Fundadores do neobanco colombiano Plurall: Gustavo González, Natalia García, Glenn Goldman, Monica Saavedra e Federico Gómez. Foto: Divulgação.
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Banco digital colombiano com foco em empreendedores individuais, Plurall lançará sua lista de espera neste mês de abril

A estreia da fintech está ancorada em uma emblemática rodada pré-seed de US$ 1,5 milhão em ações e US$ 10 milhões em dívida. Em entrevista ao LABS, Glenn Goldman, cofundador e CSO da Plurall, disse que a fintech espera fechar seu primeiro ano com 40 mil clientes

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O Plurall, um neobanco colombiano fundado em agosto do ano passado, com foco nos empreendedores individuais, está preparando sua estreia agora em abril. A ideia é primeiro criar uma lista de espera para que, aos poucos, os clientes tenham acesso a contas digitais e soluções de capital de giro de até COP 2 milhões (cerca de R$ 2,5 mil). A estreia está ancorada em uma rodada pre-seed emblemática, anunciada há duas semanas: o Plurall levantou US$ 1,5 milhão em ações e US$ 10 milhões via financiamento de dívida (debt financing) de um fundo cujo nome não foi divulgado, com sede em Londres e “mais de US$ 3 bilhões em ativos sob gestão e um carteira de mais de 90 investimentos em todo o mundo”.

Segundo Glenn Goldman, cofundador e CSO do Plurall, esta talvez seja a primeira vez na América Latina – e provavelmente no mundo – que uma startup consegue levantar recursos via dívida institucional internacional para originar seus primeiros empréstimos. E apesar do começo na Colômbia, o Plurall foi idealizado para toda a América Latina.

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“Na Colômbia, existem cerca de 10 milhões de pequenas e médias empresas. Cerca de 8 milhões são totalmente informais e 400 mil são, de fato, formalizadas. No meio disso há o nosso mercado-alvo, composto por cerca de 1,6 milhão de pessoas que não são totalmente formalizadas, mas são registradas em suas Câmaras de Comércio. Isso exige que eles relatem uma certa quantidade de informações todos os anos, como que tipo de negócio têm, quanta receita geram, quantos funcionários têm etc. E isso permite que empresas como nós ofereçam produtos a eles(…) Estamos focando nos empreendedores solo porque eles têm a maior necessidade e tendem a ser os mais ignorados [pelos bancos tradicionais e fintechs]. Ao descobrir como atender empreendedores autônomos, somos como um híbrido trabalhando entre empresas e indivíduos, então criamos muito mais valor enquanto resolvemos um grande problema”, disse Goldman ao LABS.

Além de Goldman, que foi cofundador da norte-americana CAN Capital e é conselheiro de uma série de fintechs latinas, o time de fundadores do Plurall é formado por Federico Gómez (ex-YaGanaste México, da holding PagaTodo), Monica Saavedra (ex- chefe de produtos da Movii), Natalia García (ex-gerente de mercado e crescimento da Movii), Martha Fajardo (ex-Novo Payment e Fiado, e agora CTO do Plurall) e Gustavo González (ex-diretor de produto e plataforma da fintech de BNPL Referencia).

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O Plurall começará oferecendo uma conta digital e empréstimos de capital de giro como seus primeiros produtos. “As únicas pessoas que ganham dinheiro emitindo cartões são os emissores de cartões. A maneira de realmente criar usuários ativos e receita é por meio do crédito. E percebemos que este é realmente o produto mais básico e crítico para nossos clientes-alvo. Por isso, decidimos oferecer uma conta digital, mais crédito e um cartão de débito Visa logo de cara”, disse Goldman, ressaltando que o Plurall consegue fazer algo assim, sem ter de correr atrás de licenças próprias, por causa do desenvolvimento do ecossistema latino-americano nos últimos anos e, consequentemente, das fintechs Banking as Service que surgiram — em especial, a Powwi, que será a sociedade de crédito por meio da qual o Plurall oferecerá empréstimos e contas digitais.

Após a lista de espera, o Plurall deve ser lançado para o público em geral em setembro deste ano e, logo em seguida, deve também incorporar ao seu portfólio um cartão de crédito e uma solução BNPL (Compre Agora, Pague Depois) para transações entre empresas (B2B). “No primeiro ano, pretendemos ter cerca de 40 mil clientes. E [antes de ir para outros mercados na América Latina] esperamos ter algo em torno de 120 mil clientes. Agora estamos aumentando nossa rodada da Série C [para poder fazer tudo isso].”

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“O que levou 15 anos nos EUA, levou cinco no Brasil e menos ainda em outros países”

Como alguém que explorou o início do ecossistema de fintechs nos EUA no início dos anos 2000 e hoje é consultor de muitas fintechs latino-americanas, Goldman diz que o que está acontecendo na região agora é muito parecido ao começo das fintechs lá nos EUA, só que tudo está acontecendo muito mais rápido.

“Tornei-me CEO da minha primeira empresa [Can Capital] em 2001, pioneira no adiantamento de caixa para comerciantes, isto é, emprestar para pequenas empresas com base em suas vendas futuras. Hoje, a Clip oferece esse produto no México, a BizCapital oferece no Brasil; é um produto global. Mas, veja, em 2001, tínhamos de fazer tudo sozinhos; não nem tínhamos CRM e o Salesforce não existia. Em 2016, fui apresentado a um grupo de caras interessantes que queriam lançar um neobanco para PMEs. Conheci os três fundadores; eles não sabiam nada sobre crédito ou sobre fintech, mas eram muito inteligentes. Eles eram a BizCapital, um dos maiores neobancos de PMEs do Brasil hoje. Mas a questão é: só em 2016 percebi que o que estava começando a acontecer na América Latina era muito parecido com o que aconteceu nos EUA no início de 2000”, lembrou Goldman. É isso também, segundo ele, que explica a rodada inédita da fintech, composto por financiamento de dívida.

O que levou 10 a 15 anos nos EUA, no entanto, levou cinco anos no Brasil e três anos no México, e está acontecendo quase da noite para o dia na Colômbia, Chile e Peru. E isso porque os empresários da América Latina são alunos incríveis do que funcionou em outros mercados. Os brasileiros aprenderam o que aconteceu nos EUA, depois os mexicanos aprenderam sobre os EUA e o Brasil, e assim por diante. Eles são a terceira geração de empreendedores e estão usando esse capital intelectual

Glenn Goldman, cofundador e CSO do Plurall.