O streaming de áudio é um dos poucos serviços digitais que não explodiram durante a pandemia. Cresceram, sim, mas em ritmo mais modesto do que games, ferramentas de teletrabalho e mesmo o streaming de vídeo. A Sony Music Brasil é um ponto fora da curva.
Desde o início da pandemia, a empresa observou um crescimento de mais de 5.400% do Filtr Brasil, uma plataforma que surgiu originalmente marca global de playlists, e que atualmente funciona como uma “comunidade de música”, congregando artistas e fãs, atuando em produção de eventos, licenciamento e publicidade. O resultado tem sido tão bom que a Sony apostou recentemente em um novo canal de e-commerce ligado ao negócio.

O crescimento chama ainda mais atenção quando se olha para o mercado. Um levantamento da Comscore indica que, durante o primeiro semestre de 2020, a média diária de consumo de streaming de áudio aumentou 32% em relação ao mesmo período do ano passado.
No início da pandemia, assim que as primeiras medidas de isolamento social, as horas de áudio consumidas em casa aumentavam, mas a audição durante deslocamentos teve redução, o que foi destacado inclusive pelo Spotify, em sua última divulgação de resultados trimestrais.
“O desempenho do nosso canal Filtr Brasil tem sido excelente, muito além do que esperávamos. Temos crescido nossa audiência de forma consistente, produzindo e postando conteúdo diariamente”, diz Wilson Lannes, vice-presidente da Sony Music Brasil, ao LABS. “Começamos praticamente do zero em março deste ano e hoje somos mais de 220 mil seguidores somente no canal do YouTube.”
O bom desempenho da Sony Music no Brasil contrasta com a decisão do grupo de encerrar a fabricação de eletrônicos e encerrar os negócios dessa divisão no país. Em comunicado na última terça-feira, a empresa afirmou que fechará a fábrica, localizada em Manaus, mas manterá a assistência técnica de TVs, equipamentos de áudio, câmeras e outros aparelhos. A Sony ressaltou que a decisão não afeta os braços de jogos, soluções profissionais e entretenimento musical, que permanecerão no Brasil.
LEIA TAMBÉM: Unicórnio de games brasileira Wildlife vale US$ 3 bilhões após novo aporte
O Filtr tem hoje mais de 55 milhões de seguidores em todo o mundo, sendo 8,5 milhões somente no Brasil. Com os bons números no mercado local, a Sony Music Brasil lançou em meados de setembro a loja online Filtr Store, composta por peças exclusivas, desenvolvidas em parceria com os artistas e que só estarão disponíveis no e-commerce da marca.

“A Filtr Store foge dos layouts tradicionais e oferece artigos colecionáveis. Temos algo 100% original e artistas diretamente envolvidos na criação de cada item, o que torna a loja um meio de manifestação da arte dos talentos Sony Music”, diz Lannes.
Diversos pontos de contato com o público
A comunidade Filtr Brasil possui outros pilares de contato com o público, como o Filtr Game, que promove missões entre os usuários em troca de benefícios; o Filtr Live, divisão de eventos e shows; a série de podcasts originais Filtr e o canal Filtr Brasil no YouTube, que nos últimos meses promoveu shows com artistas como Samuel Rosa, Lagum, Rogério Flausino, Pretinho da Serrinha, Cat Dealers, Dilsinho, Natiruts, entre outros, na série #FILTRemcasa.
O lançamento no Filtr Brasil no YouTube no fim do primeiro semestre chegou para mostrar a nossa força de produção e capacidade de exercer o papel de hub de negócios e oportunidades.
Wilson Lannes, vice-presidente da Sony Music Brasil
De acordo com o executivo, o mercado continua em crescimento acelerado, acima de 30% neste ano. No início do isolamento, houve de fato a redução no consumo de streaming de áudio, mas sem a correspondente redução da base de assinantes. E a Sony se beneficiou de outro movimento: o aumento expressivo no consumo de streaming de vídeo, o que levou a mais visualizações de videoclipes, lives e shows em plataformas online. “Agora, os patamares de consumo de audio streaming voltaram ao normal e o formato vídeo continua performando acima do patamar anterior à quarentena”, diz Lannes.
LEIA TAMBÉM: Serviço de streaming gratuito Pluto TV será lançado no Brasil em dezembro
O surgimento de novos hábitos
O entusiasmo do brasileiro com as apresentações musicais em live streamings arrefeceu em relação aos patamares estratosféricos registrados nos primeiros meses das quarentenas, quando artistas locais quebraram recordes globais de audiência. Dados do Google Trends revelam uma queda de 67% nas buscas por webcasts de música ao vivo no Brasil no mês de julho em relação a abril.
Lannes afirma que as lives não substituirão a experiência do show ao vivo, mas se consolidaram como um novo formato de trabalho para os artistas e de consumo para os fãs. “Desde março, a Sony Music Brasil movimentou milhões de pessoas marcando presença em mais de 20 lives, compartilhando momentos únicos com seus artistas favoritos dos segmentos sertanejo, pop, rock, música eletrônica, samba, pagode e gospel,” enumera.
Além do novo hábito de assistir às lives, o consumidor de áudio mudou seu comportamento em outros aspectos, intrinsecamente ligados ao aumento do tempo passado em casa e da redução do tempo em deslocamento para o trabalho, escola, lazer e outras atividades externas.
LEIA TAMBÉM: Estúdio de música aposta em ritmos latino-americanos com toque britânico
“As consequências foram percebidas no aumento do consumo de determinados gêneros musicais, como o infantil, músicas instrumentais e no aumento do consumo do catálogo de artistas consagrados”, diz o vice presidente da Sony Music Brasil. “Os artistas que estiveram presentes junto ao público por meio das lives também perceberam um aumento do consumo de suas músicas.”
É curioso observar, também, que o mundo da música foi dos primeiros em que as mídias físicas foram desaparecendo, num fenômeno iniciado quase duas décadas antes da pandemia.
“Hoje o mercado físico representa menos de 1% do mercado total. E o mercado digital vem crescendo a taxas superiores a 30% anuais”, explica Lannes, que acredita ser possível, futuramente, surgir um nicho de mercado específico para o CD, a exemplo do vinil. “Mas hoje já é difícil explicar aos mais jovens como era escolher música num CD-player ou até mesmo como era a vida sem a possibilidade da escolha imediata entre milhares de músicas.”