Criada por executivos do setor financeiro e de inovação ex-XP, a startup de calçados Yuool, já usada por muitos que pisam as calçadas e os halls dos prédios da Avenida Faria Lima, em São Paulo, está ampliando seu portfólio e preparando a entrada no mercado norte-americano.
A empresa faturou próximo de R$ 12 milhões em 2021 (70% acima do registrado no ano anterior) e quer dobrar esse resultado em 2022.
Eduardo Rocha, um dos sócios-fundadores da marca — ao lado de Pedro Englert, Mateus Schaumloffel e Eduardo Glitz —, diz que, diferentemente do que previam os executivos das marcas estrangeiras com quem ele conversou lá no início da empresa, os brasileiros foram atraídos pelo conforto e aparência dos calçados de lã merino, matéria-prima que faz sucesso em países de clima mais frio.

“Vimos um movimento muito grande fora do Brasil, nos Estados Unidos e Europa, de calçados feitos de lã merino, e tentamos trazer esses players, que não aceitaram dizendo que o produto não venderia no Brasil. Tomamos esse desafio para nós, fizemos parceria com o setor calçadista e ficamos um ano desenvolvendo o produto”, conta o executivo.
Quatro anos depois da prototipagem do primeiro calçado, a Yuool diz já ter vendido 100 mil pares.
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Rocha diz que uma das barreiras para fazer do calçado de lã merino um sucesso por aqui era o custo, mas que foi possível reduzi-lo com a eliminação de intermediários ao longo de toda a cadeia. Para reduzir o custo da operação, a Yuool internalizou o controle da matéria-prima e o desenvolvimento do produto, além de concentrar 90% das vendas no e-commerce próprio, onde a empresa detém os dados do cliente para aprimorar as estratégias de marketing.
“Se a gente fosse uma rede de varejo tradicional, teria que vender por R$ 800 no Brasil. Só que a gente acaba vendendo por R$ 450 porque não tem intermediários”, aponta o executivo. A internalização de todo o processo traz desafios para a Yuool, mas também permite atender nichos de mercado, difíceis de serem alcançados pelos grandes players.
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Mas o que começou com a lã de merino agora já se estende para criações que usam também compostos de garrafas pet recicladas e algodão orgânico. As linhas Home e Fit, ambas novidades de 2021 e desenvolvidas com esses novos materiais, foram responsáveis por 43% e 22%, respectivamente. A escolha favorita dos compradores no ano que passou foi o Yuool Fit Nero, que representou 13,32% das vendas.
Os gigantes dispõem de forças que tornam nosso trabalho cada vez mais difícil, principalmente o grande volume para preços competitivos. Por isso que a gente não batalha por preço, mas por entregar um produto realmente diferenciado
Eduardo Rocha, sócio-fundador da YUOOL.
Com isso, relata o executivo, a Yuool consegue conversar com outros públicos que orbitam esse mundo da inovação e ampliar a base de clientes para além dos colegas da Faria Lima.
Os calçados viraram um mimo comum que algumas das empresas da região passaram a dar a seus colaboradores. As vendas no atacado para corporações como Uber, XP, GBM, BTG, Inter e Manchester Investimentos representaram 10% dos ganhos da Yuool em 2021.
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Neste ano, a Yuool pretende lançar novos produtos de moda e vestuário, deixando de ser uma marca especializada em calçados. “Vamos desenvolver novas frentes de produtos”, diz o executivo. A ideia é tornar-se uma grife especializada “na entrega de itens de conforto e qualidade ligados ao bem-estar”, completa.
Outra iniciativa para 2022 é a expansão das fronteiras. A marca pretende fazer a ponte “Faria Lima-Vale do Silício” acontecer e deve começar a vender, já em março, seus produtos na Amazon americana. “Nosso objetivo é chegar aos norte-americanos porque acreditamos que nossos produtos conseguem competir com os deles”, avalia Rocha.
Para isso, a empresa planeja investimentos que podem chegar a R$ 4,5 milhões, três vezes mais do que estava planejado inicialmente para 2022. A perspectiva é que um quarto disso seja direcionado para o mercado americano, mas Rocha afirma que o tamanho do aporte ainda não está fechado.
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No Brasil, a ideia é somar mais três ou quatro lojas físicas, incluindo a primeira no Rio de Janeiro, às três já existentes instaladas em São Paulo, Porto Alegre e Gramado.
Com as novas empreitadas, além de dobrar a receita, Rocha espera que a empresa sustente o crescimento no mercado internacional, que em 2021 foi de 127% (alta também impulsionada pelo real desvalorizado), com vendas na Itália e Portugal.
O desafio maior, diz ele, é seguir abraçando novos públicos, ampliando o leque de produtos e incomodando os grandes do setor. “As gigantes sabem da existência da Yuool, e, em alguns casos, não gostam disso. A gente precisa continuar se protegendo, e acreditando que nosso propósito é mais forte.”