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Startup da aviação executiva Flapper se adapta à maior demanda por cargas

Com redução dos voos regulares, empresa percebe aumento nas cotações internacionais e em carregamentos da China e da Coreia do Sul para a América Latina

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A aviação civil é um dos setores mais fortemente atingidos pela pandemia da COVID-19. A Flapper, startup brasileira de aviação executiva, está se adaptando ao novo cenário. Nele, voos de lazer estão em franca queda, mas a procura por transporte aeromédico e de repatriação de pessoas têm crescido. 

O menor número de voos de carreira internacionais — uma redução de cerca de 95% no Brasil — também faz com que a logística de cargas que usavam essas rotas precisasse buscar alternativas, inclusive por meio dos serviços da Flapper. 

O LABS conversou com Barbara Andrade, CFO da startup, sobre a estratégia da empresa especializada em conectar usuários a empresas de táxi aéreo no cenário mais turbulento. A estreia no México, por exemplo, continua nos planos da startup, reprogramada para o segundo semestre.

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Em quase quatro anos de funcionamento e 20 mil usuários pagos na sua plataforma online, a Flapper comercializa assentos em aviões de táxi-aéreo em rotas pré-programadas e intermedeia o fretamento de aeronaves para qualquer destino.

A startup foi acolhida pela aceleradora ACE e recebeu investimento de R$ 3 milhões dos fundos Confrapar e Travel Capitalist Ventures. Em outubro passado, venceu o Pitch@NBAA no maior evento de aviação executiva do mundo que ocorreu em Las Vegas, nos Estados Unidos.

LABS: Que diferença na demanda vocês puderam perceber nas últimas semanas?

Barbara Andrade: Sofremos altas e baixas na demanda pelos serviços a partir do dia 15 de Março, quando tivemos os primeiros aeroportos comunicando que fechariam por tempo indeterminado, marcados pelo alastramento da pandemia no Brasil. Os voos compartilhados e de lazer caíram, mas tanto o transporte aeromédico, de grupos fechados (para repatriação internacional de brasileiros) quanto o de cargas aumentaram.

No segmento de cargas vindas ou enviadas para o exterior, houve mudança na demanda?

As cotações de voos internacionais cresceram 69% no primeiro trimestre deste ano, contra o quarto trimestre de 2019. Na parte de logística de cargas, vimos um aumento em carregamentos da China e da Coreia do Sul para a América Latina, com equipamentos de saúde e máscaras. Algumas empresas aéreas estão transformando e adaptando seus aviões para o transporte de carga diante da falta de passageiros.

Como vocês veem o atual cenário influenciando o segmento da aviação executiva no longo prazo?

Acreditamos que nos próximos meses o setor de aviação executiva brasileiro se comportará de maneira semelhante aos EUA, onde os voos comerciais devem cair de 70 a 90%, enquanto a aviação executiva poderá aumentar sua importância no segmento de transporte de profissionais de saúde e pacientes doentes.

Barbara Andrade. CFO da Flapper: redesenho de caminhos em meio ao cenário turbulento. Foto: Pedro Vilela / Flapper

Qual o impacto nos preços do serviço?

Não fizemos alteração nos nossos preços, mantivemos os valores de antes da pandemia. O que se pode perceber como aumento é reflexo da variação cambial. Junto à pandemia estamos vivendo uma desvalorização do real diante de outras moedas, e como a demanda internacional aumentou, o cliente no Brasil pode ter a sensação de que os valores se tornaram mais caros, mas é apenas reflexo da desvalorização da nossa moeda.

Que adaptações a Flapper fez na operação, dado o atual cenário de voos de carreira fortemente afetados?

Tivemos que coordenar documentos, procedimentos prévios de saúde (como quarentena) e dias de saída com as políticas de cada país. Nos aeroportos, os passageiros e funcionários locais também precisam passar por procedimentos de avaliação de saúde e segurança de acordo com cada governo. As aeronaves e hangares de atendimento também foram submetidos a sessões extras de higienização.

Além disso nosso aplicativo foi atualizado de maneira rápida para poder atender às novas demandas, principalmente às relativas à transporte de carga. Temos à disposição o layout detalhado de como as cargas se acomodam nas aeronaves e o dimensionamento de cada.

Alguma mudança perceptível nos meios e formas de pagamento?

Na nossa receita, por termos no histórico muitos voos compartilhados e de lazer, percebemos uma diminuição do pagamento via cartão de crédito e um aumento em transferências bancárias, também reflexo de voos de última hora. Além do fato de aumentar a demanda por transações internacionais, por conta dos voos de carga.

A startup precisou retraçar os planos para 2020?

Acredito que todos precisamos de alguma maneira redesenhar os caminhos, mas sem perder o foco no crescimento. Diante do cenário tivemos que mudar o foco de voos compartilhados para o transporte de carga e de grupos fechados, além de soluções específicas para os nossos clientes.