Cartão de débito Rappi, em parceria com a Visa
Cartão de débito Rappi, em parceria com a Visa. Foto: Shutterstock/Sebastian Barros
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Regulação e novos players de mercado abrem caminho para a digitalização financeira na Colômbia e no México

De usuários recém-incluídos financeiramente a novas fintechs e serviços que buscam licenças de instituições financeiras, a pandemia levou a uma digitalização sem precedentes em países como Colômbia e México. Os colombianos Rappi e Davivienda e a mexicana Oxxo estão de olho nesse movimento

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Com a pandemia de COVID-19 forçando a digitalização de um número inédito de atividades na América Latina, os serviços financeiros também ganharam outro ritmo, à medida que os consumidores buscavam novas formas de pagar, transacionar ou mesmo receber fundos emergenciais. Na Colômbia, mais de 5 milhões de novas contas de poupança foram abertas de março a setembro de 2020, de acordo com a Superintendencia Financiera, a agência do governo colombiano responsável pela supervisão da regulação financeira.

De acordo com a Banca de las Oportunidades, política nacional colombiana, os últimos dados de setembro mostram que 31,6 milhões de colombianos –ou 87,1% da população adulta do país –, têm acesso a um produto ou serviço bancário. “O caminho para a digitalização das atividades financeiras passa pelo incentivo de inovadores no setor financeiro e das fintechs, mas também pelas políticas públicas que viabilizem seu desenvolvimento. Regulações e diretrizes que permitam a existência de atividades como os pagamentos digitais acabam sendo fundamentais”, resume Diego Herrera, especialista líder em mercados financeiros do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em entrevista ao LABS.

Diego Herrera, especialista líder em mercados financeiros do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Foto: BID/Divulgação.

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Por um lado, a regulação abre espaço para o surgimento de novos produtos financeiros inovadores. Por outro, é um caminho natural para empresas em busca de consolidação. É o caso da parceria de dois anos entre o superapp colombiano Rappi e Davivienda, um dos maiores bancos do país: as empresas anunciaram em março que avançam com uma aliança que já alcançou, só em 2020, 730 mil clientes e mais de 20 milhões de transações. Agora, a parceria Rappi-Davivienda busca licença de instituição financeira, solicitada à Superfinanciera, para a criação de um novo banco digital.

Para o CEO do Davivienda, Efraín Forero, esta próxima etapa, após o lançamento da carteira digital RappiPay e do cartão de crédito RappiCard, é um “grande passo para continuar transformando o caminho para a abertura de ecossistemas de pagamento entre fintechs e bancos, aprimorando os pagamentos digitais e seguros na Colômbia, reduzindo os custos transacionais e de acesso, e reduzindo o uso de dinheiro”, disse. 

Segundo Juan Felipe D’luyz, analista de ações que acompanha o assunto na gestora de investimentos Casa de Bolsa, da holding colombiana Grupo Aval, a nova instituição permitirá ao Rappi expandir seu ecossistema digital na Colômbia, à medida que aumenta sua aliança com Davivienda, com participação de mercado por carteira bruta de 16,4% e base de clientes de 17,5 milhões. A quota de canais digitais do Davivienda cresceu para 52% no final de 2020. 

“Alguns dos novos serviços que esta nova instituição de crédito vai oferecer, que tem quase as mesmas ofertas de um banco, serão, por exemplo, um novo cartão de crédito, acesso a crédito para Rappitenderos [entregadores parceiros do Rappi] e suporte de crédito para restaurantes parceiros”, explica D’luyz. “Eles se somariam ao serviço da RappiPay”.

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Com a nova instituição financeira, que terá 50% das ações de cada empresa, a Rappi poderá expandir seus serviços financeiros sempre com foco no RappiCard – que já conta com mais de 100 mil colombianos que pediram o cartão de crédito e estão na lista de espera –, e na carteira digital RappiPay, com 700 mil usuários ativos. 

De acordo com o superapp, seu cartão de crédito oferecerá aos usuários uma versão virtual e física, 1% de cashback em todas as compras, além de um personal banker no aplicativo e nenhuma taxa administrativa. No aplicativo do Rappi, os usuários também poderão ver um mapa de onde as compras foram feitas.  

Para o especialista do BID, há uma tendência, não só na Colômbia, mas na América Latina como um todo, de colaboração entre instituições financeiras e plataformas digitais. “Isso permite que os primeiros ofereçam produtos em mercados que antes não alcançavam, mas também aproveitam os benefícios dos últimos: dados sobre o consumo de bens e serviços, informações sobre pagamentos e gestão de caixa, localização geográfica do consumo,” aponta Herrera. 

