Méliuz
Luciano Valle, diretor de RI do Méliuz. Foto: Breno da Matta
Negócios

Entrevista: Méliuz expande para serviços financeiros para ampliar recorrência de base de 16 milhões de usuários

Com valuation de R$ 4,5 bilhões, plataforma de cashback já valorizou mais de 300% desde o seu IPO no ano passado e agora investe em um novo ecossistema de serviços financeiros

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O Méliuz anunciou na última semana a aquisição da fintech Acesso por R$ 324,5 milhões. Em março, lançou seu marketplace de crédito. Em fevereiro, comprou o Picodi, plataforma internacional de e-commerce, por R$ 120 milhões. Com as aquisições e lançamentos, o Méliuz avança em sua estratégia de expansão para se consolidar como um ecossistema que oferece muito mais do que cashback e cupons de descontos – produtos que popularizaram a startup -, o que passa pela ampliação do portfólio de serviços financeiros e internacionalização.

O Méliuz se define como uma empresa de tecnologia que oferece uma plataforma de soluções digitais para conectar marcas, produtos e serviços a consumidores. Hoje, o Méliuz tem uma base de 16 milhões de usuários, dos quais 7,1 milhões, em média, são ativos mensalmente. O volume de vendas gerado para os mais de 800 parceiros do marketplace, de março 2020 a março 2021, foi de R$ 3 bilhões. Desse montante, cerca de 6% fica com o Méliuz, que retira daí o cashback que retorna para seus usuários. 

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Embora o core-business do Méliuz continue sendo o marketplace, o diretor de Relações com Investidores, Luciano Valle, explica a empresa caminha para ser uma empresa cujas ações são focadas em sua base de usuários. Por isso, desde 2019, atua para expandir a plataforma para um novo ecossistema de serviços financeiros.

O objetivo é atender demandas da base de usuários que ainda não conseguimos atender e gerar recorrência. Entendemos que precisávamos diversificar para continuar crescendo. Vimos dois caminhos: internacionalizar e expandir para serviços financeiros. Estamos percorrendo os dois.

LUCIANO VALLE, DIRETOR DE RELAÇÕES COM INVESTIDORES DO MÉLIUZ

Próxima parada: conta digital 

A primeira empreitada em serviços financeiros foi o cartão de crédito sem anuidade e com cashback de até 1,8% do valor das compras pagas com ele. O cartão é uma parceria com o Banco Pan e o Méliuz atua gerando leads para o banco, recebendo comissão por cada cartão ativado. 

“Antes do IPO, chegamos ao product-market fit e escalamos o produto. Vimos um crescimento exponencial de solicitações. O cartão acabou sendo uma porta de entrada para novos usuários para nossa plataforma”, conta Valle. Somente no quarto trimestre de 2020, foram emitidos 1,4 milhão de novos cartões.

Sede do Méliuz em Manaus, Amazonas. Foto: Divulgação

Em abril, o Méliuz ampliou a gama de serviços financeiros com uma plataforma de empréstimos, que é uma espécie de marketplace no qual o usuário consegue simular um empréstimo em dezenas de instituições financeiras de maneira personalizada e gratuita. O próximo passo é possibilitar que o contrato do empréstimo seja firmado dentro do ambiente Méliuz.

O passo mais ousado, no entanto, será o lançamento da conta digital Méliuz para reter o usuário nesse ecossistema financeiro. Segundo Valle, tudo ainda está em fase de estudo – mas vai acontecer. 

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“Se eu ofereço uma experiência de conta digital dentro do Méliuz, meu usuário pode usar o cashback dentro dessa conta; eu posso criar formas de bonificar esse saldo; ele poderá fazer pagamentos, transferências. Eu gero uma recorrência maior do que a que eu tenho hoje e agrego mais valor à plataforma.”

De acordo com Valle, o Méliuz planeja expandir com um portfólio completo de produtos financeiros, seja por meio de parcerias, como já acontece com o cartão de crédito e o marketplace de empréstimos; seja de forma proprietária, que deverá ser o caso da conta digital, a propósito da aquisição da fintech Acesso.

Internacionalização

O primeiro passo rumo à internacionalização de suas operações foi dado em fevereiro, com a compra do Picodi, a primeira depois do IPO (que levantou mais de R$ 360 milhões). O Picodi também trabalha com cupons de desconto e códigos promocionais e opera em 44 países, conectando mais de 12 mil lojas on-line a uma média de 4 milhões de usuários ativos mensais. 

Valle explica que o objetivo do Méliuz é combinar sua tecnologia à presença internacional do Picodi, escalando as operações internacionalmente.

O Picodi vai ser nossa marca para atuar internacionalmente. Eles já têm o tráfego e a conexão com uma grande rede de lojistas. Mas o Picodi não tem o usuário cadastrado e o cashback. Colocando o cashback no Picodi, vamos replicar o Méliuz em 44 países.

Luciano valle, diretor de relações com investidores do méliuz

Altos e baixos na pandemia

Basta dar uma olhada nos resultados do Méliuz: 2020 foi o melhor ano da empresa até aqui. Mas não por causa da pandemia, apesar do boom visto no e-commerce. O primeiro impacto foi negativo, diz Valle, principalmente porque o setor com maior crescimento no marketplace do Méliuz foi o mais afetado pela pandemia, o de viagem e turismo. Além disso, o efeito inicial do boom do e-commerce foi uma queda nos investimentos em campanhas de geração de vendas, já que o fluxo de clientes estava alto. 

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O novo volume de clientes no varejo online também não significou uma alta expressiva nas vendas geradas pelo Méliuz. Isso porque os novos entrantes não iniciam sua jornada no e-commerce já usando cupons e cashback, diz Valle. 

“Ele precisa passar por outras etapas antes, como ficar confortável para pagar com o cartão; ficar seguro de que vai receber o produto; de que vai poder trocar… Ele vai passar por várias experiências antes de buscar o cupom e o cashback. É aí que ele chegará no Méliuz. Essa onda ainda não bateu aqui, mas vai bater ao longo desse ano e do próximo, por isso estamos muito otimistas.”

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