O Méliuz anunciou na última semana a aquisição da fintech Acesso por R$ 324,5 milhões. Em março, lançou seu marketplace de crédito. Em fevereiro, comprou o Picodi, plataforma internacional de e-commerce, por R$ 120 milhões. Com as aquisições e lançamentos, o Méliuz avança em sua estratégia de expansão para se consolidar como um ecossistema que oferece muito mais do que cashback e cupons de descontos – produtos que popularizaram a startup -, o que passa pela ampliação do portfólio de serviços financeiros e internacionalização.
O Méliuz se define como uma empresa de tecnologia que oferece uma plataforma de soluções digitais para conectar marcas, produtos e serviços a consumidores. Hoje, o Méliuz tem uma base de 16 milhões de usuários, dos quais 7,1 milhões, em média, são ativos mensalmente. O volume de vendas gerado para os mais de 800 parceiros do marketplace, de março 2020 a março 2021, foi de R$ 3 bilhões. Desse montante, cerca de 6% fica com o Méliuz, que retira daí o cashback que retorna para seus usuários.
Embora o core-business do Méliuz continue sendo o marketplace, o diretor de Relações com Investidores, Luciano Valle, explica a empresa caminha para ser uma empresa cujas ações são focadas em sua base de usuários. Por isso, desde 2019, atua para expandir a plataforma para um novo ecossistema de serviços financeiros.
O objetivo é atender demandas da base de usuários que ainda não conseguimos atender e gerar recorrência. Entendemos que precisávamos diversificar para continuar crescendo. Vimos dois caminhos: internacionalizar e expandir para serviços financeiros. Estamos percorrendo os dois.
LUCIANO VALLE, DIRETOR DE RELAÇÕES COM INVESTIDORES DO MÉLIUZ
Próxima parada: conta digital
A primeira empreitada em serviços financeiros foi o cartão de crédito sem anuidade e com cashback de até 1,8% do valor das compras pagas com ele. O cartão é uma parceria com o Banco Pan e o Méliuz atua gerando leads para o banco, recebendo comissão por cada cartão ativado.
“Antes do IPO, chegamos ao product-market fit e escalamos o produto. Vimos um crescimento exponencial de solicitações. O cartão acabou sendo uma porta de entrada para novos usuários para nossa plataforma”, conta Valle. Somente no quarto trimestre de 2020, foram emitidos 1,4 milhão de novos cartões.

Em abril, o Méliuz ampliou a gama de serviços financeiros com uma plataforma de empréstimos, que é uma espécie de marketplace no qual o usuário consegue simular um empréstimo em dezenas de instituições financeiras de maneira personalizada e gratuita. O próximo passo é possibilitar que o contrato do empréstimo seja firmado dentro do ambiente Méliuz.
O passo mais ousado, no entanto, será o lançamento da conta digital Méliuz para reter o usuário nesse ecossistema financeiro. Segundo Valle, tudo ainda está em fase de estudo – mas vai acontecer.
“Se eu ofereço uma experiência de conta digital dentro do Méliuz, meu usuário pode usar o cashback dentro dessa conta; eu posso criar formas de bonificar esse saldo; ele poderá fazer pagamentos, transferências. Eu gero uma recorrência maior do que a que eu tenho hoje e agrego mais valor à plataforma.”
De acordo com Valle, o Méliuz planeja expandir com um portfólio completo de produtos financeiros, seja por meio de parcerias, como já acontece com o cartão de crédito e o marketplace de empréstimos; seja de forma proprietária, que deverá ser o caso da conta digital, a propósito da aquisição da fintech Acesso.
Internacionalização
O primeiro passo rumo à internacionalização de suas operações foi dado em fevereiro, com a compra do Picodi, a primeira depois do IPO (que levantou mais de R$ 360 milhões). O Picodi também trabalha com cupons de desconto e códigos promocionais e opera em 44 países, conectando mais de 12 mil lojas on-line a uma média de 4 milhões de usuários ativos mensais.
Valle explica que o objetivo do Méliuz é combinar sua tecnologia à presença internacional do Picodi, escalando as operações internacionalmente.
O Picodi vai ser nossa marca para atuar internacionalmente. Eles já têm o tráfego e a conexão com uma grande rede de lojistas. Mas o Picodi não tem o usuário cadastrado e o cashback. Colocando o cashback no Picodi, vamos replicar o Méliuz em 44 países.
Luciano valle, diretor de relações com investidores do méliuz
Altos e baixos na pandemia
Basta dar uma olhada nos resultados do Méliuz: 2020 foi o melhor ano da empresa até aqui. Mas não por causa da pandemia, apesar do boom visto no e-commerce. O primeiro impacto foi negativo, diz Valle, principalmente porque o setor com maior crescimento no marketplace do Méliuz foi o mais afetado pela pandemia, o de viagem e turismo. Além disso, o efeito inicial do boom do e-commerce foi uma queda nos investimentos em campanhas de geração de vendas, já que o fluxo de clientes estava alto.
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O novo volume de clientes no varejo online também não significou uma alta expressiva nas vendas geradas pelo Méliuz. Isso porque os novos entrantes não iniciam sua jornada no e-commerce já usando cupons e cashback, diz Valle.
“Ele precisa passar por outras etapas antes, como ficar confortável para pagar com o cartão; ficar seguro de que vai receber o produto; de que vai poder trocar… Ele vai passar por várias experiências antes de buscar o cupom e o cashback. É aí que ele chegará no Méliuz. Essa onda ainda não bateu aqui, mas vai bater ao longo desse ano e do próximo, por isso estamos muito otimistas.”