Os capitalistas de riscos despejaram mais de US$ 4 bilhões em startups e empresas da América Latina em 2020, em um total 488 negócios – e o ritmo seguiu forte no primeiro trimestre de 2021, segundo mostra o 2021 Review of Tech Investment in Latin America, relatório divulgado nesta quinta-feira pela LAVCA, a Associação para o Investimento de Capital Privado na América Latina.
Nos últimos 12 meses, nasceram seis novos unicórnios latino-americanos e novos recordes foram estabelecidos para o capital total investido no México (US$ 831 milhões) e no Chile (US$ 136 milhões). Também nesse período, investidores globais como Accel, Andreessen Horowitz, General Atlantic, Sequoia Capital, SoftBank e Silver Lake fizeram grandes investimentos de US$ 50 milhões ou mais, e uma nova tendência de veículos focados na diversidade, incluindo WE Ventures da Microsoft, Black Founders Fund do Google for Startups e Semente Preta de Nubank, surgiu.

2020 foi um ano recorde para a região em termos de número de transações, e foi o segundo melhor ano que vimos na história em termos de capital total investido, cerca de 10% menos do que 2019, que foi um ano de sucesso por causa da participação do SoftBank e seu Latin America Fund, de US$ 5 bilhões
Carlos Ramos de la Vega, gerente de capital de risco da LAVCA.
“E, podemos realmente ver a continuação disso em 2021, onde vimos três unicórnios criando rodadas subsequentes nos primeiros três meses deste ano”. Ramos de la Vega observa que o valor total da transação e o número de transações são apenas uma parte da história.
Para ele, a manchete que realmente representa o que foram esses últimos 15 meses é a maturidade contínua do ecossistema latino-americano em termos de aumentos nas saídas (quando os investidores embolsam o retorno financeiro do investimento que fizeram), fusões e aquisições e novas listagens na B3, em contraste com o cenário anterior, de startups brasileiras crescendo rápido e apostando em listagens na NASDAQ ou outras bolsas de valores estrangeiras.
Os seis novos unicórnios de 2020 incluem as brasileiras Loft, Creditas, MadeiraMadeira e VTEX, a uruguaia dLocal e a mexicana Kavak.
De maneira geral, a América Latina viu “um forte impulso em torno dos eventos de liquidez durante o primeiro trimestre de 2021, com aproximadamente US$ 6,9 bilhões representados em duas transações”, descreve o relatório da LAVCA. Houve a venda da RD Station (ex-Resultados Digitais), para a TOTVS por quase R$ 1,9 bilhão, além da venda do AuthO, solução em nuvem de verificação de identidade fundada pelos argentinos Eugenio Pace e Matias Woloski, no valor de US$ 6,5 bilhões para a Okta.
Fintechs mantêm reinado como setor mais investido
Pelo quinto ano consecutivo, as fintechs dominaram os investimentos de risco. Foram US$ 1,63 bilhão (ou 40% do bolo total) para fintechs latino-americanas em 2020. As startups de e-commerce ficaram em segundo lugar com 12% dos negócios (US$ 507 milhões), seguidas por “super apps” (US$ 300 milhões ou 7% do total) e proptechs (US$ 257 milhões ou 6%).
Segundo Ramos de la Vega, “o gap na inclusão financeira na América Latina atraiu muita atenção dos investidores porque eles podem enfrentar o problema de duas maneiras: obter um ótimo ROI – em termos de oportunidade monetária –, e, ao mesmo tempo, fazer o bem.” A lacuna financeira na região afeta principalmente as mulheres desbancarizadas, ressalta ele.
O México, que ocupa o segundo lugar entre os países que mais atraíram investimentos de risco no ano passado, tem sido um “enigma” porque embora tenha tido “sucesso no crescimento de sua economia e integração com os mercados globais, seu nível de inclusão financeira, de 36,9%, é cerca de 20 pontos percentuais menor do que o de outros países com níveis comparáveis de renda per capita, e está muito abaixo do nível de países de renda média-baixa como o Quênia e a Índia. Entre seus pares na América Latina, o México tem o pior desempenho em relação à sua receita”, aponta um relatório do Center for Global Development.
O sócio da Kaszek, Santiago Fossati, observa que “normalmente investimos em pessoas, não em setores”. O fundo com sedes em Buenos Aires e São Paulo fez investimentos significativos em fintechs com foco na democratização de produtos e serviços financeiros nos últimos anos – incluindo empresas como a Creditas, Nubank e Warren.

Sem dúvida, outro foco importante tem sido o comércio eletrônico e principalmente as ferramentas que permitem às pessoas vender online, como a Nuvemshop
Santiago Fossati, sócia da Kazek.
No primeiro trimestre do ano passado, o sócio-gerente da Redpoint eventures, Romero Rodrigues, diz que os gerentes da empresa, com sede em São Paulo, imediatamente entraram em “modo de alerta vermelho”, ficando “mais próximos do portfólio” para entender quanto dinheiro estava disponível, o que precisava mudar para que algumas das investidas sobrevivessem e se envolveram bastante em ajudar suas startups a administrar a crise causada pela pandemia.

Obviamente, os setores que mais se machucaram por causa da COVID-19 foram setores como eventos, alguns ligados à mobilidade num primeiro momento, e turismo. De cara, quem se beneficiou e pegou um vento de cauda muito grande foi e-commerce e logistica em geral – e delivery, que seria essa intersecção do e-commerce com a logistica
Romero Rodrigues, sócio-gerente da redpoint eventures.
Rappi, ABC da Construção, e Olist estiveram entre as startups do portfólio da Redpoint eventures que se saíram muito bem, apesar da pandemia.
Além disso, o setor de tecnologia da saúde foi beneficiado, ressalta Rodrigues. A Memed, uma ferramenta de prescrição eletrônica e que já estava no mercado há muitos anos é um dos exemplos de como o setor ganhou tração em 2020. Durante a pandemia, “todos começaram a usar o Memed porque não havia outra forma de fazer a prescrição de medicamentos”, diz Rodrigues.
“Em tecnologia da saúde, estamos vendo o surgimento ou a normalização da telemedicina como uma plataforma apropriada para fazer pré-diagnósticos”, diz Ramos de la Vega da LAVCA. “Por exemplo, vimos uma rodada de US$ 20 milhões liderada pelo fundo Index Ventures, com sede em São Francisco, em uma empresa chamada Sophia (uma plataforma online que conecta pessoas com terapeutas mentais licenciados), que é a primeira seguradora digital de saúde a ter aprovação para operar.”
Outra health tech brasileira que despontou em 2020 foi a Alice, recebeu uma rodada de US$ 33 milhões, a segunda maior rodada para o setor de tecnologia da saúde na história da América Latina, pontuou Ramos de la Vega. “É uma mudança que acreditamos que veio para ficar, porque vemos rodadas cada vez mais altas de capital indo para esse setor.”
Para ver ou baixar o relatório completo da LAVCA, visite: https://lavca.org/research
Co-escrito pela redação do LABS nos EUA.