Sou+Favela lança streaming com conteúdo cultural e jornalístico para favelas
Marx Rodrigues, à direita. Foto: Divulgação
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Sou+Favela lança streaming com conteúdo cultural e jornalístico para favelas

O novo streaming, chamado +FavelaTV, terá exibição gratuita em todo o país

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Na próxima semana, o Brasil irá ganhar o primeiro streaming com conteúdo linear e on demand totalmente focado nas favelas. Batizado +FavelaTV, o novo serviço de streaming é uma iniciativa do Sou+Favela em parceria com o G10 Favelas e reunirá, em uma plataforma gratuita, conteúdos jornalísticos e culturais que vão de artes e esportes à notícias para atender aos mais de 18 milhões de brasileiros que moram em favelas.

Esse contingente de pessoas representa quase 10% da população do Brasil. Trata-se de um enorme mercado subaproveitado do ponto de vista mercadológico e comercial. Fundado em 2021, o projeto Sou+Favela nasceu justamente para atrair investimentos para essas áreas e levar acesso a conectividade, cultura e informação para esse público consumidor. Com isso em mente, a empresa começou fornecendo conexão WiFi gratuita para as comunidades.

“Ainda não havia um trabalho assim, desse tamanho, para a favela, e a demanda por conectividade cresceu muito na pandemia. Então começamos a empreender com impacto social. Geramos conectividade e transformamos isso em renda, em resultado para o negócio. Criamos uma cadeia produtiva enorme, que vai desde os funcionários da favela até o provedor de internet da região, que também é engajado nesse processo“, comentou Marx Rodrigues, CEO do Sou+Favela, em entrevista ao LABS.

Agora, com o serviço de streaming, a Sou+Favela quer levar uma programação cultural pensada especificamente para essa parcela da população, já que nos principais meios de comunicação, segundo Rodrigues, não há uma atenção para esse mercado. 

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O empreendedor explica que a plataforma de streaming, que nesse primeiro momento estará disponível apenas via site, e não em aplicativo, trabalhará com dois eixos de conteúdo: entretenimento e informação.

“Vamos priorizar um formato em que o conteúdo seja gerado de dentro da favela para dentro da própria favela, mas que também vá além dela. Percebemos que há um interesse da população da favela por se sentir representada, mas também um interesse externo por entender o que acontece nas favelas. No fim das contas, muitos dos artistas que estão bombando na TV, por exemplo, vieram da favela.Estamos pensando em reality shows, para mostrar a evolução de diversos artistas para mostrar suas trajetórias. Queremos fazer o mesmo com esportes. Vários jogadores da seleção brasileira de rugby, por exemplo, vieram da favela de Paraisópolis. Então nossa ideia é cruzar jornalismo, cultura, entretenimento”, disse Rodrigues.

O projeto deve começar já com distribuição nacional e, com o tempo, desenvolver programas específicos para cada estado. “Queremos que os estados tenham uma parte da transmissão nacional, mas que também tenha uma janela para que sejam exibidas notícias e conteúdos locais”, explicou o CEO. Para tirar o streaming do papel, o Sou+Favela investiu capital próprio de seus criadores, empreendedores com trajetória empresarial.

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Pelo fato de as favelas abrigarem uma parcela tão grande da população brasileira, a viabilização do projeto foi rápida. “É um negócio que acontece muito rápido, pois há uma ânsia muito grande do mercado para conectar essa fatia da população. É um mercado de consumo que movimenta R$ 160 bilhões”, disse Rodrigues.

Ainda segundo o chefe do projeto, a grande aposta é na representatividade da programação. Por mais que vez ou outra obras de canais abertos, fechados ou até mesmo streaming abordem a vida nas favelas, muitas vezes a mídia é focada no perfil da classe média brasileira branca. Não só o mercado, mas a própria população brasileira anseia por essa representatividade. 

Encontramos uma maneira de se conectar com esse público de forma abrangente e real. Criamos um ecossistema de comunicação que passa por sites de notícias, jornais, rádio, produtoras, televisão, produtos de mídia em geral como o WiFi. Então, conseguimos atingir esses 18 milhões de brasileiros em todos os lugares do país com vários produtos. E participamos ativamente das campanhas publicitárias e de seus desdobramentos, para que haja uma conexão criativa e correta entre mensagem e público.

Marx Rodrigues, CEO do Sou+Favela

Parceiros, patrocinadores e projetos derivados

Quando +FavelaTV foi montada junto ao G10, o objetivo era causar impacto social com viabilidade financeira. A operação, além de gerar conteúdo, movimenta capital, paga impostos e gera empregos, aquecendo o mercado de produção nas favelas. Para manter a plataforma a médio e longo prazo, a empresa deve buscar patrocínios convencionais, como emissoras de televisão: “Nosso público comercial são os mesmos (de grandes empresas de mídia). Queremos a Coca-Cola, a Claro, a Tim, a Vivo, o Guaraná, a Visa, a MasterCard, o Banco Original, Bradesco, e por aí vai”, afirmou Marx Rodrigues.

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Além do +FavelaTV, o Sou+Favela também pretende explorar o mercado cultural das favelas com um novo braço dedicado à música, o Favela Music. O projeto consiste em uma produtora e gravadora que empresaria os artistas locais. Segundo Rodrigues, é mais uma ferramenta para mostrar a riqueza que as favelas têm. Para conseguir transmitir a programação do +FavelaTV para todo o território brasileiro, o grupo já está em negociação com grandes nomes como a Amazon.

“Nós temos conseguido movimentos muito interessantes nesse ecossistema de comunicação que montamos. Hoje, temos percebido um movimento de grandes empresas, como por exemplo, a Amazon Web Services, que é uma parceira nossa com quem mantemos um diálogo constante. Queremos levar esse negócio para uma nova dimensão. Quando falo em criar programação estadual, a complexidade tecnológica é um desafio que parceiros do tipo podem nos ajudar a superar. Quando quero que alguém acesse o conteúdo no Maranhão ou em Santa Catarina, o sistema precisa estar pronto para direcionar o espectador para a programação local. Mas, investidores, mesmo, ainda não estão no nosso radar. Hoje, buscamos parcerias”.

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