Carlos Naupari e Edouard de Montmort, fundadores e co-CEOs da Velvet
Carlos Naupari e Edouard de Montmort, fundadores e co-CEOs da Velvet. Foto: Divulgação.
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Com a missão de criar um mercado secundário de ações de startups, Velvet capta US$ 200 milhões

Receber investimento de outros fundadores é ótimo, mas bom mesmo é poder negociar seu pedacinho de empresa antes do IPO. É nisso que acreditam os cofundadores da Velvet, Carlos Naupari e Edouard de Montmort. Eles explicaram para o LABS como farão isso

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A Velvet, plataforma de compra e venda de “ativos ilíquidos” de venture capital (leia-se stock options), acaba de captar US$ 200 milhões (R$ 1,05 bilhão). Não é uma rodada de equity, mas um dinheiro repassado por fundos que já apostaram na startup para que a plataforma faça suas primeiras aquisições e forme seu portfólio inicial. Ao longo de janeiro, cerca de US$ 30 milhões (R$ 165 milhões)desse montante já foram usados, para a aquisição de participaçoes oriundas de ex-colaboradores da Nuvemshop, unicórnio latino-americano do e-commerce, da CrediJüsto, a maior fintech de crédito do México, e do Open, maior banco digital da Índia.

O lançamento oficial da plataforma, antes previsto para o segundo trimestre deste ano, será adiantado para março e os detalhes dessas primeiras operações também serão divulgados na ocasião.

A ideia por trás da Velvet é mais simples do que parece: permitir que empreendedores e investidores de capital de risco possam vender e comprar pedacinhos de ações que recebem ao investir ou trabalhar em uma startup por meio de uma plataforma de fracionamento desses ativos.

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No fim do dia, o que a plataforma vai criar é um mercado secundário de stock options porque, como explicam os fundadores e co-CEOs Carlos Naupari e Edouard de Montmort, receber um aporte de fundadores e outros empreendedores experimentados é ótimo, mas bom mesmo é poder negociar seu pedacinho de empresa antes do IPO, seja para abrir o seu próprio negócio ou simplesmente gerar liquidez para qualquer outro propósito.

“Depois de três, quatro anos, o empreendedor tem ali 3%, 6% de uma ou mais empresas. Mas é tudo no papel. Se a família dele crescer ou ele tiver uma ideia genial para um novo negócio próprio ele não terá o dinheiro dipsonível para usar. Em mercados mais maduros, como os Estados Unidos, isso já é possível. O colaborador negocia parte das stock options que possui, segundo condições pré-estabelecidas, fazendo dinheiro de verdade, para aplicar como quiser, antes que a empresa faça um IPO ou seja adquirida, que são dois dos poucos eventos onde os investidores têm, efetivamente, a oportunidade de sair”, exemplifica Naupari.

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Peruano, filho de um executivo da indústria do petróleo, Naupari é formado em Economia e Relações Internacionais pela University of Virginia, nos Estados Unidos, onde ele começou sua trajetória profissional no banco de investimentos UBS. No seu currículo ainda constam experiências como country manager da Easy Taxi no México, sócio da Rokk3r em Miami, e CEO da Fligoo no Brasil. Ele e o sócio Montmort, que é cofundador de outras startups e conselheiro do fundo KPTL, querem dar uma sacudida nos ecossistemas emergentes.

A gente tá falando da aquisição de blocos de ações de 10 a 100 colaboradores investidores. Se a gente falar que a média é de 40, vai, olha o potencial de novas empresas surgindo

Edouard de Montmort, COFUNDADOR E CO-CEO DA VELVET.

Ele explica também que o alvo da Velvet são empresas com valor de mercado de, no mínimo, US$ 500 milhões e que receberam rodadas de grandes fundos locais e globais – a faixa ideal, aliás, vai até US$ 2 bilhões, já que é onde ele acredita ser possível fazer uma boa negociação, obter bons retornos, tudo ainda com riscos mitigados. Os tickets médios variam entre R$ 25 milhões e R$ 50 milhões (US$ 5 milhões e US$ 10 milhões). O valor mínimo de investimento seria US$ 50 mil.

Quando questionado sobre se a América Latina, mais especificamente o Brasil, já está madura o suficientemente para also assim, Naupari é taxativo: “Com toda a certeza e temos até data para isso: 9 de dezembro de 2021, data do IPO do Nubank na NYSE.” Ele explica que, localmente, o empreendedor já consegue atrair investidores – regionais e globais – para todos os estágios de desenvolvimento e que a listagem pública do maior banco digital da América Latina é a coroação desse amadurecimento.

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O Nubank também mostrou que é possível construir uma empresa de classe mundial com talentos locais. Quando acontece o excesso de capital como estamos tendo agora, acaba que o capital vira commoditie mas o importante mesmo é o código, a tecnologia. A América Latina precisa formar ao redor de 100 mil engenheiros por ano, segundo a General Atlantic, e não só para as startups, mas só estamos graduando 40 mil. A guerra agora é por talento e nisso a Velvet também será um parceiro crucial.

CARLOS NAUPARI, COFUNDADOR E CO-CEO DA VELVET.

A empresa vai começar com um modelo B2B2C, oferecendo a plataforma para bancos digitais, gestoras e family offices via API, mas quer ir bem além disso. “O Nubank é o primeiro grande exemplo de pessoas que toparam um pacote de salário menor com stock options e que se tornaram milionários. Estamos desenhando a quatro mãos, com outros fundadores, um programa que possa ser usado já na hora de atrair o talento para dentro da startup. Além de stock options, o CEO vai mostrar que a empresa é credenciada à Velvet e que, dentro de determinadas condições, essa pessoa vai poder vender sua participação e gerar liquidez antes de um grande evento como um IPO. Seremos provedores de tecnologia de oferta secundária para essas empresas”, salienta Montmort.

Eles não abrem quais empresas estarão na plataforma além das três já citadas, mas falam frequentemente em “43 das startups mais valiosas” dos mercados emergentes, e em um roteiro para investir, nos próximos 12 meses, em pelo menos 40: 20 na América Latina, 10 na Índia, oito no Sudeste Asiático e cinco na África.

É mais do que provável que algumas das startups envolvidas na rodada semente da startup de R$ 17 milhões, levantada em dezembro, estejam na lista. Liderada Global Founders Capital (GFC), a rodada teve a participação da HeadlineYolo InvestmentsArmyn Capital e de co-fundadores de empresas como Nubank, Hashdex, Nomad, Favo, LocusCarbon, entre outras.

“Como as empresas permanecem privadas por muito tempo antes de partir para o IPO, são necessárias outras trilhas de liquidez. Um mercado secundário alinhado aos interesses das startups e seus pools de talentos são fundamentais para a evolução do ecossistema da América Latina. E a única maneira de fazer isso [constuir essas novas trilhas de liquidez real] é mostrando os ‘founders’ do bem, ou seja, que vão permitir que esse tipo de operação aconteça, e os novos negócios que surgirão disso”, reforça Naupari.

O grande objetivo da Velvet, explícito na descrição da empresa, é ser a maior plataforma de mercado secundário para os mercados emergentes. Uma nova rodada de equity deve ser anunciada pela plataforma ainda neste primeiro semestre de 2022.

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