Leandro Caldeira, CEO do Gympass na América Latina. Foto: Paulo Vitale
Negócios

Unicórnio dos benefícios de bem-estar, Gympass passa por reinvenção digital e volta a crescer

Plataforma incorporou aulas online por meio de apps, academias de ginástica e personal trainers, e a proposta atraiu 40 novos clientes corporativos durante a pandemia

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Desde o início da pandemia de Covid-19, muito já se falou sobre a transformação dos ambientes corporativos e da consolidação do home office como local de trabalho daqui por diante. Pouco se falou, no entanto, sobre a popularização de um outro fenômeno ganhando terreno: a “home gym”. Impedidas durante semanas de frequentar as academias de ginástica, fechadas por determinação de decretos que estabeleciam quarentenas ao redor do mundo, as pessoas trouxeram as atividades físicas para dentro de casa. E o Gympass, maior empresa de benefícios de bem-estar para empresas, assumiu um papel central nessa mudança.

Mesmo antes de o coronavírus alcançar a América Latina, a empresa sabia que o impacto nos negócios seria grande também na região, onde mantém parceria com mais de 30.000 academias em cerca de 2.600 cidades de Brasil, México, Argentina e Chile. Com operações na América Latina, Estados Unidos e Europa, o unicórnio de origem brasileira, avaliado em 2019 em mais de US$ 1 bilhão, já sentia na Europa os efeitos econômicos gerados pelo surto e pelas medidas de distanciamento social adotadas para contê-lo.

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Em entrevista ao LABS, Leandro Caldeira, CEO do Gympass para a América Latina, relembra a experiência da Itália, o primeiro país ocidental fortemente atingido pela pandemia. “Quando o governo decretou o fechamento de todas as academias, ficamos irrelevantes por duas semanas”, conta. 

Ao ver a seriedade da crise, os executivos do Gympass aceleraram projetos e viram que o caminho natural para a continuidade dos serviços estava no ambiente digital. A resposta rápida fez com que o primeiro projeto já estivesse de pé ainda em março, quando o vírus começou a se espalhar de forma mais rápida pelas Américas. Naquele momento, a plataforma permitiu que as academias dessem suas aulas por videoconferência. A iniciativabajudou a trazer os usuários para dentro da plataforma e estabilizar o número de cancelamentos do serviço. 

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A demanda por mais flexibilidade de horários para os treinos fez com que a startup, primeiro, fechasse parceria com mais de 40 apps que ofereciam produtos e serviços de bem-estar. Na sequência, ofereceu experiências mais customizadas, por meio de personal trainers.  “Tínhamos um monte de gente trancada em casa e também muitos professores de educação física sem alunos. Juntamos as duas pontas”, diz Caldeira.

Interface do usuário da plataforma, com a opção Gympass Wellness de aulas online. Imagem: Divulgação

Desde então, mais de 1.600 Personal Trainers se cadastraram na plataforma; 1.000 dos quais apenas no Brasil. O Gympass já computou mais de 1 milhão de horas de atividades feitas de forma online, incluindo soluções de bem-estar, aulas ao vivo e com personal trainers.

A taxa de usuários que experimentaram novas academias subiu de 20% para 25% se comparado ao mesmo período no ano passado no Brasil. Às 19h, horário mais popular para a prática de atividades físicas no país, houve um aumento de 14% dos check-ins diários.

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Reversão da queda inicial

A reversão da queda inicial nos negócios foi rápida. Se, num primeiro momento, a incerteza inicial sobre a duração da crise, somada ao maior índice de cancelamento de matrículas individuais, levou a empresa a demitir cerca de 20% de seus funcionários, o desenho de novos formatos com ênfase em alternativas online fez com que o Gympass atraísse 40 novos clientes corporativos durante a pandemia.

Esse foi o obstáculo mais desafiador que superamos. Voltamos a crescer e ter novos clientes corporativos num momento em que todas as empresas estavam se retraindo, cortando custos. Esses novos clientes contrataram o Gympass certamente pela nova proposta de valor que oferecemos.

Leandro Caldeira, CEO do Gympass para a América Latina

As aulas online foram um bote salva-vidas para muitas academias, que conseguiram manter parte da receita mesmo com as portas fechadas. E a opção dos personal trainers atraiu para a plataforma profissionais que viviam um período de grandes incertezas.

Dayane Giacomazzi, personal trainer que usa a plataforma Gympass. Foto: Arquivo pessoal

Dayane Giacomazzi, professora de educação física de São Paulo, conta que viveu um mês em que a receita das aulas foi quase a zero. Convidada a fazer um teste no Gympass logo no início do formato de personal trainers, ela viu 95% de sua renda em maio vir por meio da plataforma – hoje, essa fatia está em 70%, segundo ela.

“Eu já posso voltar para as academias, mas não quero”, diz Giacomazzi, que trabalhava na Academia da Reebok há mais de 10 anos. No último mês, ela deu 211 aulas para 60 alunos diferentes por meio da plataforma. 

O online veio para ficar, tanto para alunos como para mim. Os alunos veem resultados aconetecendo, e eu tive casos de ex-alunos que tinham se mudado para o exterior que voltaram a ter aulas comigo. 

Dayane Giacomazzi, professora de educação física que usa o GYMpass

Mais atenção à saúde mental nas empresas

As transformações decorrentes da pandemia não se deram apenas na startup, mas se estenderam ao perfil do usuário. O Gympass viu cada vez mais clientes corporativos preocupados com a saúde mental e qualidade de vida dos funcionários, por exemplo. No marketplace da plataforma, é possível encontrar apps de nutrição, meditação, apoio psicológico e até educação financeira. 

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“A retomada no pós-crise vai ser gradual, mas o tema da saúde vai ganhar relevância. A grande mudança é a saúde mental, que virou um tema para todas as empresas”, diz Caldeira. “Não é mais uma cereja no bolo do benefício, mas algo central à oferta do produto.”

O CEO explica que é este é um mercado que não estava preparado para oferecer serviços na escala e no formato em que passaram a ser demandados. “Somos uma solução possível, e continuaremos sofisticando a oferta desse serviço,” diz.

A outra perspectiva está na permanência do ambiente digital como opção para atividades físicas. De acordo com uma pesquisa feita pelo Gympass, em julho, com 4.266 pessoas, 30% dos usuários querem continuar treinando online, combinando sessões online e offline ou permanecendo 100% online – 27% dos entrevistados ainda não sabiam dizer como será sua rotina de exercícios no pós-pandemia.

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Para pessoas que têm dificuldade em começar a malhar, o treinamento online é a maneira mais atraente de começar. A intimidação é a principal barreira para quem está começando a se exercitar e o personal trainer pode ser a opção menos intimidadora, principalmente quando virtual.

Leandro Caldeira, CEO do Gympass para a América Latina. Foto: Paulo Vitale

“O papel do primeiro passo no virtual vai ser muito importante. Atende aquele que não  frequentava nada e tinha vergonha, e que agora começa em casa”, diz Caldeira. Mesmo antes da pandemia, 70% a 80% dos usuários do Gympass não tinha nenhuma matrícula de academia prévia, segundo o executivo. No novo cenário, o potencial de atrair novos adeptos de atividades física e de bem-estar cresceu ainda mais.