Com 7 milhões de clientes em 25 mercados, o banco digital alemão N26 está desembarcando no Brasil com uma proposta diferente de seus concorrentes locais. Apresentando-se como uma fintech de “segunda geração”, a plataforma quer introduzir o conceito de fincare (ou seja, cuidados financeiros) aos brasileiros, ajudando-os a efetivamente poupar e cuidar do dinheiro. Como exatamente o app no Brasil fará isso, ainda não está claro.
Em entrevista ao LABS, o CEO da empresa no país, Eduardo Prota, disse que os primeiros 2 mil clientes – selecionados entre mais de 24,5 mil inscritos para participar desta etapa – ganharão acesso ao app da N26 a partir de janeiro de 2022. Os demais serão ativados gradualmente ao longo do primeiro semestre do ano que vem. Além dos inscritos nesse processo seletivo, há 200 mil brasileiros na lista de espera da plataforma.
“Muitas das soluções do mercado hoje esperam que a pessoa salte sozinha o abismo do planejamento financeiro, mas dar esse salto demanda muito da pessoa. O que a gente quer é conduzir, passo a passo, o cliente por esse caminho e de uma maneira que ele tenha benefícios ao fazer isso. Não queremos que ele tenha que dar esse salto sozinho para conseguir atingir a saúde financeira”, disse Prota, salientando que o mundo das finanças também sobre de FOMO (sigla para a expressão em inglês Fear of Missing Out), ou seja, com as pessoas sendo bombardeadas por informações e gráficos sobre como investir mas sem tempo ou capacidade para entender e colocar todo esse conhecimento em prática.
O posicionamento da empresa faz sentido. Com tantas opções disponíveis no mercado e alguns concorrentes já presenciando uma redução no ritmo de captação de novos usuários, somente uma proposta de valor diferente atrairá os clientes brasileiros.
Resta saber se esses clientes entenderão a mensagem da fintech – e a tempo de não serem fisgados por iniciativas similares da concorrência. Em novembro, o Nubank anunciou a aquisição da Olivia, um app que ajuda as pessoas a gastarem melhor com base em seus hábitos financeiros. E em julho, o PicPay, maior carteira digital da América Latina e aspirante a super app, comprou o Guiabolso, app de finanças pessoais pioneiro em open banking no Brasil.
Também em novembro, o N26 anunciou sua saída dos Estados Unidos. Com praticamente dois anos de operação por lá, o banco digital deixará para trás cerca de 500 mil contas. Analistas dizem que o N26 fez isso para se concentrar na Europa, onde já tem licença de banco e, portanto, potencial de crescimento muito maior. Outros apostam que não só a falta de uma licença, mas o desconhecimento da marca por parte dos norte-americanos contribuiu para a saída do N26 do país.

Embora a chegada oficial da plataforma no Brasil esteja ocorrendo agora, o anúncio aconteceu ainda em 2019. “Nós começamos o projeto no início de 2019. Eu vim para o Brasil com outras duas pessoas de Berlim e o objetivo era de fato executar o projeto e lançar em meados de 2020”, contou Prota.
A empresa se estruturou e pediu a licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD) para o Banco Central no início de 2020. Esse modelo foi estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) ainda em 2018, como uma forma de possibilitar o surgimento de novas fintechs sem vínculo com instituições financeiras tradicionais. “Mas no início de 2020, a gente percebeu que precisava de uma estratégia diferente. Pausamos nossa operação e aí veio a pandemia que não nos ajudou a retomar o projeto rapidamente. Mas é preciso dizer que aprendemos muito nesse período. Uma das coisas que aprendemos é que precisávamos de uma proposta customizada com o público brasileiro, que é a saúde financeira da população. Setenta porcento das pessoas ainda gasta mais do que ganha aqui no Brasil. E esse é um problema diferente do que o N26 tinha quando começou lá na Europa, que era um problema de acesso, de qualidade de serviço e tarifas altas”, disse.
A licença de SCD saiu em dezembro de 2020. Isso quer dizer que, além de operar pagamentos, o N26 no Brasil também pode emitir cartões ou mesmo oferecer crédito com recursos próprios.
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Prota não revela metas das operações no Brasil, mas afirma que o país pode ser um mercado chave (se não o maior mercado) para que o N26 atingir sua meta global de chegar a 100 milhões de clientes no mundo.
Fundado em 2013 por Valentin Stalf e Maximilian Tayenthal, o N26 começou a operar na Europa em 2015 e se apresenta como o primeiro banco digital do mundo. De lá para cá, levantou mais de US$ 1,8 bilhão em investimentos de nomes como Third Point Ventures, Coatue Management LLC, Dragoneer Investment Group, Insight Venture Partners, GIC, Tencent, Allianz X, entre muitos outros.
Em outubro deste ano, levantou uma rodada Série E de US$ 900 milhões, sendo avaliado em mais de US$ 9 bilhões.