João Kepler, co-fundador e CEO da Bossanova Investimentos, sua firma de capital de risco, era só sorrisos no dia 8 de março. Ele estava com algum sócios em Nova York, na célebre Times Square, quando o telão na fachada do prédio da Nasdaq, a bolsa norte-americana de empresas de tecnologia, exibiu o logo da sua empresa em celebração a um feito para poucos: 1 mil startups investidas.
“A gente fez um plano em 2015, estruturado em 2016, de investir em mil empresas. A gente praticamente abriu a Bossanova com esse plano”, relembra ao LABS News.
No plano original, porém, o milésimo investimento deveria ter acontecido no final de 2020, e não em março de 2022. E nem foi por causa da pandemia — evento que, na realidade, acelerou os investimentos. “Foi porque a gente subestimou, achou que ia conseguir e não conseguiu”, confessa o empresário.

Para chegar a um volume tão grande de startups investidas, a Bossanova adotou uma estratégia bem definida: investir em startups que acabaram de nascer.
Os estágios e valores com que a Bossanova trabalha são os seguintes:
- Anjo: R$ 65 a R$ 160 mil.
- Pré-seed (o mais popular): R$ 160 mil a R$ 1,5 milhão.
- Seed: R$ 1,5 milhão a R$ 3 milhões.
Os R$ 2 milhões injetados na Privacy Tools, a milésima startup no portfólio da Bossanova, são um valor próximo do teto da gestora e, ao mesmo tempo, um valor relativamente baixo no mercado. Em 2021, o valor médio dos cheques recebidos por startups no Brasil foi de US$ 13,7 milhões (cerca de R$ 63,7 milhões).
“Ao invés de investir em menos empresas cheques maiores, decidimos investir em mais empresas com cheques menores”, conta João. A Bossanova trabalha com o que ele chama de “tese da opcionalidade”: “Estou entrando pequeno, comprando uma opção, e se esse negócio crescer eu posso aumentar [o investimento], entrar como sócio ou até mesmo vender a minha participação.”
E não qualquer startup. Estão no radar empresas B2B ou B2B2C com modelos de negócios escaláveis e digitais que estejam operando e faturando.
Há quem encare com ceticismo a tese, conhecida no meio como “spray and pray”, que consiste em pulverizar capital em centenas de startups, o que implica em uma carga de trabalho maior para um potencial de retorno menor. Até agora ela tem funcionado para a Bossanova, que administra um portfólio avaliado em R$ 6,5 bilhões e tem 63 saídas (“exits”) no currículo.
Tanto é assim que a firma está dobrando a aposta. A chegada à marca de mil startups investidas desencadeou uma espécie de expansão verticalizada da Bossanova, com novas áreas criadas em educação, finanças e comunicação.
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Só nas últimas semanas, a Bossanova, que já tinha a Bossa Academy, seu braço educacional, lançou o BossaBank, um banco voltado a empreendedores e investidores, criado nos moldes do Silicon Valley Bank, do Vale do Silício; realizou o Bossa Summit, um grande evento de startups em São Paulo; e comprou o Startupi, publicação pioneira na cobertura do ecossistema de startups brasileiras.
A marca de mil startups deu um relaxamento. O impossível virou possível, o improvável virou certeza. A gente viu que isso era possível, então nós resolvemos partir para ampliar os nossos serviços através dessas unidades de negócios.
João Kepler, co-fundador e CEO da Bossanova
Na prática, a Bossanova está se transformando em um hub. “Percebemos que, conforme vamos aumentando o número de startups e de investidores, existem serviços agregados que você tem que prestar a esses públicos. Tudo que for importante para o mercado brasileiro de startups, a gente vai estar por dentro, estaremos participando.”
A construção desse hub ainda não está finalizada. Sem revelar detalhes devido a contratos de confidencialidade, João afirma que a próxima novidade da Bossanova deve ser anunciada já no final de maio.
Ainda que não tenha uma nova meta de startups investidas definida, a Bossanova continua aumentando seu portfólio. Na conversa com o LABS, João puxou o número atualizado: 1.190, um crescimento de quase 20% pouco mais de um mês após a celebração na Times Square.
Para manter o ritmo, a aposta da Bossanova é na formação de novos investidores. Em entrevistas a outros veículos, João manifestou o desejo de tornar sua empresa a “XP das startups”, em alusão à XP de Guilherme Benchimol e cia., que há duas décadas aposta na educação do investidor brasileiro para alavancar os serviços da corretora.
Ciente de que o investimento em startups é de alto risco e das peculiaridades do Brasil, um país relativamente pobre onde a poupança ainda é campeã de popularidade, ele acredita que o trabalho da Bossa Academy e do hub da Bossanova poderá fazer a diferença para mudar esse cenário.
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“Não dá para um cara que não sabe que tem esse risco [de investir em startups] entrar nesse tipo de coisa. Não dá. Educação, aprender a investir, é essencial”, reconhece. “Estamos ampliando nossas informações e conteúdos para que, através da educação, ele comece a investir, mais ou menos no modelo que a XP fez lá atrás.”
Pergunto, para finalizar a conversa, como João Kepler espera encontrar a Bossanova daqui a sete anos. “A gente já vai ter feito o nosso IPO lá fora”, diz aos risos. “Seremos maiores que muitos bancos brasileiros, um dos maiores VCs do mundo. Somos o maior da América Latina, em quantidade; queremos ser em valor também. Teremos um valor de mercado gigantesco e muito mais dinheiro para investir cheques até maiores.”