Parte da Alelo, do grupo Elopar, que tem Banco do Brasil e Bradesco como sócios, a tag Veloe foi criada há três anos como um negócio de abertura automática de cancelas, que abrange o pagamento de pedágio eletrônico e estacionamentos. A empresa disputa o mercado com o experiente SemParar, da FleetCor, e a Conectar, investida do Itaú.
“Sentimos uma pujança muito grande nesse mercado que engloba tanto a mobilidade urbana e interurbana quanto o transporte, e também para operar junto aos transportadores autônomos de carga e com os grandes embarcadores. Isso muito por conta da relação que essas empresas já têm com os bancos sócios da Veloe”, explica André Turquetto, diretor geral da Veloe, em entrevista ao LABS.
Períodos de paralisação da atividade econômica em 2020 por conta do coronavírus afetaram o setor de transportes e mobilidade urbana. Com shopping fechados (e por consequência seus estacionamentos), a pandemia impactou negativamente o negócio da Veloe. Por outro lado, as tags de pedágio surgiram como opção para quem queria evitar contato físico nas cabines. Segundo a Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), na comparação de março deste ano com março de 2020, os pagamentos em passagens automáticas cresceram 11%, enquanto os pagamentos de pedágio em cabines manuais caíram 8%, conforme noticiou o Valor Econômico.
“O ano de 2020 foi um ano bastante duro, mas agora a gente vem em 2021 com gás. É um mercado que cresce muito, tem muita coisa interessante acontecendo do ponto de vista regulatório e de evolução, com novas tecnologias de passagem”, comenta Turquetto, que assumiu a Veloe este ano.
Ele diz que de janeiro para cá a empresa cresceu exponencialmente. Embora não divulgue quantos usuários de tags a Veloe tem hoje, Turquetto disse que o objetivo é atingir 1,5 milhão de pessoas com o tag de transporte para pessoa física. “Estamos em um ritmo muito acelerado de crescimento do negócio com uma retomada da atividade econômica importante neste ano”.
De fato, relatórios da Oxford Economics e da JPMorgan mostraram forte recuperação da atividade econômica na América Latina devido ao retorno da mobilidade. No Brasil, a mobilidade foi restabelecida no último trimestre de 2020 e no segundo trimestre deste ano o país já tinha atingido o seu PIB (Produto Interno Bruto) pré-pandêmico.
“No negócio de pessoa física temos o grande projeto de alastrar a base de uso e explorar outros serviços que, inclusive, são sinérgicos com o negócio da Alelo. Se trabalharmos a questão da mobilidade como benefício, por exemplo, podemos também ampliar para o serviço de abastecimento, pagamento de tributos e seguros”, diz Turquetto.
Até hoje, o grupo Elopar já investiu R$ 450 milhões na plataforma da Veloe e este ano deve investir cerca de R$ 180 milhões na unificação da unidade de gestão de frotas da Alelo com o negócio da Veloe, que hoje ainda é apenas de passagem de pedágios e estacionamentos. “Com o Alelo Frota, nossa perspectiva é movimentar cerca de R$ 1,5 bilhão”, afirma o diretor.
Neste ano e em boa parte de 2022, a Veloe trabalhará na integração com a Alelo Frota, desde a integração de marca, de equipe, até a estratégia. “Desde o momento da minha chegada, essa foi a proposta que a gente fez para o grupo: criar uma nova Veloe que incorpore tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica. Isso não é um trabalho trivial”.
Para além da passagem em cancelas automáticas: o leque de possibilidades da Veloe
Por ter grandes bancos como sócios, a Veloe consegue tirar proveito do universo que engloba o portador do meio de pagamento, de tag ou de um cartão, e do dono de um veículo. Segundo Turquetto, para além da passagem em pedágios, há um grande conjunto de atividades possíveis de a Veloe explorar, como a compra e venda de veículos, pagamento de tributos, abastecimento, zona azul, estacionamento inteligente, carro inteligente, e até integrações com carro elétrico.
Mas a grande aposta para se diferenciar dos concorrentes está nos dados do portador e do veículo para vender produtos e serviços. Para a pessoa física, a Veloe quer ser um super app, “a carteira digital de mobilidade mais completa do mercado”, diz Turquetto. Já para as empresas, a Veloe mira o frete de um transportador autônomo de carga ou uma empresa transportadora, gestão de frota e o vale pedágio obrigatório.
Também não é algo que tenha passado despercebido pelos concorrentes, já que a FleetCor recentemente anunciou o SemParar Empresas e a Conectar oferece vale-pedágio aos caminhoneiros.

No Brasil, o transporte rodoviário de cargas é um dos principais motores da economia. “É um segmento importante e o pequeno caminhoneiro, o caminhoneiro que ainda está na informalidade, tem dificuldade de acesso a crédito, por exemplo. Vejo que é um nicho de mercado com muita oportunidade para se modernizar”, comenta o executivo. Não à toa, a gestão de frotas e operações de logística rodoviária têm sido olhadas com carinho pelos investidores, exemplificadas nos recentes aportes na Freto, startup que era controlada pela Edenred, e na CargoX.
“Acho que a nossa grande vantagem é ter capacidade de investimento para isso, ter sócio para isso [operações de gestão de frota para empresas]. Temos um canal de distribuição muito importante e temos uma base tecnológica bastante avançada”, diz Turquetto, comentando que a Veloe tem produtos possíveis para caminhoneiros, empresas com frota própria ou frota de terceiros. “A gente acredita muito nessa robustez, nessa nossa capacidade de atender esses públicos”.
