Os fundadores da startup de tecnologia de alimentos Olga Ri: Beatriz Samara, Bruno Sindicic e Cristina Sindicic. Foto: Divulgação.
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Com pegada sustentável, Olga Ri e Da Mata querem reduzir a dependência dos apps de delivery

Com plataformas de entrega própria, as duas foodtechs querem reduzir a importância de líderes do setor como iFood e Rappi em suas operações, enquanto continuam a investir em maneiras sustentáveis de produzir e transportar seus produtos até a porta dos consumidores

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Dentre as muitas empresas surfando a onda da comida saudável e da sustentabilidade, duas startups brasileiras têm ganhando notoriedade, atraído investidores e buscado expansão para superar a dependência de iFood, Rappi e outros líderes do setor de delivery. Com plataformas de entrega própria, Olga Ri e Da Mata querem reduzir a importância desses outros apps em suas operações, enquanto continuam a investir em maneiras sustentáveis de produzir e transportar seus produtos até a porta dos consumidores.

“Há anos buscamos uma solução (para as embalagens). Inicialmente, usávamos um bowl de plástico, algo que nos incomodava. Era difícil encontrar uma alternativa viável operacionalmente e economicamente. O produto precisa conseguir viajar bem em uma moto, então é um desafio grande. Nós começamos o contato com a Já Fui Mandioca há dois anos para tentar criar algo diferente e mais sustentável”, disse Caio Ciampolini, sócio e CEO da Da Mata. “Foi um ano e meio testando produtos e formatos para chegar à embalagem que temos hoje. Fizemos vários ajustes no caminho, mas tivemos um retorno muito positivo dos clientes e é algo muito alinhado aos valores da marca. Usar uma embalagem de plástico que será usada por dez minutos e demora anos para se desfazer era algo que não nos soava bem”, completou.

Caio Ciampolini, sócio e CEO da Da Mata. Foto: Divulgação


A sustentabilidade também é um dos pilares da Olga Ri. “Quem consome [nossos produtos], sabe que nossas saladas são diferentes. Percebem que temos uma preocupação que vai desde a cadeia de fornecimento até a cozinha e a entrega. Trabalhamos para que a salada chegue nas melhores condições possíveis nas mãos do cliente. Mas, além disso, também damos uma experiência digital bem bacana. Temos um app próprio bastante rico e visual. E nossa marca gera bastante identificação, pois falamos de muitos temas importantes e que nossos consumidores valorizam, como diversidade, vida urbana, sustentabilidade, meio-ambiente. Isso tudo acaba sendo bem relevante para o cliente final”, disse Bruno Sindicic, cofundador e CEO da Olga Ri.

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Ambas as empresas enfrentaram o desafio da pandemia e conseguiram extrair resultados positivos da crise. A Da Mata, por exemplo, começou com uma média de 30 entregas por dia, e em 2022, já superou a marca de mil pedidos diários. Outra coisa que as duas foodtechs têm em comum são os apps de delivery próprio e o trabalho para atrair a clientela para eles, reduzindo a dependência de líderes do setor como iFood e Rappi

“Eu acho muito difícil não estarmos em plataformas como iFood e Rappi. Principalmente o iFood, que tem muita força no Brasil todo. Sou bem cético em relação aos próximos dois ou três anos (quanto a abrir mão das plataformas). O que eu acho uma boa meta é os 25% de clientes que temos fora desses aplicativos se tornarem 40% [hoje, 75% dos pedidos vêm via iFood e Rappi]. Querendo ou não, é muito prático para o consumidor uma plataforma que centraliza todas as opções. Não é razoável descartar canais tão fortes, mesmo tendo nosso canal próprio. Temos que fortalecê-lo sem esquecer das alternativas”, disse Ciampolini.

O brasileiro é, estatisticamente, um dos povos mais preocupados com a alimentação, por ver nela o principal meio para se ter saúde. Mesmo que, hoje, todo o mundo esteja mais preocupado com a questão alimentar, desenvolver uma startup e meio a essa cultura traz uma pequena vantagem.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o ‘ser saudável’ está mais ligado a medicamentos, suplementos alimentares e exercícios físicos. O brasileiro sempre entendeu que a saúde começa pela alimentação. Isso nos ajuda, pois com as pessoas tentando ser mais saudáveis elas repensam sua alimentação, buscando algo mais balanceado, integral e menos processado. Tudo isso favorece diretamente nosso produto, pois nosso cardápio é composto majoritariamente por produtos frescos como verduras e vegetais que acabaram de sair do campo para nossas cozinhas.

Bruno Sindicic, cofundador e CEO da Olga Ri

A startup acaba de levantar R$ 30 milhões e já anunciou a expansão para o Rio de Janeiro, Já a Da Mata pensa em expandir suas atividades primeiro dentro da grande São Paulo. “Nosso plano é consolidar a presença na grande São Paulo. Em breve, vamos inaugurar nossa quarta unidade de dark kitchen (focada no delivery) na Vila Mariana. Já temos Brooklyn, Moccha e Pinheiros. Para cobrir quase toda a região, precisaremos de oito cozinhas, incluindo talvez duas fora da capital, no ABC ou em Alphaville”, afirmou Ciampolini.

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Uma característica curiosa e que indica uma tendência no segmento é a construção de restaurantes conceito para além do delivery. É claro que Olga Ri e Da Mata continuarão focando no delivery e devem muito à cultura de entregas que tem se perpetuado no Brasil, mas operar fisicamente não está fora dos planos. Enquanto a Olga Ri já anunciou seus planos de abrir ao menos cinco unidades físicas em Rio e São Paulo, a Da Mata prepara o lançamento de uma cozinha conceito na capital paulista.

“Não é um restaurante tradicional, onde você monta sua salada e faz sua refeição. A ideia é ser uma dark kitchen que também incentive a retirada do pedido no ponto. O cliente faz o pedido indo para o trabalho, por exemplo, e passa aqui, pega a salada já pronta e leva para comer mais tarde, no almoço. Queremos também colocar algumas mesas na calçada, para que a pessoa possa pedir pela internet, chegar aqui com o pedido já pronto e comer”, comentou Ciampolini.

Se o segmento das refeições saudáveis está em alta como nunca, marcas como a de Sindicic e Ciampolini vêem suas plataformas próprias não só como uma forma de fidelizar seus clientes, mas também entender seus anseios e manter um canal mais direto com eles.

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“Entendemos que, como temos muitos clientes recorrentes, ter um canal de diálogo direto é muito importante. Com nossa própria plataforma, conseguimos conduzir melhor a relação direta. Mas, claro, isso também é importantíssimo para o branding, mas a questão é mais a fidelização e a melhor compreensão das demandas desse consumidor recorrente”, afirmou Sindicic. 

“Nós temos uma plataforma própria de delivery. Sempre tivemos. Nossa empresa sempre foi focada no delivery, então é importante termos uma plataforma própria, para termos um diálogo mais próximo com nossos clientes. Trabalhamos até com produtos exclusivos da plataforma própria, para estimular o uso. É importante para fidelizarmos a clientela, para ter mais facilidade de ativação”, disse Ciampolini.

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