Fábio Lins, superintendente executivo de canais, PIX e open finance do Banco Original. Foto: Divulgação.
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A estratégia do Original para conquistar pelo menos 1 milhão de clientes nos próximos dois meses

O banco que nasceu digital está acelerando o passo para crescer na onda da agenda de inovação do Banco Central. Atualmente, o Original, que controla pertence à mesma holding do PicPay, tem 5 milhões de clientes

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A segunda fase do open banking, que no Brasil é algo que vai além do sistema bancário e por isso foi batizado de open finance, começou na última sexta-feira. É nessa fase que uma parte dos clientes das instituições já aprovadas para participar do novo sistema começam a consentir o compartilhamento dados com outras instituições. É o primeiro passo da revolução de competitividade, acesso a serviços financeiros e crédito mais barato que se espera desse item da agenda de inovação do Banco Central

É também a oportunidade perfeita para o Banco Original, instituição que tem licença de banco mas segue a cartilha digital, com uma API aberta a desenvolvedores, desde a sua fundação, em 2016, que conquistar pelo menos 1 milhão de clientes de outras instituições nos próximos dois meses.

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Embora a agenda regulatória do open banking seja uma tendência global, o desenho do sistema e a estratégia de implementação mudam em cada país. No Brasil, a gestão centralizada do Banco Central e a criação de um padrão de comunicação via APIs (application programming interface) são os grandes diferenciais em comparação com o modelo adotado em outros países. Com uma camada de tecnologia padronizada e portabilidade de dados facilitada, grandes bancos, bancos digitais e fintechs deram início a uma corrida para ver quem oferece o melhor portfólio e experiência.

Após a integração das APIs das instituições na primeira fase, na segunda etapa os consumidores poderão – se quiserem, claro – compartilhar seus dados com outras instituições e fintechs em busca de melhores serviços e ofertas. Isso será feito de forma escalonada, em quatro ciclos, até alcançar 10% da base de clientes de cada instituição. Esse escalonamento vai acontecer para que qualquer problema de comunicação na camada de integração das instituições possa ser resolvido rapidamente sem que muitas pessoas sejam afetadas. 

Entre 13 de agosto e 12 de setembro, os consumidores abordados via aplicativo pelas instituições poderão compartilhar seus dados cadastrais, como nome e endereço. Entre 13 e 26 de setembro, poderão também compartilhar dados transacionais e de poupança. Entre 27 de setembro e 10 de outubro, poderão compartilhar dados de cartão de crédito e operações de crédito. E entre 11 e 24 de outubro todos os dados citados anteriormente poderão ser compartilhados.

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Em conversa com o LABS na última segunda-feira, Fábio Lins, superintendente executivo de canais, PIX e open finance do Banco Original, disse que as instituições estavam dando a largada na segunda fase com um tanto de cautela, testando fluxos entre APIs para que quando o cliente fosse convidado a compartilhar seus dados a experiência estivesse fluindo bem. No final da manhã daquele dia, o Original ainda não tinha feito, efetivamente, nenhum comunicado a seus clientes, mas esperava fazer o primeiro no período da tarde. “[Com a segunda fase] Colada à terceira fase, que começa agora no fim do mês, teremos a oportunidade de falar com, pelo menos, 1 milhão de clientes até outubro. E dependendo de onde cada um vier, a proposta [para atraí-lo para o Original] será bastante agressiva”, disse Lins. 

Atualmente, o Original tem pouco mais de 5 milhões de clientes, sendo 4,8 milhões de pessoas físicas, 215 mil MEIs, e 8 mil empresas. Na terceira fase, citada por Lins, as instituições poderão integrar serviços de pagamento, mais especificamente o PIX. O consumidor poderá, então, autorizar que uma instituição realize um pagamento ou mesmo aceitar ofertas de crédito.

Sede do Banco Original, em São Paulo. Foto: Divulgação.

Preparando os clientes para a chegada da nova fase do open finance, o Original comunicou seus correntistas, via bot, direto no app, que isso aconteceria. Pelo menos 23 mil responderam que teriam intenção de compartilhar seus dados em outras instituições com o Original. 

Segundo Lins, o Original fez um ranking das instituições participantes do open banking, que batizou de “Motor Original de Inteligência Financeira”. Quanto maior a instituição de origem e maior tempo de relacionamento o cliente tiver com ela, mais agressiva será a oferta do Original.”E aí estamos falando de competição desde o começo do processo. Se esse cliente for novo e vier do Itaú ou do Bradesco [dois dos maiores bancos do Brasil], por exemplo, só o tempo de abertura de conta, que já é mínimo, cairá pela metade. Para quem já é cliente do Original poderemos rever a oferta de serviços. Poderemos oferecer coisas como limite de conta 40% maior do que na outra instituição e trazer esse cara para cá [de vez]”, ressaltou Lins.  “A cada ciclo da segunda fase, e a cada fase, poderemos ir melhorar as ofertas feitas aos nossos e aos novos clientes”, reforçou Lins. 

Enquanto as grandes instituições eram obrigadas a participar do open banking, as fintechs e mesmo bancos menores como o Original poderiam escolher participar ou não. “Nós nascemos dentro desse conceito e hoje prestamos serviços de pagamentos e concessão de crédito para mais de 40 players dentro do nosso braço de Bank as a Service, o Original Hub. Já estamos acostumados a fazer isso via acordos bilaterais. O que muda agora é que está tudo padronizado e automatizado. Em outras palavras, não tinha por quê não participarmos desde o início, e discutindo a implementação do sistema ao lado dos grandes bancos”, contou Lins.

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Diferente de outros bancos digitais, que vêm crescendo apoiados em isenção de tarifas como principal chamariz, o Original rejeita a política de gratuidade. Por isso também cresce, aparentemente, em ritmo menor do que os concorrentes. Mas há mais para medir o sucesso de neobanco do que o número de correntista.

Uma amostra do sucesso que o Original pode obter com o open finance está nas ofertas cruzadas que vem fazendo aos clientes do PicPay, maior carteira digital do Brasil que pertence à mesma holding que controla o Original, a J&F.

Ainda em 2020, o Original lançou uma operação de cartões de crédito e passou a ofertá-los a não-correntistas, mais especificamente aos usuários do PicPay. Dos 8 milhões de cartões emitidos pelos bancos até março, 5 milhões foram para não-correntistas usuários da carteira digital

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