A empresa agora se apresenta como “maior ecossistema de compra e venda do país”, apostando pesado no e-commerce, na inovação e nas aquisições para virar um super app
Antes uma varejista que ajudava as donas de casa a mobiliar e equipar seus lares, o Magazine Luiza – na verdade apenas “Magalu” desde 2017 – vem passando por uma grande reformulação. Atualmente, a empresa se posiciona como o “maior ecossistema de compra e venda do país” e, à semelhança do gigante chinês Alibaba, trabalha para se transformar em um super app. Originalmente criado para ser mais um canal de vendas lá em 2015, o app do Magalu vem gradualmente aumentando suas funcionalidades. Mais recentemente, passou a vender até peças de vestuário, itens de higiene e comida.
Com a missão de “digitalizar o Brasil“, o Magalu está transformando suas 1.113 lojas físicas, distribuídas por 819 cidades de 21 estados em centros de distribuição da empresa e de seus sellers.
Os resultados do 1.º trimestre de 2021 falam por si só. O Magazine Luiza registrou um crescimento de 63% nas vendas, alta puxada pelo e-commerce, que saltou 114% em relação ao trimestre anterior e movimentou R$ 8,8 bilhões. Hoje, o e-commerce responde por 70% das vendas totais do Magalu.
LEIA TAMBÉM: Por meio de joint venture com Itaú, Magazine Luiza lança cartão de crédito digital
Apesar do fechamento temporário por causa da pandemia, as lojas físicas também aumentaram seu volume de vendas em 3,7%. Em 2020, as vendas atingiram um total de R$ 43,5 bilhões, um crescimento de 59,6% sobre o ano anterior. Isso tudo prova que a aposta na digitalização foi certeira.
Em uma entrevista recente à revista Exame, o CEO do Magalu, Frederico Trajano, disse que as empresa espera crescer nos moldes do Alibaba, o gigante chinês que conseguiu, efetivamente, se transformar em um sistema operacional completo de varejo. O executivo atua como CEO da empresa desde 2016, e tem como objetivo de inverter totalmente a lógica da empresa: de varejista tradicional com forte presença digital para plataforma digital provida de pontos físicos. Ele é filho de Luiza Helena Trajano, que ficou mais de 25 anos à frente da empresa.
Super app Magalu e suas pretensões de “Alibaba brasileiro”
Varejo, conteúdo e entretenimento são três áreas cujos limites começam a se cruzar no Brasil, e o objetivo dos super apps é mesmo a congruência dessas três esferas. O que se espera é que o consumidor tenha acesso a uma experiência de compra sem nenhum obstáculo. A ideia é que, enquanto troca mensagens ou assiste a uma live, o consumidor possa, com um clique ou dois, efetuar uma compra ou contratar um serviço.
A compra de startups agiliza o processo de desenvolvimento desse super app. O Brasil é conhecido por produzir empresas de tecnologia em grande volume e qualidade. O que o Magalu tem feito é agregar essas equipes e colocá-las para trabalhar nas diferentes camadas do desenvolvimento do seu ecossistema. No último dia 8 de junho, a empresa fez sua sétima aquisição de 2021: a processadora de cartões de débito e crédito em nuvem Bit55. Segundo comunicado da empresa à imprensa, a plataforma chega para reforçar as operações da Hub Fintech, instituição de pagamentos adquirida no ano passado por meio da subsidiária Magalu Pagamentos e que é fundamental para a expansão dos serviços financeiros do Magalu.
LEIA TAMBÉM: Gigantes varejistas da América Latina lideram corrida para virar super app
As aquisições do Magalu até aqui
As aquisições do Magazine Luiza começaram no ano 2000, quando a companhia lançou seu site de comércio eletrônico. As primeiras redes compradas foram as Lojas Líder, Lojas Base, Kilar e Madol. Em 2011, o Magazine Luiza entrou para a bolsa de valores. A capitalização ajudou no ciclo de aquisições, que se manteve nos anos posteriores, com a compra de empresa como o Baú da Felicidade, a empresa de logística Logbee, o e-commerce esportivo Netshoes, e o marketplace de livros Estante Virtual.
Depois disso, o ciclo só se intensificou. Só no primeiro trimestre deste ano, o Magalu comprou as plataformas de conteúdo Steal the Look e Jovem Nerd; uma startup de gestão de supermercados, a VipCommerce; duas empresas de delivery, ToNoLucro e GrandChef; e a empresa de tecnologia de busca SmartHint. A compra da Bit55 é a 18ª aquisição de uma série diversificada que começou em 2020.
É um movimento que tem como objetivo a consolidação de um super app, termo que faz referência a plataformas que reúnem uma gama de serviços variados em um só aplicativo. Os serviços incluem rede social, compras, transações financeiras, contratação de serviços e conteúdo – e o que mais vier.
LEIA TAMBÉM: Magazine Luiza e Deezer lançam “Decifrei” para venda de instrumentos musicais
Quem é Luiza Trajano do Magalu
Luiza Helena Trajano é hoje a maior acionista e atual presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza. Ao contrário do que muitos pensam, o nome da rede não vem dela, e sim da sua tia, xará e dona da loja que se tornou uma das maiores empresas do país.
Luiza nasceu e cresceu em Franca, no interior de São Paulo. Desde pequena foi encorajada por sua mãe e tia, duas fortes presenças femininas em sua vida, a trabalhar e conquistar sua independência financeira. Ela começou no varejo. Sua primeira motivação foi aos 12 anos de idade, quando trabalhou no balcão da loja para ter dinheiro para comprar os presentes de Natal que decidiu dar para toda a sua família. Apesar de abrir mão das férias escolares, Luiza achou a experiência enriquecedora. E assim repetiu a dose todos os anos até se formar no Ensino Médio, aos 17 anos. Foi então que ela se tornou oficialmente uma funcionária integral do Magazine Luiza.
A empresária cursou Direito, embora sua primeira opção fosse Psicologia. O curso, porém, não estava disponível em Franca naquela época. Ela se formou em 1972 mas não chegou a praticar a profissão. Luiza já estava muito imersa na rotina do Magazine Luiza, que então estava se expandindo com a compra de lojas na região. Entre os cargos que ela ocupou na empresa estão o de vendedora, gerente de loja, encarregada e compradora. Em 1991 ela foi convidada pela tia para assumir a liderança da rede.
Das 508 empresas atualmente listadas na bolsa de valores de São Paulo, apenas 165 têm pelo menos uma mulher no conselho de administração. Apenas nove possuem três mulheres nos conselhos. Uma dessas exceções é o Magalu.