Imagem: Simple Nutri/Screenshot
Entre os diversos problemas agravados pela pandemia de COVID-19, a fome é um dos mais devastadores. De acordo com a ONU, a América Latina foi a região onde o número de pessoas passando fome mais cresceu, saltando de 45,9 milhões para 59,7 milhões. No Brasil, segundo o Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar, da Rede Penssan, 19 milhões de pessoas passavam fome em 2020. Foi de olho nesse problema global que a startup Simple Nutri surgiu.
Fundada em 2020 por Rafael Romano, a startup atua em três frentes: doação de refeições, fornecimento a preço de custo (mais frequente em causas específicas) e venda de refeições, que é de onde vem a remuneração da Simple Nutri. O carro-chefe do portfólio são os alimentos desidratados por meio de um processo natural, sem aditivos, que remove a água dos alimentos para conservar suas características.
Com isso, os produtos não têm sua estrutura celular destruída e mantêm a forma, a cor, o cheiro e o sabor exatamente iguais após a reidratação. Isso permite à startup transportar e armazenar em média quatro vezes mais alimentos no mesmo espaço. Os produtos também têm um prazo de validade maior (1 ano), podendo ser mantidos em temperatura ambiente e ser facilmente preparados. Em 2022, a empresa já forneceu 70 toneladas e alimentos desidratados. Até o fim do ano, a previsão é bater a marca de 280 toneladas.
A empresa produz seus alimentos em uma fábrica no sul do Brasil. Quando preparados para comercialização ou doação, os alimentos já são desidratados com a refeição completa. O catálogo é composto principalmente por sopas e risotos, preparados com diversos ingredientes naturais e de altos índices nutricionais, como carne, frango, lentilha, vegetais, arroz e massa.
Para além do core business, a startup tem uma abordagem social forte e, embora a empresa tenha planos de, no futuro, lançar um braço dedicado ao segmento de varejo, o foco atual é o da demanda social. Hoje, a Simple Nutri se sustenta por meio da venda dos alimentos para organizações como Nações Unidas, CARE, movimento União BR, Agência Brasileira de Cooperação, Cruz Vermelha, entre outros. Além disso, a startup também é grande fornecedora de alimentos para projetos sociais globais, por meio de parcerias com empresas e organizações que abordam a empresa e são direcionadas pelo time de marketing para as causas que mais conversam com seus negócios. Nesse caso, além de fornecedora, a Simple Nutri atua como mediadora para aproximar as empresas das regiões necessitadas.
Somos sonhadores, queremos ser os protagonistas no combate à fome. Temos mais de 1 bilhão de pessoas passando fome e mais de dois bilhões de pessoas sofrendo de insegurança alimentar. Sem falar em tragédias como a guerra que acontece hoje na Ucrânia. O mercado social mexe mais com o DNA da empresa do que a ideia de aumentar a escala. [Mas é claro que] Nosso produto combina com vários outros mercados: varejo, grandes refeitórios industriais, etc.
Rafael Romano, CEO da Simple Nutri
Com essa tese, a Simple Nutri já atua em projetos sociais de diversas partes do mundo, na América do Norte, Europa e África. “Hoje a Simple Nutri é sediada no Brasil com filial nos Estados Unidos, mas nossa atuação é global. Nós montamos nosso projeto no início da pandemia, diante do crescimento da fome do mundo. Nossa proposta é ser muito mais do que uma fornecedora de alimentos. Sempre buscamos entender as necessidades das pessoas, tendo em mente que é um tópico multidisciplinar”, contou Romano em entrevista ao LABS.
Cada projeto, cada país, impõe desafios particulares. “Cada região tem uma barreira diferente. Nos Estados Unidos, há uma questão cultural de valorizar produtores internos. Então, para quebrar essa barreira de rejeitar produtos do Brasil, precisamos de uma estratégia muito bem pensada. Fazemos isso com o cashback social: apesar de comprarem produtos de outro país, os americanos investem em projetos de educação e empreendedorismo dentro de seu próprio país. Por isso, sempre tentamos enxergar de forma mais ampla para criar um vínculo inicial e encontrar essa porta de entrada”.
LEIA TAMBÉM: Crise de energia afeta preços de alimentos e inflação, diz Campos Neto
“Nós temos uma prateleira de projetos que apoiamos no mundo todo. Chegamos em uma multinacional e mostramos esse catálogo. O executivo escolhe um projeto e vem conhecer com a gente, e trabalhamos com nosso marketing para que eles encontrem a forma de participar do projeto. Para isso, é importante mantermos as operações nos trilhos, passando segurança e mostrando que nosso sistema funciona”, ressalta Romano, reforçando que é tudo uma questão de cuidar da experiência tanto de quem doa quanto de quem recebe as doações. “Do ponto de vista empresarial, fomos quem mais enviou apoio para as vítimas da guerra da Ucrânia, por exemplo. Mandamos inclusive materiais cirúrgicos, ressaltando nossa intenção de ir além do fornecimento de alimentos”.
A Simple Nutri não abre números referentes ao crescimento e faturamento da empresa, mas, segundo Romano, a operação já é sustentável. Tanto, que captar uma rodada de investimento não está no horizonte da startup.
LEIA TAMBÉM: JBS compra empresa de alimentos de base vegetal Vivera por € 341 milhões
“Hoje, não temos a necessidade de aportes de investimento. Nossas operações já são auto-suficientes e dão a saúde financeira necessária para alavancarmos o processo e ir expandindo. Somos uma startup um pouco diferente porque nosso produto já existe, nossa tecnologia já existe. Não precisamos de máquinas e tecnologias novas, o processo depende apenas de aplicarmos um método para resolver um problema do mundo”, explicou, acrescentando que a Simple Nutri se vê como startup por enxergar a possibilidade de escalar em curto prazo para um mercado global com demanda crescente, tendo uma visão multidisciplinar e disruptiva, sem um aumento de custos proporcional a receita.
Os próximos passos da startup são investir na tecnologia das embalagens, para otimizar mais o armazenamento e o transporte dos alimentos desidratados. Além disso, há planos para aprimorar o processo para que, mesmo após a abertura de uma embalagem, o alimento tenha uma validade mais longa e haja menos desperdício.
This post was last modified on maio 4, 2022 1:58 pm
O braço de investimento do fundo soberano da Arábia Saudita divulgou parcerias com a a16z,…
A empresa de Elon Musk adicionou o logotipo do cachorro da criptomoeda Dogecoin à sua…
Para estrategista-chefe de renda variável do banco, que previu o sell off de ações em…
Empresa de hotelaria fundada na Índia apresenta novos documentos para abertura de capital; startup tinha…
Aplicativo de transporte que deixou o Brasil em 2021, levantou US$ 110 milhões em uma…
Jobecam, empresa de tecnologia para recrutamento, teve aporte do ex-presidente do BC e de Daniel…