A startup norte-americana de Buy Now Pay Later (BNPL) Sezzle acaba de anunciar sua chegada ao Brasil para disputar uma fatia do crescente mercado de soluções BNPL voltadas para pequenos e médios negócios. Fundada por Charlie Youakim, Paul Paradis e Killian Brackey e recém adquirida pela australiana Zip, a Sezzle considera o país como a porta de entrada para a América Latina.
A operação no Brasil será liderada por João Pedro Teles (CEO), Leonardo Villanova (CMO), Tiago Cajahyba (CTO) e Carlos Leão (CFO) e contará com um investimento inicial de R$ 7 milhões. A startup projeta investir outros R$ 15 milhões no segundo ano e mais R$ 25 milhões no terceiro. Em entrevista ao LABS, Teles explicou que a estratégia da fintech é financiar sua operação no país buscando recursos junto a investidores que aportam capital no Brasil e na América Latina. “Nosso plano é realizar a primeira rodada até o primeiro trimestre de 2023. O investimento antes disso vem da matriz americana, depois disso virá de recursos captados aqui”.
A Sezzle começa sua operação no Brasil com a integração com a plataforma da Nuvemshop, o que significa que o BNPL da fintech poderá ser oferecido como opção de pagamento para os clientes dos mais de 90 mil lojistas que utilizam a plataforma de e-commerce. A companhia projeta conquistar 500 lojistas parceiros e 10 mil usuários nos próximos doze meses e, em três anos, alcançar um volume geral de vendas de R$ 470 milhões, o que deve produzir uma receita de R$ 30 a 35 milhões por ano.
“O verdadeiro BNPL”
Para escalar a operação, a Sezzle aposta no que ela chama de “o verdadeiro BNPL”. Teles argumenta que, quando o BNPL começou a ganhar os holofotes em outros países, no Brasil parte do mercado se apressou em dizer que não havia novidade no produto, que se tratava do bom e velho crediário reempacotado, quando, na verdade, há diferenças fundamentais entre os dois produtos.
“O BNPL explodiu lá fora ao atender um segmento do mercado com um produto de ticket baixo e ciclo de pagamento curto, de 45 dias a dois meses. Foi um sucesso enorme porque, embora sempre tenha existido financiamento de longo prazo para bens como imóveis ou financiamento estudantil, o parcelamento de compras de bens de consumo não era comum. Foi um sucesso principalmente junto a uma parcela da população que não tinha acesso a outros meios de financiamento e parcelamento”, explicou.
Na visão do CEO, além de promover acesso à parte da população que não atende aos critérios para obter um cartão de crédito ou fazer um crediário tradicional, o principal diferencial do BNPL clássico é que não há cobrança de juros sobre as parcelas nem custos fixos para utilização.
No caso do BNPL da Sezzle, são aplicadas apenas duas taxas para o consumidor: uma de R$ 10 para reativar a conta bloqueada por inadimplência e uma de R$ 20 para o reagendamento de parcelas (o primeiro reagendamento é gratuito), para evitar o bloqueio da conta. Segundo a startup, o bloqueio da conta em caso de atraso no pagamento de uma parcela coloca uma trava no superendividamento do consumidor e estimula o uso responsável do saldo disponibilizado.
A Sezzle entende que o BNPL clássico serve para dar uma alternativa para o consumidor, para facilitar o pagamento, mas sem estimular o comportamento irresponsável com crédito.
João Pedro Teles, CEO da Sezzle no Brasil
A receita gerada por essas duas taxas cobradas dos usuários responde por apenas 15% a 20% da receita total da startup; o grosso vem da taxa fixa paga pelos lojistas parceiros. Assim, a startup ganha no volume de PMEs que conseguir trazer para sua plataforma.
O ticket médio da Sezzle é de R$ 400 reais, saldo que o usuário pode utilizar em qualquer loja que ofereça o BNPL da fintech como opção de pagamento no check out. Já o lojista recebe como se tivesse realizado uma compra à vista, descontada apenas a taxa de serviço da plataforma.
Timing e público alvo
Villanova explicou que, mais do que uma opção de pagamento, a Sezzle quer ser uma aceleradora de vendas para PMEs recém chegadas ao digital enquanto engaja um público consumidor jovem e fortemente digitalizado. “Esse é um momento muito propício. A pandemia acelerou a digitalização do varejo e trouxe muitos novos lojistas para a internet. Então, de um lado, temos esse contingente de novos negócios digitais, e do outro temos um contingente crescente de consumidores nativos digitais, da Geração Z, que é inclusive nosso principal público em outros países”.
Mas, além do consumidor gen-z, a Sezzle sabe que o mercado brasileiro tem peculiaridades socioeconômicas que precisam ser consideradas. “Queremos construir uma base de lojas parceiras que atenda não apenas esse perfil geracional. O Brasil tem muitos trabalhadores informais, com renda irregular. Queremos que a Sezzle seja uma opção para esse consumidor poder comprar e por isso vamos buscar um mix de lojas e produtos que atenda às demandas desse público, como por exemplo distribuidoras de botijão de gás”, disse Teles.