Escritório do GBM. Foto: Divulgação.
Negócios

Nasce um ‘unicórnio’ de 30 anos no México

O GBM é um caso atípico. A corretora teve um crescimento vertiginoso em seus negócios digitais e neste ano se tornou um unicórnio

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No espaço de um ano, o México, que tinha 383 mil contas em corretoras de valores, passou a ter mais de um milhão. O maior aumento do número de contas ocorreu especialmente em uma corretora, o Grupo Bursátil Mexicano (GBM). Em março de 2020, essa instituição tinha 116 mil contas. Em março deste ano, esse número havia crescido para um milhão, segundo dados da Comissão Nacional Bancária e de Valores (CNBV), a CVM mexicana.

O crescimento foi ainda mais expressivo se considerado 2018, quando a empresa tinha 40 mil contas. “A diferença é que agora aceitamos ativos a partir de MXN 100. Buscamos democratizar os investimentos, para que as pessoas saibam que existem formas melhores de investir. Para começar, não importa o montante, o importante é começar”, diz Pedro de Garay, co-CEO do GBM, ao LABS.

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Um crescimento tão rápido não é comum em uma empresa de 30 anos. Como então ela superou seus próprios limites? A resposta resumida pode ser esta: transformando uma instituição financeira tradicional em uma plataforma de tecnologia digital.

De Garay, co-CEO do GBM. Foto: GBM/Divulgação

Durante muito tempo, o GBM se dedicou a atender indivíduos com grandes patrimônios, instituições, fundos de pensão, fundos soberanos. O varejo não estava realmente dentro da estratégia, mas percebemos que por meio da tecnologia poderíamos atender os médios e pequenos [investidores] no mesmo nível que atendíamos os maiores

Pedro de Garay, co-CEO do GBM.

O ponto alto dessa estratégia chegou em junho, quando o GBM anunciou um investimento de US$ 150 milhões do SoftBank Latin American Fund, atingindo uma avaliação de US$ 1 bilhão. Assim, a corretora se transformou em um unicórnio, o terceiro do México, pouco depois de as startups Kavak e Bitso terem alcançado essa classificação.

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Mas esse é um caso atípico de unicórnio, já que o GBM não é uma startup recém-criada, nem surge de um empreendedor. “Sendo ‘purista’, ele não é um unicórnio, mas as definições não têm que ser tão precisas”, diz Fabrice Serfati, sócio-fundador do Ignia, um fundo de venture capital.

O GBM foi fundado há 30 anos – mas iniciou seus negócios digitais em 2011, com o GBMhomebroker –, e está listado no mercado de ações desde então. “Os ‘unicórnios‘ são empresas que não estão listadas no mercado público, têm menos de 10 anos e estão avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão”, acrescenta o especialista.

O que torna o GBM um unicórnio?

O modelo de negócio digital do GBM, no entanto, é semelhante ao de uma startup.

O termo startup não é usado mais para empresas criadas “recentemente”, agora ele é mais usado para se referir a empresas com um componente importante de sua operação em plataformas digitais

Fabrice Serfati, sócio-fundador do Ignia.

O GBM transformou seu modelo de negócios digitalizando-se, permitindo a abertura de contas online e diminuindo os limites de investimento. Atualmente 33% de seus 450 funcionários são da área de tecnologia.

Essa mudança teve início em 2011, quando a instituição financeira lançou o GBMhomebroker, uma plataforma de investimento online que os clientes podiam acessar por meio de um computador, tablet ou celular. Três anos depois, foi criada a Piggo, uma plataforma de poupança por aplicativo, baseada em investimento em um fundo de renda fixa e outro de renda variável.

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No ano passado, a corretora decidiu criar o GBM+, para reunir todos os seus serviços digitais no mesmo lugar. O GBM+ fornece ferramentas específicas para poupança, plataforma de trading (onde o cliente pode tomar suas decisões de investimento), e outra plataforma, com ideias para investir a médio e longo prazo com mais diversificação.

Com MXN 100 (US$ 5) e em questão de minutos, os clientes podem acessar esses serviços e tomar decisões que antes eram limitadas apenas aos grandes ativos, afirma De Garay.

Seguindo essa estratégia o GBM ampliou seu perfil de clientes e aumentou seu mercado potencial dezenas de vezes, em um país cuja população com alguma atividade econômica é de 57 milhões de pessoas.

“Estamos crescendo mais entre as pessoas que estão começando a aprender sobre investimentos e que se sentem à vontade usando um aplicativo”, diz. De Garay explica que a maioria delas são jovens de 18 a 35 anos de idade.

O fator demográfico é relevante, diz Serfati, porque a empresa tem como alvo os jovens, que não são tão sensíveis às taxas de acesso. Segundo ele, o desafio é fazer com que esse público acesse não apenas os ativos da bolsa de valores mexicana. “Eles vão ter que abrir a opção para ETFs e, eventualmente, para criptomoedas.”

Em última análise, esse modelo digital proporcionou ao GBM a escalabilidade e o crescimento acelerado que o colocou no caminho para se tornar um unicórnio. “Foi a oportunidade de chegar a muito mais gente, ao ritmo de crescimento que adquirimos e que podemos ter nos próximos anos”, resume De Garay.

Ele não descarta continuar dobrando ou mesmo triplicando o número de contas anualmente, mas prefere não fazer uma estimativa. “Nunca imaginamos passar de 40 mil para um milhão de contas e ficamos surpresos”, diz.

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