A fintech brasileira Cora anunciou nesta terça-feira (24) um aporte de US$ 116 milhões (pouco mais de R$ 600 milhões) em uma rodada Série B liderada pelo Greenoaks Capital. A Cora é o “Nubank das pequenas e médias empresas” e hoje oferece conta digital, cartão de débito e um cartão de crédito de bandeira Visa limitado para alguns usuários.
Quando Igor Senra, cofundador e CEO da Cora, conversou com o LABS em 2020, a fintech tinha 20 mil clientes e pretendia chegar a 40 mil. De lá para cá, a empresa recebeu um aporte de US$ 26,7 milhões (R$ 150 milhões) da Ribbit Capital em abril e o negócio escalou com 60 mil clientes. Mas a aceleração mesmo veio em agosto: 140 mil clientes e a expectativa de fechar o ano com 380 mil.
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A nova rodada não veio por necessidade de caixa, mas pelo rápido crescimento que chamou a atenção do Greenoaks Capital, que já tinha participado da Série A quatro meses antes. O fundo americano decidiu antecipar o aporte, inicialmente previsto para 2022. Ribbit Capital, Kaszek Ventures, QED Investors e os mais novos nomes internacionais Tiger Global e Tencent também entraram na rodada.
Qual é o segredo da escalada? Experiência, customização do produto e cenário de mercado ideal. Senra e seu sócio Leonardo Mendes já tinham uma experiência de 13 anos com fintechs. Eles co-fundaram uma das primeiras startups de soluções de pagamento online do Brasil em 2007, a Moip (que hoje pertence à PagSeguro).
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“A experiência que a gente acumulou encontrou uma condição de mercado especial, que é a tendência mundial de migração para banco digital. Quando a gente encontrou essa condição, conseguimos construir isso partindo da necessidade do cliente. Conversamos muito com o cliente, entendemos o que ele quer para desenvolver produtos mais aderentes”, disse Senra, em entrevista ao LABS.
O pontapé inicial da Cora foi dado em dezembro de 2019, quando a recém-criada startup levantou US$ 10 milhões em uma rodada Seed da Kaszek Ventures e Ribbit Capital. Ao todo, a fintech já soma US$ 152,7 milhões (quase R$ 800 milhões) em investimentos de capital de risco.
No ano passado, quando a Cora recebeu autorização do Banco Central para atuar como instituição financeira, a startup perdia dinheiro com cada cliente que permanecia em sua base porque, com o aplicativo gratuito, não gerava receita significativa. Isso mudou. Senra agora diz que a Cora ganha dinheiro com cada cliente.
Assim como o Nubank (e boa parte das startups), a Cora gera receita – não divulgada –, mas não dá lucro. Por que uma empresa bem-sucedida dá prejuízo? Senra explica que a startup está crescendo a base de clientes em uma velocidade muito grande, o que eleva o custo de aquisição do cliente e não dá tempo de diluir dentro do que a empresa ganha. “Em termos de volume transacionado na plataforma desde que a gente lançou, crescemos 60% por mês. As empresas mais tradicionais demoram anos para chegar nisso, não dá para comparar”.
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O capital recém-injetado será usado no desenvolvimento de novos produtos e soluções. “Queremos crescer, mas queremos continuar melhorando a qualidade do serviço que a gente presta. A maior parte das empresas quando cresce, se perde, e a qualidade do produto diminui. Boa parte dos nossos recursos irá para conseguirmos manter a qualidade do que a gente tem agora”, disse o CEO.
Outra parte do montante será usada para conceder crédito às empresas que usam o banco digital. A ideia é incorporar produtos de crédito, desconto de duplicatas, capital de giro e, eventualmente, até investimentos.
Equipe: trabalho híbrido e colaboradores sócios
A startup tem hoje 168 funcionários e espera chegar ao final do ano com cerca de 250. “No ano que vem devemos chegar aos 500”, diz Senra.
Dos 168, cerca de 130 funcionários já são sócios da Cora, que adotou um programa de “partnership” que permite que os colaboradores comprem ações da empresa, financiados pela própria startup. “Todo mundo vai ser sócio, é só o tempo de formalizar”, explica o CEO. A Cora recentemente contratou as executivas Susana Yamamoto como CFO (Chief Financial Officer) e Mônica Leite como CLO (Chief Legal & Compliance Officer).
Escalando no meio da pandemia da COVID-19, a Cora tem hoje um time remoto espalhado em diversos estados do Brasil. Mas, para o ano que vem, a fintech pretende voltar para o escritório com um modelo híbrido: uma semana presencial e três de onde o funcionário quiser (inclusive o escritório).
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“Temos a possibilidade de reescrever como as pessoas vão trabalhar de agora para frente. Para mim é muito claro que trabalho remoto tem vários benefícios, mas perde em algumas outras coisas como a interação, o contato entre as pessoas e a criação de vínculos é um pouco mais difícil”, disse.
Até o momento, Senra acredita que “esse é o modelo vencedor [para trabalho híbrido]”. “Estamos dispostos a tentar uma coisa diferente do que esse modelo estranho que boa parte das empresas está tentando fazer para economizar aluguel”.