A startup brasileira Intera trabalha com recrutamento e seleção digital. Por meio de um serviço de consultoria para encontrar talentos para startups, como o iFood, EBANX (dono do LABS) e a Creditas, e grandes empresas, como a Ambev e a Alpargatas, a HR tech startup tem revolucionado o modelo tradicional de consultoria de seleção por meio de um “recrutamento hacker”, remunerada por meio serviço por assinatura para empresas.
Essa metodologia, criada pelos co-fundadores da Intera, Paula Morais e Augusto Frazão, fez o índice de assertividade dos processos seletivos chegar a 91%, segundo a própria empresa, e a média de tempo para o preenchimento de uma vaga cair 80% – em média, a Intera leva 16 dias para selecionar e contratar um novo talento para seus clientes.
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A CEO da Intera, Paula Morais, explicou em entrevista ao LABS que o modelo de pagamento por assinatura suavizou o impacto do serviço no orçamento das startups em meio aos cortes e contingenciamentos provocados pela pandemia do novo coronavírus, porque ajudou a diluir esse custo. Num modelo tradicional, as empresas clientes da consultoria pagariam o equivalente ao salário da pessoa contratada pelo serviço.

Isso seria pesado para as empresas financeiramente, já que a Intera seleciona profissionais especialistas em tecnologia, com salários de R$ 8 mil a R$ 15 mil. Agora, a Intera vende créditos para as empresas (10, 20, 50, 100 créditos para contratação, por exemplo) que tem um preço único, independentemente do cargo. “É interessante porque você fecha vaga de especialista para o iFood gastando R$ 5 mil por vaga”, comenta – o app, líder em delivery no país, inclusive, foi um dos clientes da Intera que não congelou contratações, pelo contrário, foi altamente demandado em razão da pandemia e precisou encontrar novos talentos em meio à crise sanitária.
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Sem revelar o montante, a startup conta que viu a receita crescer 280% entre maio e agosto deste ano, comparado ao mesmo período de 2019. A startup funcionou até hoje com capital próprio, mas está em vias assinar seu primeiro aporte Seed. Com uma previsão de crescer mais de 50% até o final de 2020, a empresa deve agregar mais funcionários à equipe, que hoje conta com 55 colaboradores.

Como a Intera começou
Antes da Intera, a co-fundadora Paula Morais fez carreira em e-commerce, empreendendo o primeiro marketplace de aluguel de itens no Brasil. “Eu tinha uma dificuldade dentro de e-commerce de encontrar bons profissionais, não só do ponto de vista técnico, mas do ponto de vista comportamental também, pessoas que entendessem a nova dinâmica desse novo tipo de organização, gestão e metodologia ágil”, diz.
Morais estudou no Canadá e trabalhou em uma escola que formava profissionais para o mercado digital. Ao voltar para o Brasil, resolveu montar uma escola de tecnologia que formava desenvolvedores. “Na escola teve um fenômeno muito interessante, cada 10 alunos que a gente tinha, 8 saíam empregados. Pensei que era algo que valeria explorar. Mudamos o modelo de negócio, e, ouvindo as empresas, percebemos que havia uma oportunidade de mercado no recrutamento de talentos para o mercado digital”, diz, acrescentando que “o mercado estava insatisfeito com as soluções existentes. Consultorias tradicionais de RH, ou HRtechs que resolvem alguma etapa na cadeia, mas finalisticamente não encontra os melhores profissionais para cada empresa”.
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Foi aí que a startup deixou de ser uma escola e passou a ser uma empresa de recrutamento de talentos para o mercado digital. No início de 2019, a Intera lançou o hunt hacking, que é esse serviço de “head hunting hackeado”. “A gente usa uma série de estratégias online e tecnologias para encontrar, atrair e qualificar os melhores talentos para cada vaga de cada empresa”, relata.
A técnica vem dando resultado. “O que a gente faturou nos últimos três meses, faturamos o ano passado inteiro”, conta Morais. “Estamos crescendo em um ritmo acelerado e ajudando startups como iFood e QuintoAndar, que estão despontando no mercado de inovação, mas também grandes empresas em transformação digital”.
Assim como a RD Station foi pioneira na transformação do marketing para o marketing digital, a Intera se vê no mesmo papel dentro do RH. “O RH é quase o outdoor e o panfleto em que é deixado para a sorte encontrar e contratar alguns profissionais, quando na verdade na nossa opinião existe toda uma metodologia, tecnologia, eficiência de dados [para isso]”.
A gente sistematizou a área de recrutamento, conseguindo prever resultados positivos e ser um negócio lucrativo, que cresce a todo momento.
paula morais, co-fundadora e ceo da intera
Embora a Intera se considere uma HRTech, a startup oferece um serviço e não um produto, ainda que use tecnologia para isso. Contudo, a ideia futura é “produtizar o serviço”, colocando na mão dos clientes as ferramentas para que selecionem pessoas como a Intera faz. “Mas ainda somos um serviço, então a empresa contrata a gente como ela contrata uma consultoria. Para fazer o que a gente faz, usamos uma série de tecnologias integradas”, lembra.
Tecnologias que vão desde robôs para encontrar perfis na internet, um plug-in de inteligência para gerir projetos (para impedir que a startup aborde as mesmas pessoas na Internet, por exemplo), além de um plug-in de follow-up dos candidatos automático, integrado com a inteligência artificial da IBM. “Quando o candidato se inscreve, ele passa por uma bateria de triagem com a gente. Uma parte é pelo WhatsApp, então também temos integrações automáticas com o WhatsApp na cadeia”, conta. A startup chegou a fazer uma modelagem de inteligência artificial para aplicar a triagem, mas ainda está aprimorando esse modelo.