“Por outro lado, as plataformas digitais se beneficiam de acordos com instituições financeiras ao terem acesso aos serviços que elas prestam, incluindo benefícios na gestão de recursos e crédito. Vencem não só as instituições e plataformas financeiras, mas também o consumidor financeiro (… ) com a possibilidade de ter mais uma porta para ser incluído financeiramente. ” 

Embora não se conheça mais detalhes, como o nome do novo neobanco que vai entrar no mercado colombiano, Rappi e Davivienda esperam que as operações sejam iniciadas em dezembro, após receber o sinal verde do regulador. Com mais de 7 milhões de usuários e presença em mais de 220 cidades em 9 países latino-americanos, o Rappi atingiu valuation de US$ 3,5 bilhões depois de levantar uma rodada Série F de US$ 300 milhões liderada pela gestora de investimento americana T. Rowe Price em setembro.

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A queridinha mexicana OXXO entra no mundo fintech com Spin

Unidade Oxxo, no México. Foto: Shutterstock.

A digitalização financeira é terreno para novos players como Rappi – mas também para os tradicionais, como a OXXO. A maior rede de lojas de conveniência da América Latina, com mais de 17 mil lojas espalhadas pelo México, anunciou em março sua entrada no ecossistema fintech com o lançamento do Spin, um aplicativo para serviços financeiros como envio e recebimento de dinheiro, depósito e verificação de saldo na conta.

“O Spin permite que você faça as mesmas coisas que faria nas lojas: pagar pelos serviços, recarregar o celular (…) mas você pode fazer no smartphone e carregar o cartão Spin nas lojas OXXO, sacar dinheiro”, disse Eugenio Garza y ​​Garza, CFO da controladora da OXXO, FEMSA.

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Segundo a empresa, a conta não cobra taxas de abertura, comissões de valor mínimo ou anuidades, e os usuários podem solicitar um cartão físico Spin, com bandeira Visa, para compras.

Para Ignacio Carballo, economista, professor, diretor do Ecossistema Fintech da Universidade Católica de Buenos Aires e afiliado do Cone Sul da AMI (Americas Market Intelligence), o novo empreendimento da OXXO é um anúncio muito importante. “Não só porque é mais um player que se junta ao ecossistema mexicano de fintech, mas também porque OXXO é, entre outras coisas, uma marca muito conhecida no México e parte de sua cultura”.

Ignacio Carballo, economista, professor e diretor do Ecossistema Fintech da Universidade Católica de Buenos Aires. Foto: Divulgação.

O economista explica que, enquanto para os usuários, a maior vantagem é ter uma oferta digital mesclada com amplo acesso às lojas físicas, devido à vasta presença geográfica da OXXO; para a empresa, a entrada no mundo fintech permitirá que novos produtos financeiros e modelos de negócios aumentem a rentabilidade da operação. Para o ecossistema, ele destaca que há expectativa de que o novo serviço reduza a circulação de dinheiro.

“Lembremos que o México, além de ter grandes players como PayPal e Mercado Pago, e também iniciativas públicas como Spei e CoDi, ainda é uma das economias com maior participação de circulação de dinheiro. Para quem tem algum tipo de acesso a uma conta e acaba durando muito pouco tempo no sistema financeiro, esperamos [com o novo lançamento] que eles possam ficar mais tempo no sistema financeiro sem precisar ir a uma loja OXXO para pagar ou cobrar à vista ”, afirma.

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Spin by OXXO aguarda autorização regulatória e as contas serão abertas na Compropago, empresa em processo de homologação pela CNBV, agência independente vinculada à Secretaria de Finanças e Crédito Público do México. Por enquanto, os recursos vinculados à loja OXXO no aplicativo estão disponíveis apenas no estado de San Luis Potosí, enquanto o aplicativo Spin está habilitado para operar em todo o país e disponível nas lojas de aplicativos desde março.

De acordo com a OXXO, o Spin tem como objetivo levar serviços financeiros a todos os mexicanos por meio da inovação e da tecnologia em seus dispositivos móveis. “As vantagens são inclusão financeira, redução de caixa, digitalização financeira para os consumidores e eu acrescentaria ainda que este é um forte player de mercado que pode promover ainda mais a competição no México, impulsionando a inovação em todo o ecossistema”, acrescenta Carballo.