Hernando Rubio, CEO e cofundador da carteira digital colombiana MOVii.
Hernando Rubio, CEO e cofundador da MOVii. Foto: Divulgação.
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Os próximos passos da MOVii, a fintech que é hoje a maior desafiante dos bancões na Colômbia

A fintech é mais conhecida por sua carteira digital de mais 2 milhões de usuários. Mas como instituição de pagamento regulamentada, emissora e adquirente de cartões, a MOVii está no lugar certo e na hora certa para aproveitar a desregulamentação do setor no país. Veja o que o CEO e cofundador Hernando Rubio disse ao LABS

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Na última semana, Hernando Rubio, cofundador e CEO da MOVii, fintech colombiana bastante conhecida pelo seu serviço de carteira digital, que já atende 2,1 milhões de pessoas, conversou com o LABS sobre os planos da startup para os próximos anos. O que começou como um papo sobre metas e o papel da MOVii durante a pandemia, ajudando a entregar auxílio financeiro governamental à população, virou uma aula sobre como a empresa pode ir muito além disso.

Assim como começou a acontecer no Brasil há mais de 10 anos, o sistema financeiro colombiano está apenas desabrochando, com novos serviços sendo introduzidos e antigos arranjos, como o de adquirência, sendo gradativamente desregulamentados, abertos para novos entrantes.

Como uma instituição de pagamentos regulada e também uma emissora de cartões e adquirente habilitada por Visa e Mastercard, a MOVii vem correndo atrás das suas próprias licenças e estruturas para tirar o melhor proveito deste momento.

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“O que acontece na Colômbia é praticamente o que acontece em todos os outros mercados emergentes, especialmente na América Latina. Temos cerca de 650 milhões de pessoas na região, e quase 75% delas têm acesso a telefones celulares, mas apenas algumas delas têm acesso a serviços financeiros regularmente; na Colômbia, por exemplo, apenas 14% têm acesso a crédito. Portanto, há uma grande lacuna entre as pessoas com acesso ao smartphone e as pessoas que podem pagar as coisas de forma digital. Fechar essa lacuna é o objetivo de muitas fintechs”, explicou Rubio.

Segundo ele, a Colômbia tem cerca de 36 bancos, grande parte deles com mais de 100 anos de existência, e apenas seis dessas instituições têm mais de 1 milhão de clientes.

Começamos há dois anos e meio e alcançamos 2,1 milhões de usuários – quase 800.000 deles são ativos. Portanto, somos claramente o maior desafiante dos bancos na Colômbia.

Hernando Rubio, CEO e co-fundador da MOVii.

A fórmula da MOVii é semelhante a de outras fintechs de sucesso na região: boa experiência do usuário combinada com serviços de pagamento digital gratuitos e eficientes. Com a MOVii, os usuários precisam apenas de um documento de identificação e de um smartphone para abrir uma conta sem taxas. Ao mesmo tempo, clientes sem smartphone (que é o caso de quase um quarto da população) podem solicitar o cartão de débito da MOVii.

A pandemia do COVID-19, como em outros lugares, ajudou a MOVii a crescer mais rápido. Cerca de 765 mil clientes do MOVii usaram a fintech em 2021 para receber ajuda financeira de programas federais ou locais como o Ingreso Solidário – programa que atingiu mais de 3 milhões de pessoas que não eram atendidas por outras iniciativas de assistência social antes da pandemia.

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Desses 3 milhões, 70% nunca tinha tido uma conta bancária antes do programa. Apesar do efeito dessas iniciativas emergenciais sobre as estatísticas oficiais, que hoje apontam que 86% dos adultos colombianos têm uma conta bancária, a maioria deles não a usa de forma frequente.

De fato, a penetração bancária é um conceito mais amplo do que simplesmente ter uma conta corrente. “Certamente, podemos dizer que apenas 20% ou 30% da população adulta [na Colômbia] realmente usa uma conta ativamente. A maioria ainda usa dinheiro, razão pela qual 90% das transações no país ainda são feitas dessa maneira”, enfatizou Rubio.

Em outubro passado, a MOVii levantou uma rodada da Série B de US$ 15 milhões liderada pela Block, Inc (composta pela Square, a fintech fundada por Jack Dorsey e Jim McKelvey, e outras plataformas) e a Hard Yaka – o family office de Greg Kidd, um dos primeiros investidores do Twitter e da Square. A Hard Yaka investiu em mais de 100 empresas, incluindo fintechs de ponta como a Coinbase. Curiosidade: este é o primeiro investimento da Block na América Latina.

Além de capital, a chegada dessas duas empresas à MOVii significa know-how para não apenas expandir suas operações de carteira digital, mas desenvolver novos serviços financeiros baseados em novas tecnologias, como cripto.

A MOVii quer permitir a negociação de bitcoin em suas plataformas e também desenvolver uma nova operação B2B de Fintech as a Service (FaaS), oferecendo a outras fintechs a possibilidade de usar a infraestrutura da MOVii. Com licenças próprias de instituição de pagamento, câmbio, remessas e adquirência, a MOVii também possui sua própria infraestrutura – não depende de bancos para executar suas operações.

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“Sim, somos uma carteira digital; sim, somos um emissor; sim, somos um adquirente. Vejo a MOVii como uma conta digital que pode ser usada tanto por pessoas quanto por comerciantes para pagar, coletar e ganhar dinheiro (através de comissões pagas em troca de operações de recarga de saldo destinadas aos seus produtos e serviços, por exemplo)”, disse Rubio.

Em 2022, ainda estamos usando a tecnologia criada nos anos 1970 para fazer pagamentos eletrônicos. Tem sido útil, mas não é tão eficiente ou segura quanto deveria ser. Temos de usar uma nova tecnologia para fazer pagamentos. Não sei o nome dessa tecnologia ainda, mas tenho certeza de que a coisa mais próxima dela é a que está por trás das criptomoedas.

Hernando Rubio, CEO e co-fundador da MOVii.

Atualmente, a MOVii tem cerca de 60 mil clientes empresariais usando sua conta. A fintech está apenas começando a oferecer a eles seus serviços de adquirência também. “Na Colômbia, somos como o Brasil há sete anos: os 36 bancos [que mencionei anteriormente] competem em áreas como emissão, mas concordaram em não competir no espaço de adquirência. Eles possuem duas adquirentes, RedeBan e CrediBanco. Por causa desse duopólio , temos a menor penetração de pagamentos digitais da região, com apenas 8% dos comerciantes formais aceitando pagamentos eletrônicos. Se somarmos os informais nesta conta, teríamos algo como 1%-2% dos comerciantes, apenas, recebendo pagamentos digitais.”

Seguindo os passos da Stone no Brasil, a startup abriu um “hub de adquirência” em Bogotá, com equipes de vendas e suporte dedicadas aos clientes com maior volume de transações (TPV). Em 2022, o plano é abrir mais 25 polos em outras regiões, abrangendo todo o país.

Em outra frente de atuação, a MOVii quer fechar integrações com os cerca de 50 agregadores de pagamentos físicos e digitais do país, que hoje têm apenas Redeban e Credibanco como opções de conexão. Para eles, argumenta Rubio, isso vai significar inovação, já que a MOVii é a única conectada à Mastercard e à Visa ao mesmo tempo, além de ter uma estrutura de preços e tecnologia também nova, que permite o desenvolvimento de novos produtos e serviços, além de custos mais baixos. “Em dezembro [2021], nos conectamos a dois; este ano esperamos nos conectar a outros 20.”

A MOVii também pretende iniciar suas operações de carteira digital no Peru em breve – a fintech iniciou uma operação de coleta de dinheiro lá há sete anos.