A inovação tecnológica nas tradicionais rodovias do Brasil
“A Veloe é uma empresa nova que nasce em nuvem. As nossas equipes já funcionam no modelo ágil, então a gente já tem destreza interna para atender o mercado em constante transformação. Muita coisa vai acontecer ainda do lado da transformação tecnológica e do lado da regulação. As pessoas querem mais fluidez. Ninguém gosta muito de barreira, as pessoas valorizam cada vez mais o tempo”, disse o executivo.
A ideia da Veloe é integrar diversos modais de transporte. Segundo Turquetto, pensar na mobilidade como modelo de negócio é criar produtos e serviços para pessoas que não estão se locomovendo mais do jeito que costumavam fazer.
“As pessoas tem várias formas de se locomover e funcionários das companhias não querem um único modal, eles querem uma liberdade de ir e vir”, afirma. A Veloe criou então um produto de mobilidade em que a empresa fornece fundos que podem ser usados como vale transporte para dar liberdade aos funcionários que não querem se locomover, ou seja, trabalham de casa.
Outra mudança importante que rege o negócio da Veloe são as passagens de pedágio em estradas por quilômetro rodado, ao contrário do que hoje é feito no Brasil, onde a partir do uso da rodovia, seja qual a quilometragem que se rode, é necessário pagar o mesmo valor. O modelo do “free flow”, que é o pagamento do pedágio proporcional à quantidade de quilômetros rodados, é usado nos Estados Unidos.
Em junho, a lei 14.157/21 que estabelece o pedágio por quilômetro rodado no Brasil entrou em vigor, mas ainda não foi regulamentada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Segundo o governo brasileiro, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) é o responsável por estabelecer as normas de identificação dos veículos.
“Os órgãos já estão em tratativas para viabilizar a regulamentação o mais breve possível. Os primeiros testes acontecerão em um trecho da nova concessão da Dutra, BR-116/101/SP/RJ, que tem leilão previsto para o último trimestre de 2021”, afirmou o Ministério da Infraestrutura, por meio de nota.
Ou seja, com a nova lei, o tag poderia ser essencial para identificar a quilometragem rodada e fazer a cobrança. Embora o governo não tenha definido como será feita essa identificação dos veículos, a Veloe está interessada em fornecer a tecnologia para aumentar a base de arrecadação nas rodovias.
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“É muito provável [que o governo] aproveite a infraestrutura já instalada de antenas [das empresas de tags]. Mas existem outras discussões e outras possibilidades que a gente também está experimentando, como a tecnologia de leitura óptica de caracteres das placas e algumas tecnologias que a Europa já usa, como a geolocalização. Mas aí há discussões em relação à possibilidade de fraude, assertividade da tecnologia, precisão. Então, não é uma discussão simples e envolve certificação, envolve Inmetro, envolve o estabelecimento de um padrão. A gente está participando desse debate”, disse Turquetto.
Parcerias white-label e o pulo do gato da tag do C6 Bank
Turquetto diz que a Veloe não é taxativa em relação a um único modelo de crescimento. “A gente é muito orientado na inovação aberta. Temos um plano de crescimento orgânico, que se baseia na capacidade de alavancar negócios que os sócios e as outras empresas do grupo têm, e se baseia também na possibilidade da gente se associar através de parcerias ou eventualmente até incorporação de parceiros”.
Leia-se: a Veloe participa de ecossistemas de inovação, troca APIs e faz parcerias, além de não descartar a compra de startups. “A mobilidade tem várias facetas, desde carteira digital, novas tecnologias, até o carro elétrico, o carro ultraconectado e cidades inteligentes. E tem empresas já trabalhando com isso muito bem. A gente é aberto para qualquer tipo de coisa, a gente pode comprar empresas, pode se associar e até mesmo criar junto com esses ecossistemas de inovação e universidades. Temos conversado muito com algumas universidades que têm feito testes e modelagens para a gente”.
A Veloe tem seu próprio aplicativo e seu tag para pessoas físicas em que cobra mensalidade a partir de R$ 14,90. Mas o grande negócio da empresa está nas parcerias white label, em que a empresa rentabiliza alugando sua plataforma de tags para quem não tem a mobilidade como core business, mas quer oferecer essa funcionalidade para os clientes.
É o caso do C6 Bank, que fornece tags de pedágio sem mensalidade para seus clientes. “Hoje para o cliente pessoa física do C6, o tag é um dos principais atrativos para abertura de conta corrente. Isso entrega um valor agregado para o cliente dele e tem sido um sucesso muito grande”, disse Turquetto.
Os valores fixos por aluguel de tag ativa variam de acordo com cada empresa parceira. “Todo o custo de serviço é do parceiro e a única coisa que eu faço é emprestar minha plataforma, gerenciar essa infraestrutura de passagem e, eventualmente, dar algum atendimento. Mas para o cliente dele, todo o processo logístico, de emissão e de controle, é dele [da empresa que contrata o serviço da Veloe]”.
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A Veloe também tem o modelo de parceiros como canais de venda, ou seja, ela remunera a empresa parceira para vender a tag. “Hoje o C6 é um parceiro super estratégico, tem alavancado bastante a participação aqui dentro da Veloe enquanto canal de venda, algo em torno de 35% da nossa base”.
Entre outras empresas com quem a Veloe tem parcerias white label estão a Unidas, em que todo o veículo de aluguel de longo prazo tem a tag da Veloe, a Uber, por meio da bantech Digio, a 99 e o BTG Pactual, no aplicativo BTG+, além de parcerias com os principais times de futebol do Brasil para emitir tags com as logos personalizadas dos clubes.