SafeSpace capta R$ 11 milhões para combater má conduta nas empresas
As cofundadoras da SafeSpace: Giovanna Sasso, Natalie Zarzur, Rafaela Frankenthal e Claudia Farias. Foto: Victoria Manzoli
Negócios

SafeSpace capta R$ 11 milhões para combater má conduta nas empresas

Para ajudar empresas a construir uma cultura inclusiva e diversa, startup fundada por quatro mulheres criou ferramenta de compliance para registro e gerenciamento de denúncias no ambiente de trabalho

Read in english

A SafeSpace, plataforma de relatos e monitoramento de casos de má conduta no ambiente profissional desenvolvida pelo quarteto Rafaela Frankenthal, Giovanna Sasso, Natalie Zarzur e Claudia Farias, acaba de anunciar uma captação de R$11 milhões em rodada liderada pelo fundo ABSeed Ventures e acompanhada pelo DGF Investimentos e investidores-anjo. Esse é o maior investimento já feito no Brasil em uma startup liderada apenas por mulheres.

Com pouco mais de um ano de operação, pode-se dizer que a SafeSpace é “uma startup de seu tempo”. A empresa criou uma plataforma voltada para as empresas na qual os colaboradores podem registrar queixas e denúncias relacionadas ao ambiente de trabalho. A demanda que a SafeSpace atende não é exatamente nova, pelo contrário. Mas a pressão e a cobrança para que as empresas mudem a abordagem do tema e as políticas de resolução desse tipo de conflito (ou crime, dependendo dos casos) são relativamente recentes. 

De repente as empresas passaram a ser mais demandas e cobradas a olhar para esses processos de forma mais ativa, fornecendo as ferramentas de compliance necessárias para garantir um espaço seguro e saudável. Muitos dos canais e processos tradicionais são desenhados só para cumprir requisitos de regulamentação, mas não são suficientes para promover um espaço seguro. Esse é um desafio recorrente e um exercício constante.

Rafaela Frankenthal, cofundadora da safespace

A tese inovadora – e questionadora – da startup convenceu investidores de peso de largada. Em outubro passado, apenas um mês após fechar o primeiro contrato, a SafeSpace captou uma rodada pre-Seed com o fundo MAYA Capital e outros 11 investidores-anjo, entre eles Ariel Lambrecht, fundador da 99; Ann Williams, COO da Creditas; Mariana Dias, CEO da Gupy e Luciana Caletti, fundadora do antigo Love Mondays

Hoje, a startup já atende mais de 50 empresas e 15 mil colaboradores têm acesso à plataforma. A grande maioria dos clientes são companhias jovens de tecnologia, mais aderentes e atentas à construção de uma cultura inclusiva, acolhedora e diversa. “A atração e retenção de talentos também é um ponto chave, que motiva as empresas a investir em uma cultura saudável”, diz Rafaela. Entre as empresas clientes estão startups como Creditas, Buser, Rock.Content, isaac, Facily e Not.Co.

LEIA TAMBÉM: Nas nuvens: CloudWalk atrai Coatue, capta US$ 150 milhões e é o novo unicórnio do Brasil

O capital levantado na rodada Seed vai ser investido no aprimoramento do produto e na estruturação das áreas comercial e de marketing, com foco na aquisição de clientes. Segundo Rafaela, menos de 25% dos problemas ocorridos no ambiente de trabalho são reportados e resolvidos internamente. “Ainda temos muito chão pela frente.” 

Como a SafeSpace funciona

A ideia de desenvolver um produto focado em compliance e boas práticas de conduta e relacionamento surgiu enquanto Rafaela fazia um mestrado em estudos de gênero em Londres. Foi mais ou menos quando estourou o movimento global Me Too, que trouxe à tona dezenas de denúncias, principalmente de assédio sexual, nos mais variados ambientes de trabalho – de Hollywood às Forças Armadas. O movimento escancarou a urgência do debate sobre ambientes de trabalho mais seguros, diversos e inclusivos e jogou luz sobre outros tipos de comportamentos e práticas violentas, abusivas e, em última instância, criminosas. 

LEIA TAMBÉM: Empresas brasileiras finalmente descobrem que diversidade não é só marketing — também faz bem ao negócio

Atentas a como o mercado estava respondendo ao movimento, as quatro founders começaram a desenhar um produto de compliance que ajudasse as empresas a ter um olhar mais macro sobre práticas como assédio moral, sexual, discriminação de gênero, racismo, corrupção, fraude, conflitos de interesse, conflitos éticos, bullying, entre outros. 

A plataforma da SafeSpace oferece duas aplicações. Uma delas é destinada para o funcionário (mas não apenas, já que as empresas podem utilizar a plataforma como canal de diálogo com fornecedores, clientes, acionistas, entre outros stakeholders) registrar a queixa. A ferramenta guia o usuário ao longo do processo e ajuda a identificar o tipo de conduta que está sendo relatada, como assédio ou discriminação, por exemplo.

LEIA TAMBÉM: Bancos digitais voltados para minorias começam a despontar no Brasil com ofertas personalizadas

A outra é voltada para o administrador, geralmente o RH e/ou Compliance da empresa, na qual ele consegue gerenciar informações, fazer perguntas para o colaborador, mesmo em modo anônimo, e mapear padrões de conflitos. “O painel ajuda a empresa a mapear padrões e a ter uma visão mais macro, para endereçar a causa e definir uma estratégia de ação e prevenção”, explica Rafaela.

Quem relatou, por sua vez, consegue acompanhar todo o processo em tempo real, identificando quando seu relato foi visualizado, quando a empresa deu início à investigação e qual o resultado do processo.

Interface do painel de administrador da solução da SafeSpace. Imagem: Divulgação


A plataforma possibilita que as denúncias sejam registradas de forma totalmente anônima (nem mesmo a startup têm acesso à identidade ou ao IP do computador do qual foi registrada a denúncia) ou com identificação (nesse caso, a autoria da denúncia é confidencial, apenas a empresa tem acesso à informação). 

Há, ainda, um feature chamado Connect, que permite que funcionários façam um relato com a condição de que não sejam a primeira ou única pessoa a fazer um relato sobre o mesmo indivíduo. Assim, a queixa só será enviada para o painel da empresa caso mais de uma pessoa registre um relato relacionado a uma mesma pessoa. A funcionalidade ajuda a empresa a identificar padrões de comportamento ou falhas éticas recorrentes.

Um canal de denúncia eficiente, seguro, acolhedor não é algo negativo, que a empresa deva ‘esconder’. Se a empresa quer realmente construir um ambiente mais inclusivo e quer resolver os problemas existentes, é um motivo de orgulho.

RAFAELA FRANKENTHAL, COFUNDADORA DA SAFESPACE
Keywords