Com mais pessoas em trabalho remoto, como forma de frear a pandemia de COVID-19, várias organizações perceberam também o tamanho do desafio de digitalizar uma série de processos. Empresas e plataformas que já ofereciam soluções para isso, naturalmente, viram a demanda pelos seus serviços crescer. Esse é o caso da netLex, plataforma brasileira de gestão de contratos com foco em grandes organizações e que viu as vendas mais do que triplicarem ao longo dos últimos meses.
“De março até maio a gente não vendeu praticamente nada, porque o pessoal estava assustado. Mas quando [a pandemia] virou o ‘novo normal’, conseguimos [voltar a crescer], e vamos continuar batendo metas neste ano”, diz o CEO e cofundador da netLex, Flávio Ribeiro, em entrevista ao LABS. Segundo Ribeiro, a startup deve terminar 2020 com uma receita recorrente anualizada de R$ 12 milhões.

Com esse crescimento, a empresa quer levantar novos recursos e começar a atender o mercado internacional em 2021. Fundada em 2014, a netLex começou de uma maneira um pouco diferente da maioria das startups. Ao invés de colocar um MVP (minimum viable product) no mercado e escalar a partir disso, a empresa passou dois anos desenvolvendo o produto e o lançou no começo de 2016. Dois anos depois, levantou uma rodada Seed com a Canary e só no ano passado passou a investir nas áreas de marketing e comercial.
“Estamos segurando [os recursos], pagamos as contas, temos um breakeven já há uns dois, três anos. Não temos uma pressão de capital tão forte, mas quando começarmos a internacionalizar devemos captar [nossa primeira rodada] Série A, provavelmente no começo do ano que vem”, contou Ribeiro.
Com foco em grandes empresas, a startup atende mais de 50 grandes organizações, de setores como construção civil e mercado imobiliário (MRV), serviços financeiros (BTG Pactual, BNDES), automotivo (Localiza, Mercedez-Benz), combustíveis (BR Distribuidora, Ipiranga), bens de consumo (Ambev e OLX), mineração e metalurgia (ArcelorMittal) e até mesmo agronegócio (C.Vale), entre outros.
“Tratamos de um problema que não é só de empresas no Brasil, é um problema global”, afirma Ribeiro. Muitas das grandes empresas clientes da netLex têm operações internacionais. Assim, a startup aproveitou para ensaiar seus primeiros passos fora do Brasil. “Atendemos o braço da Ambev no Reino Unido. Eles tinham um produto australiano similar ao que a gente faz. Quando viram o nosso produto, que na época era em português ainda, rescindiram o contrato com a empresa australiana para usar o nosso”.
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A tradução às pressas da plataforma foi o pontapé inicial para a estratégia de internacionalização da netLex. “Não estamos colocando o pé no acelerador agora na internacionalização, estamos caminhando de forma orgânica com os nossos clientes porque enxergamos o nosso produto como algo global”, ressaltou. A América Latina e a Europa estão no roadmap da startup.
netLex promete redução do ciclo de negociação e aumento de produtividade em 287%
Quando atuava como advogado, antes de fundar a netLex, Ribeiro percebeu os prejuízos que contratos ineficazes geravam às empresas, conforme contou ao LABS. Disse que, olhando para as empresas, ficou claro para ele que o fluxo contratual de documentos jurídicos era mal formatado em boa parte delas.
Percebi que, na parte de elaboração dos documentos, 80% do meu tempo era quase um ‘copia e cola’, era um quebra-cabeça de coisas que eu já entendia como funcionava. Essa foi a sementinha do netLex. Cheio de coisas para fazer, eu queria otimizar meu trabalho, via que essa parte de produção de documento era um gargalo, e aquilo começou a gerar uma ideia de negócio.
flávio ribeiro, CEO e cofundador da netLex
A netLex, segundo Ribeiro, supriu essa necessidade. Faz a gestão completa e digital dos contratos – desde a elaboração, revisão, negociação, até a assinatura –, e de forma integrada, o que inclui um portal para a parte da negociação e a assinatura eletrônica ao final do ciclo de cada contrato.
O CEO afirma que o produto da netLex reduziu o ciclo de negociação dos clientes pela metade do tempo e aumentou a produtividade na elaboração de documentos em 287%. A startup também consegue gerar inteligência estratégica para as empresas com os dados extraídos durante o uso da plataforma.
Em um contrato de prestação de serviços, por exemplo, a netLex já sabe quanto terá que ser pago, a data, os valores mês a mês, e com isso ela notifica as empresas com antecedência. Para além da informação financeira dos contratos, a plataforma capta outros dados relevantes para gerar relatórios de BI (Business Intelligence) como garantia e cláusulas especiais. A netLex mostra para as empresas os problemas contratuais e sugere como arrumá-los.
Com 20 funcionários, a netLex integrou o programa de escala do boostLAB, programa de aceleração do Banco BTG Pactual, em 2019, e agora participa do Scale-Up da Endeavor. A ideia é fechar o ano com 70 colaboradores e trabalhar melhor a área comercial da startup. “Queremos tirar os processos jurídicos do ‘combo dos anos 1990’, Excel, e-mail e Word, para deixar isso tudo controlado dentro da plataforma. Dar flexibilidade às empresas e capturar informação para gerar inteligência”.