As roupas são entregues ao cliente em uma ecobag devidamente higienizadas, em trocas semanais. Foto: We use/Divulgação.
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“Netflix de roupas”: nascida na zona leste de São Paulo, WeUse quer expandir para outras capitais

Carlos Alberto Silva criou a WeUse, um negócio hoje avaliado em R$ 5 milhões, com o dinheiro da venda de um carro popular

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Com pouco mais de R$ 20 mil, levantado após a venda de um carro popular, o economista Carlos Alberto Silva, 33, botou transformou em negócio uma ideia vinda de um hábito antigo, cultivado entre ele, o irmão, Humberto e um amigo, Guilherme Brito: o de emprestar roupas uns aos outros. O hábito proporcionava variedade ao guarda-roupa e economia ao bolso; por que, então, não oferecer isso como um serviço? Foi assim que nasceu a WeUse, startup criada em 2017 no bairro de Itaquera, zona leste de São Paulo, e que hoje tem valor de mercado estimado em R$ 5 milhões. 

O serviço, tocado pelo trio e pela sócia Andria Micale dos Santos, funciona como uma espécie de “Netflix” de roupas: o cliente contrata o plano (de 12 ou 16 peças mensais, que custa R$ 69,90 e R$ 89,90 respectivamente) e, pelo aplicativo ou site, escolhe três peças por semana entre as mais de 3 mil opções disponíveis.

Fundadores e equipe da startup We Use
Os sócios da WeUse e parte de sua equipe: plano é expandir serviço para outras capitais brasileiras. Foto: WeUse/Divulgação.

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A WeUse leva as peças escolhidas até a casa ou trabalho do cliente em uma ecobag, e faz a troca semanal para o assinante, que não precisa se preocupar com transporte ou higienização. “É o preço que ele pagaria em uma nova peça em uma loja de departamentos. Com o mesmo valor, consegue uma variedade muito maior” frisa Silva. “Muitos clientes nos falam que, hoje, assinando o serviço, gastam bem menos em compras do que antes”, conta o CEO da WeUse. 

As roupas são entregues ao cliente em uma ecobag devidamente higienizadas, em trocas semanais. Foto: WeUse/Divulgação

Como a ideia do negócio da WeUse saiu do papel

Antes de colocarem a ideia em funcionamento, os empresários fizeram uma pesquisa de mercado para entender se havia algo parecido. Se chegou então ao modelo que unia uma empresa digital à tendência de economia compartilhada.

Depois disso, os sócios participaram de cursos de aceleração de startups e iniciaram testes gratuitos para validar o produto; até então, a sede da empresa era a casa de Carlos, que cuidava de todos os processos, desde o atendimento ao cliente até a entrega das roupas. Em 2018, as assinaturas pagas começaram e, atualmente, cerca de 130 pessoas utilizam os serviços da WeUse em São Paulo (a maioria dos clientes é formada pelo público masculino). Um dos planos da empresa é expandir o serviço para outras capitais brasileiras, começando pela Região Sul. 

Além do investimento inicial próprio e de boa parte do salário que o CEO colocou na WeUse no primeiro ano de empresa, quando ele conciliava a o novo negócio com um emprego de consultor, a WeUse participou de diversos concursos para conseguir investimentos.

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Um aporte de R$ 500 mil veio de investidores-anjo de organizações como Anjos do Brasil, Curitiba Angels e Kaleydos. Mais recentemente, um novo investimento, de R$ 120 mil, foi levantado no reality show do investidor João Kepler, O Anjo Investidor, transmitido pela Rede TV e pela Joven Pan, e ajudou a mitigar os prejuízos causados pela pandemia da COVID-19 – no início da onda de casos no Brasil, em março, a WeUse perdeu praticamente a metade dos clientes e só conseguiu retomar o patamar anterior à crise neste mês. 

Um novo modelo de consumo em evidência

A indústria da moda é considerada uma das mais poluentes do mundo e responde por cerca de 10% das emissões de gases de efeito estufa, mais do que a aviação. O consumo de água na produção também é alto: uma única calça jeans pode usar até 5 mil litros. O modelo de fast fashion, com novidades a todo o momento e consumo desenfreado também vem sendo posto em xeque. Em 2013, o desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh, que deixou 1.135 pessoas mortas, expôs um lado obscuro das grandes magazines: a maioria dos trabalhadores, em péssimas condições,  produzia para marcas conhecidas globalmente, o que gerou questionamentos e cobranças por parte de entidades e dos próprios consumidores. 

Esses são alguns dos aspectos considerados pela WeUse na missão do negócio. Fora a tendência de compartilharmos carros, por meio do Uber, e casas, via Airbnb, Silva pretendia atender essa fatia de mercado que gosta de ter variedade no vestir, mas é ciente do impacto ambiental e social, e não quer continuar na lógica de comprar uma nova peça de roupa a todo momento. “Vimos a oportunidade de quebrar o paradigma desse modelo de consumo oferecendo um serviço sustentável” salienta o CEO. Outro cuidado do serviço é dar destinação correta para peças cujo tempo de uso já não permite mais oferecê-la aos clientes. Nesse caso, elas são doadas para entidades assistenciais, pessoas em situação de rua ou re-transformadas em outros produtos, prolongando a sua vida útil. 

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Os planos para dobrar o número de assinantes a cada trimestre

No curto prazo, o objetivo da WeUse é dobrar o número de assinantes em São Paulo a cada três meses, além de começar a expansão nacional para o segundo semestre de 2021. Estuda ainda a criação de uma assinatura premium, que inclua marcas de luxo.  A startup também está conversando com marcas nacionais interessadas em criar guarda-roupas dentro da plataforma da empresa, em um conceito chamado de e-closet, onde o cliente poderá selecionar peças extras de diferentes grifes. 

 A intenção é oferecer ainda planos voltados para crianças, que “perdem”roupas muito facilmente e ampliar a grade de tamanhos (que hoje vai até o GG). “Isso vai nos dar chance de atingir um público muito estratégico que já encontra dificuldades de comprar” pontua Silva. Expandir as fronteiras e chegar em outros países além do Brasil é outro plano da WeUse. “A gente tem o objetivo de se tornar unicórnio. É algo bem claro pra gente”.