“Brasil, México e Colômbia têm 60% da população latino-americana e do PIB, então continuar crescendo nesses três países é definitivamente nosso foco agora”, respondeu Catalina Bretón, country manager do Nu Colombia, subsidiária do Nubank, em conferência com jornalistas latino-americanos na tarde desta quinta-feira, horas após a estreia da maior fintech e banco digital da região na Bolsa de Valores de Nova York, a NYSE. Emilio Gonzalez, à frente das operações do Nu Mexico, e David Vélez, cofundador e CEO global do Nubank (ou Nu Holdings, companhia que abarca todo o grupo), também participaram da conferência.
Como a fintech, que chegou a ser avaliada em mais de US$ 50 bilhões em seu primeiro dia como uma empresa de capital aberto (leia mais sobre o IPO abaixo) ainda está no período de silêncio, muitas das perguntas que todos os jornalistas estavam loucos para fazer não foram respondidas, como quais países estão no roteiro do Nu ou quais serão os próximos produtos a serem lançados em seus mais novos mercados na América Latina. Ainda assim, foi possível extrair algumas intenções das entrelinhas dos pronunciamentos.
LEIA TAMBÉM: Após Nubank, NYSE prevê vários IPOs de empresas da América Latina em 2022
Uma aquisição indica que o Nu México investirá pesado em crédito
“No México, dizia-se que o povo não queria experimentar ou usar serviços financeiros, que a eles não interessava fazer isso, mas sempre acreditamos que não era o povo que não os quisesse, mas que esses serviços não existiam. Era mais um problema de oferta do que de demanda”, explicou Gonzalez.
É por isso que, segundo o country manager do Nu México, a empresa se dedicou à tarefa de contratar uma equipe grande, que conhece as necessidades dos consumidores mexicanos, para construir produtos com a cara da população mexicana – já são mais de 400 funcionários na folha de pagamentos do Nu México.
Além do cartão de crédito, que já está nas mãos de mais de 700 mil mexicanos, o plano é, claramente, ampliar os produtos de crédito. “Em um ano e meio de operações, nos tornamos o maior emissor de cartões de crédito do país, superando os grandes bancos nacionais e para 2022 temos um plano agressivo. Em setembro nos deram a licença final para a compra da Akala [enquadrada como um tipo sociedade de crédito mexicana], e estamos trabalhando para incrementar nossas ofertas de produtos.”
No início de 2021, o Nubank anunciou um investimento de US$ 135 milhões no México. Esse mercado é estratégico para a empresa, pois representa 20% da população da América Latina e, segundo dados do INEGI (o IBGE mexicano), tem apenas 47% da população bancarizada.
Na Colômbia, a construção de um serviço com a participação de 30 mil clientes
O Nu Colômbia ainda opera em “fase beta”, segundo Bretón, e com uma abordagem totalmente local: 30 mil clientes, entre os primeiros a se inscreverem, desde a fevereiro, para receber um cartão de crédito tarifa zero, participam ativamente da construção de uma “experiência colombiana” do Nu. O número total da fila de espera por lá não foi revelado por Bretón.
“Por David [Vélez] ser o idealizador e colombiano, Colômbia estava na lista de países de Nu há muito tempo. Nossa primeira tarefa, então, foi verificar se o país estava pronto para a chegada de Nu. A Colômbia é um país de 50 milhões de habitantes, e cerca de 32 milhões de adultos, ou seja, 87,1% da população, tem acesso a serviços financeiros, o que é um bom número, mas esse número tem lacunas importantes. Em meio aos jovens, o acesso está 14 pontos percentuais abaixo da média, e entre as mulheres, 13 pontos percentuais. Além disso, 26% da população não tem acesso a um cartão de crédito. É preciso fechar essas lacunas”, explicou a country manager do Nu Colômbia.
“Nos demos conta que os colombianos não estavam contentes com o que os era oferecido. Além disso, vimos que era uma país com alta penetração de serviços digitais. Percebemos que poderíamos oferecer um serviço diferenciado, mais humano. Isso fica claro na lista de pessoas inscritas para receber um cartão Nu”, salientou ela.
O Nu Colômbia também está trabalhando com a construção e aprimoramento de um algoritmo, apelidado de Betty (provavelmente em função da novela de sucesso por lá, Betty, a feia), para a análise de crédito da população. A ideia é que o Nu será capaz de oferecer um cartão para pessoas que até hoje não tiveram esse tipo de oferta. Em novembro, quando a subsidiária do Nubank anunciou que estava trabalhando no algoritmo, não detalhou que tipo de informações coleta e de que fontes.
Os principais números e fatos do IPO do Nubank
As ações do Nubank abriram em alta de 25% (a US$ 11,25) na estreia dos papéis na NYSE nesta quinta-feira, conferindo à companhia um valor de mercado de quase US$ 52 bilhões, o que torna o banco digital a terceira empresa listada mais valiosa do Brasil. Ao fim do dia, os papéis fecharam com 14,8% de alta, e o valor de mercado do Nubank em pouco mais de R$ 48 bilhões.
Com essa avaliação, o Nubank, que tem a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, como acionista, só fica atrás de Petrobras e Vale.
Na conferência desta tarde com os jornalistas latino-americanos, Vélez enfatizou que a Nubank “é uma empresa que trabalha muito para cobrar menos, não uma empresa que trabalha muito para cobrar mais”. E isso, segundo ele, faz toda a diferença para o modelo de negócios da empresa, que busca não cobrar tarifas de seus usuários, gerando receita a partir dos bastidores, com tarifas de intercâmbio e juros das transações com cartão de crédito, entre outras fontes.
Na quarta-feira, o Nubank precificou o IPO no topo de uma faixa indicativa que foi reduzida anteriormente, levantando cerca de US$ 2,6 bilhões. O IPO teve uma demanda oito vezes maior que a oferta, afirmou uma fonte com conhecimento do assunto.
A estreia ocorre à medida que um ano recorde de listagens nos EUA se aproxima do fim. Empresas como Coinbase e Robinhood abriram capital no país em 2021.
LEIA TAMBÉM: Nubank e Sequoia investirão em startups na América Latina, dizem fontes
O Nubank afirmou que teve lucro no primeiro semestre de 2021 em suas operações no Brasil. “Muito do capital que estamos levantando neste IPO é para a Colômbia e México. Continuaremos investindo apenas nessa oportunidade de crescimento”, disse Vélez em entrevista à Reuters.
Na B3, os BDRs do Nubank subiram até 22% em seus primeiros negócios. Às 16h26, as ações em Nova York mostravam ganho de 14,8%, a US$ 10,33, enquanto os BDRs tinham valorização de 19,6%.
“Nubank é uma dessas companhias cujas ações queremos manter por muito tempo”, disse Douglas Leone, sócio da Sequoia, em entrevista à Reuters. A Sequoia começou a investir no Nubank em 2013. “O foco agora é ter certeza que nós (Nubank) estamos fazendo o melhor para nossos clientes na América Latina”, disse Leone, que também é membro do conselho de administração do banco.