Rappi, o unicórnio colombiano que já há algum tempo deixou de se dedicar apenas às entregas de última milha para abarcar uma série de novos serviços, segue firme na ambiciosa estratégia de se tornar o maior superapp da região. Com mais de 7 milhões de usuários em nove países da América Latina, o Rappi lançou, só em 2020, duas novas verticais: entretenimento (com streaming de música, eventos ao vivo e games) e turismo.
“O Rappi Entertainment vai além da simples diversão, uma vez que integra todas as outras verticais dentro do superapp, como delivery e viagens. Assistir ao live shopping da sua marca preferida confere ao usuário a oportunidade de comprar os produtos em tempo real”, explica Sérgio Saraiva, presidente do Rappi Brasil, em entrevista ao LABS. O executivo conta que, desde o lançamento do Rappi Entertainment, em julho, a vertical já soma mais 1 milhão de usuários.
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Especificamente quando falamos de live shopping, estamos no início e já enxergamos grande potencial de mercado. Em 40 minutos, durante uma live, vendemos o triplo do que o restaurante vende em dias normais
Sérgio Saraiva, presidente do Rappi Brasil.
“Isso abre uma porta não somente para as marcas se relacionarem de forma diferente, como também é uma ação direta de venda e conversão.” Saraiva conta que a estratégia da plataforma é apostar com força em soluções que vinculem o conceito de comunidade e social com e-commerce. “E de fato ser “a” plataforma de mercado quando as pessoas pensarem em live shopping” é a meta da empresa, conta o executivo.
A tendência que surgiu na China vem ganhando corpo em outros mercados, impulsionada em grande parte pela busca de entretenimento doméstico em meio às medidas de isolamento social da pandemia do novo coronavírus. No país asiático, de acordo com um relatório da plataforma Taobao Live, do gigante chinês Alibaba, o volume bruto de mercadoria (GMV) gerado via live streaming durante o chamado Dia dos Solteiros, cresceu mais de 100% na comparação com o último ano. Em 2019, a transmissão ao vivo representou quase 20 bilhões de yuans – US$ 3 bilhões em vendas.
Já segundo a consultoria de mercado iResearch, de Shangai, enquanto o mercado de live shopping da China valia 451,3 bilhões de yuans (US$ 66 bilhões) em 2019, esse valor pode mais do que dobrar, chegando a quase 1,2 trilhão de yuans, cerca de US$ 170 bilhões, em 2020.
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No caso do Rappi, a plataforma permite ao usuário assistir streamings ao vivo, dentro do Rappi Live Events, e comprar os produtos mostrados nos vídeos sem precisar sair do aplicativo. Segundo a startup, a opção Live Shopping é a primeira na América Latina a conectar eventos ao vivo com a experiência em tempo real de compra sem que o usuário tenha que sair do app. Tudo isso para que o usuário passe cada vez mais tempo dentro da plataforma.

O que esperar do Rappi Travel
“Os dados de outubro ainda não estão disponíveis, mas podemos destacar que, durante a fase de pré-lançamento da vertical de viagens, foram realizadas 1.500 vendas por meio do Rappi Travel,” revela Saraiva.
Lançado no último mês, a mais recente unidade de negócio anunciada pela plataforma reúne ofertas de viagens e abrange empresas que comercializam passagens de avião, ônibus e hospedagem. Segundo a empresa, em breve, pacotes turísticos e aluguel de carros também farão parte do Rappi Travel.
O executivo também conta que, desde o lançamento, o principal meio de transporte comprado pelos usuários do Rappi Travel é o aéreo. Já no ranking das cidades brasileiras mais procuradas pelos consumidores até novembro, se destacam São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis e Porto de Galinhas. Na sequência, Natal, Gramado e Salvador figuram na busca.
A inovação no Rappi é constante. Como uma empresa 100% digital e user-centric, seguimos nos modificando sem receios
SÉRGIO SARAIVA, PRESIDENTE DO RAPPI BRASIL.
Últimos aportes têm foco no Brasil, principal mercado do app na região
À medida que as serviços do app aumentam, o custo da estratégia de expansão do superapp também cresce. Em setembro, a startup colombiana recebeu uma rodada Série F de mais de US$ 300 milhões, liderada pela empresa americana de investimentos T. Rowe Price. No total, o Rappi já levantou US$ 1,7 bilhão em nove rodadas de investimento desde 2015 de fundos como Andreessen Horowitz, Softbank e DST Global. As informações são da base de dados do Crunchbase. “O [último] investimento recebido tem um objetivo principal: a expansão da operação do Rappi no Brasil,” resume Saraiva.
“O valor não está sendo aplicado em apenas uma frente de interesse. Queremos ser cada vez mais fortes em produtos e verticais, assim como estar ainda mais alinhados com os nossos usuários. A última rodada recebida agrega nesse sentido, seguindo o caminho da nossa consolidação como o maior superapp da América Latina.”
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E a pandemia serviu de alavanca para estratégia. “No início da pandemia, registramos um aumento de 300% no número de pedidos, principalmente nos setores de supermercados, farmácias e restaurantes,” conta Saraiva. Isso aconteceu duas formas: usuários já acostumados a pedir comida, também utilizaram o app para substituir a ida à farmácia e ao supermercado; novos entrantes que, devido à pandemia, usaram pela primeira vez o aplicativo. Foi essa receita que, segundo Saraiva levou a vertical de supermercados a outro patamar nos últimos oito meses.
“Já triplicamos o número de personal shoppers (parceiros responsáveis por escolher os produtos indicados pelos usuários). Além disso, 85% das lojas de supermercados cadastradas no superapp já estão com disponibilidade para entrega no mesmo dia e 96% para o dia seguinte,” elenca. “O objetivo é trabalhar para chegar o mais perto possível dos 100%.”