A food tech chilena NotCo anunciou uma rodada Série D de US$ 235 milhões nesta segunda-feira. O aporte foi liderado pela Tiger Global e contou com a participação da empresa de capital de risco DFJ Growth Fund, da fundação de impacto social ZOMA Lab, e de dois ícones do esporte mundial: Lewis Hamilton e Roger Federer.
O carro-chefe da NotCo são os alimentos de base vegetal alternativos, capazes de substituir derivados do leite e proteína animal. A startup planeja usar os novos recursos para expandir na Ásia e na Europa e produzir novos produtos nos Estados Unidos. Mas há uma questão maior envolvida nessa rodada: a NotCo é o primeiro ou o segundo unicórnio da história do Chile?
A rodada elevou o valor de mercado da startup para US$ 1,5 bilhão, alçando a NotCo ao status de mais novo unicórnio da América Latina. Mas e quanto ao Chile? A NotCo é o primeiro ou o segundo unicórnio do país?
“É uma empresa privada, focada em tecnologia, com uma avaliação acima de US$ 1 bilhão”, descreveu Hernan Kazah, co-fundador do fundo de venture capital KASZEK, que tem a NotCo como parte de seu portfólio.
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A própria NotCo afirma ser a primeira empresa do Chile a captar tal quantia por meio de rodadas de financiamento privadas.
Outra startup fundada por um empresário chileno, a Orca Bio, também atingiu recentemente o valor de mercado de unicórnio. Porém, a Orca Bio não está sediada no Chile, mas sim nos Estados Unidos, o que faria dela um unicórnio, mas não um unicórnio chileno – é uma história parecida com a da Brex, fintech fundada por brasileiros nos Estados Unidos.
“Por isso, eu não consideraria a Orca Bio um unicórnio chileno”, disse ao LABS Eduardo Fuentes, da plataforma de inovação brasileira Distrito, que monitora informações sobre startups no Brasil e na região.
Para Fuentes, no entanto, o primeiro unicórnio chileno é a startup de delivery Cornershop, levando-se em conta a avaliação obtida pela empresa quando adquirida pela Uber (US$ 1,4 bilhão). O negócio foi anunciado em 2019, mas levou algum tempo para ser concluído, pois dependia da aprovação das autoridades em todos os países onde a plataforma opera.
“Devido à aquisição pela Uber, a Cornershop é um unicórnio. É um caso semelhante ao da 99, adquirida pela chinesa Didi Chuxing. Assim, a NotCo seria o segundo unicórnio chileno”, disse ele.
Não há consenso, no entanto. Outros investidores argumentam que embora a Cornershop tenha atingido valuation de unicórnio, o fez ao longo do processo de aquisição e que por não ser uma empresa independente quando atingiu esse valor não seria propriamente um unicórnio.
América Latina já tem mais de 20 unicórnios
Entre o ano passado e este ano, o volume de investimentos em empresas de tecnologia disparou na América Latina, atingindo um pico sem precedentes.
Relatórios da LAVCA (Association for Private Capital Investment in Latin America) e da CB Insights mostram que empresas latino-americanas levantaram pelo menos US$ 6 bilhões em investimentos de capital de risco somente no primeiro semestre de 2021.
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Também na primeira metade de 2021, o Brasil viu novos unicórnios nascerem: Madeira Madeira, o primeiro do ano; Hotmart, que agora se prepara para o IPO, e Mercado Bitcoin, o primeiro unicórnio de criptoativos do Brasil e o oitavo unicórnio de maior valor na América Latina, com uma valuation de US$ 2,1 bilhões.
“Se tivermos mais um unicórnio no Brasil este ano, igualaremos ao número de unicórnios de 2019, o maior até hoje”, lembrou Tiago Ávila, do Distrito.
O México também ganhou recentemente três unicórnios, os primeiros do país – Clip, Kavak e Bitso. A startup MURAL, da Argentina, por sua vez, entrou para o clube bilionário das startups na semana passada. Já a dLocal, do Uruguai, alcançou o status no final de 2020 e logo emendou seu IPO.
Paulo Passoni, investidor de growth equity SoftBank na América Latina, afirmou no LinkedIn que, pelas suas contas, o setor de venture capital e de private equity será responsável por mais de US$ 10 bilhões em investimento estrangeiro no Brasil em 2021. De acordo com ele, isso é aproximadamente 20% do total de investimento estrangeiro direto (IED) destinado à maior economia da América Latina.
“Aposto que em dois anos poderemos atingir quase 50% do IED no Brasil”, disse ele, acrescentando que nem mesmo contou o capital primário levantado em IPOs de empresas de tecnologia da América Latina.