos de frete para fazer literalmente o one-click buy, no qual você consegue concluir uma compra dentro do nosso app. Você não precisa criar uma wallet, digitar seu cartão, porque você já está logado no seu banco e todo o trâmite acontece ali,” explica o executivo.

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Além do e-commerce, o Inter já contava com operações como recarga de celular, pagamento de estacionamento rotativo e mais recentemente, os gift cards, que permitem que usuários paguem por serviços como Uber, iFood, PlayStation, Xbox e Free Fire. Sem sair do aplicativo, pode-se ainda abastecer o carro, por meio de uma parceria com a Shell; comprar passagens aéreas em companhias nacionais pela aba do Inter Travel; liberar cancelas de pedágios com o Interpass e acessar uma plataforma de cursos online, a Learn In. “Evoluímos para uma linha de entender o share of wallet [quanto cada cliente gasta regularmente, incluindo gastos com outras marcas, empresas] dos nossos clientes,” resume. 

Acordar e dormir usando o Inter

Para Gouveia, “ninguém acorda e fala: vou me logar no meu banco. Então estamos sempre trazendo serviços que gerem engajamento”. A estratégia parece surtir efeito: no último balanço trimestral, o Inter Shop atingiu 63% de recorrência, o que significa que mais da metade dos clientes que compraram na plataforma durante o quarto trimestre de 2020, já haviam utilizado o serviço nos trimestres anteriores. 

A tão almejada recorrência é o que faz o Inter apostar em mais um serviço: delivery de comida. Em parceria com a startup Delivery Center, a nova operação está em fase de testes em Belo Horizonte, cidade onde o Inter nasceu, e deve chegar a outras capitais ao longo do segundo trimestre. 

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De acordo com Gouveia, só 60% dos pagamentos de serviços de delivery acontecem upfront. Isto é, 40% das pessoas ainda pagam pelo pedido na hora da entrega, passando o cartão na maquininha. “No nosso caso, o cliente vai fazer uma compra diretamente logado dentro do app”. No novo serviço, a princípio destinado a correntistas, Gouveia conta que o Inter também vai oferecer cashback.

A estratégia de internacionalização do Inter Shop

O Inter deu início a sua expansão global ao lançar, no final de março, a plataforma do Inter Shop nos Estados Unidos. Os usuários, que assim como no e-commerce brasileiro não precisam ser correntistas do Inter para comprar na plataforma, já têm acesso a marcas como Macy’s, Best Buy, Wish e AliExpress. O cashback oriundo das compras é depositado pelo Inter, em dólar, na conta de qualquer banco em território americano.

A última operação a ser lançada pela companhia no Brasil, foi também a primeira escolhida para levar a bandeira do Inter mundo afora. “Por uma questão de regulação, pela facilidade e velocidade, a gente escolheu começar com Inter Shop nesse momento. Mas a nossa intenção é, de fato, ter uma proposta de valor de plataforma lá também [Estados Unidos e outros mercados internacionais]”, revela Gouveia.

Com passagens por empresas de tecnologia como TOTVS, Stefanini e UOL Host, a executiva Silvia Blas é quem vai acompanhar a empreitada do Inter em solo americano. Segundo Gouveia, a escolha dos Estados Unidos tem a ver com a maturidade do setor de e-commerce por lá, além da familiaridade dos norte-americanos com a cultura do cashback.

“Os Estados Unidos foram nossa primeira opção pelo tamanho e oportunidade, mas nossa estratégia não nos restringe a um país ou outro. Eventualmente depois dos EUA, queremos entrar em dez ou quinze países de uma vez,” explica o executivo. “Se você expande produto e audiência, isso cria uma escala natural porque o nosso modelo de negocio é tech light. Para escalar, não temos de abrir 50 escritórios em 50 países diferentes.”

Além dos Estados Unidos, o executivo revela que Portugal, por compartilhar o mesmo idioma e por uma posição estratégica que daria acesso aos mercados da Espanha e Inglaterra, também está no radar do Inter. Na América Latina, Argentina, Colômbia e Chile devem ganhar operações do Inter Shop ainda neste ano.

Em 2021, Gouveia revela que a meta da operação de-commerce é triplicar as métricas alcançadas no ano passado. Da receita total de R$ 1,4 bilhão alcançada pelo Inter no fim de 2020 (33,2% a mais que no ano anterior), R$ 63,5 milhões vieram por meio do Inter Shop, que transacionou R$ 1,2 bilhão no ano passado. 

Para chegar lá, o executivo diz que o Inter conta com inteligência de dados: o conhecimento que ganha dos hábitos de consumo e gastos dos clientes, e o cruzamento desses hábitos com ofertas de serviços – financeiros ou não. “Sabemos da oportunidade que existe e temos o cliente sempre no centro. Ganhamos dinheiro mas sabemos da importância de repassar parte desse ganho [através de ofertas como cashback] para o nosso cliente, para ter uma cadeia de valor”.

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