Um estudo realizado pelo Distrito em parceria com a KPMG, Pixeon, Bosch e Stradigi AI mostrou que 2020 foi o melhor ano para as startups brasileiras focadas em soluções de inteligência artificial, muito devido à transformação digital impulsionada pela pandemia, que mudou de maneira abrupta as rotinas e processos de trabalho, exigindo de empresas e colaboradores uma adaptação rápida e, de início, improvisada. Um cenário que alterou o status das soluções de inteligência artificial de “diferencial” para “necessário”, segundo o relatório.
Esse é o pano de fundo para a atuação da Fhinck, uma startup de inteligência artificial que desenvolveu uma solução de geração e análise de dados de eficiência operacional de pessoas, processos e plataformas. Fundada em 2014, a startup tem presença nos Estados Unidos, Canadá, México, Argentina, Índia e Singapura, além do Brasil. Entre seus clientes estão empresas globais como Accenture, Unilever, Natura e Kroton.
O algoritmo desenvolvido pela Fhinck gera e analisa dados relacionados à jornada de trabalho dos colaboradores (People Analytics), aos processos de trabalho (Process Analytics) e ao conjunto de sistemas e ferramentas utilizados pela empresa (Platform Analytics).
“Toda a solução desenvolvida pela Fhinck se baseia em ciência de dados e por isso fornece uma visão mais assertiva sobre o que está acontecendo na empresa. Às vezes revela algo que nem as lideranças perceberam. Essa é a direção para a qual o mundo está caminhando, você precisa usar dados, inteligência, estatística e combinar todo esse conjunto de informações com análise. É people science,” explica Paulo Castello, fundador e CEO da Fhinck.
Castello explica que, ao ser instalado nos computadores, o software passa a identificar onde existem oportunidades para aumentar a eficiência operacional. Por exemplo, através dos dados coletados, é possível entender como os colaboradores trabalham e quais são os pontos de atenção da rotina de trabalho – como sobrecarga, jornada excessiva ou até mesmo risco de burnout -, seja no escritório ou em home office. Os processos também são analisados pelo software, que coleta informações sobre as atividades realizadas e quantos “cliques” (ou passos) são necessários, bem como sobre quais atividades poderiam ser eliminadas, otimizadas ou robotizadas. Além disso, o software “olha” para os sistemas corporativos e interfaces utilizados pela empresa para verificar se essas ferramentas estão adequadas aos resultados esperados.
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Em um cenário pré-pandêmico, esse tipo de inteligência era interessante para que as empresas pudessem compreender melhor seus processos e planejar os ajustes necessários. A pandemia, no entanto, ao alterar profundamente as rotinas de trabalho, elevou as ferramentas de data analytics a outro patamar.
Tem uma dor que existe em todas as empresas: quando você precisa mexer em processo, você precisa observar o processo e as pessoas. E os processos e interações estão cada vez mais dentro do computador, menos visíveis. A solução da Fhinck mapeia de forma escalável e precisa as oportunidades para aumentar a eficiência operacional.
Paulo castello, fundador e ceo da fhinck
Algoritmo para identificar risco de Burnout
Uma das funcionalidades mais visadas da solução da Fhinck é a que identifica uma série de variáveis associadas à síndrome de Burnout entre os colaboradores. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o Burnout é um fenômeno ligado ao trabalho, uma síndrome ocupacional que pode levar a sentimentos de exaustão ou esgotamento, entre outros sintomas. O Burnout já existia antes da pandemia, mas estudos recentes que tentam entender os impactos da crise sanitária sobre o trabalho e a saúde mental sugerem um aumento significativo de sintomas associados ao diagnóstico.
Segundo pesquisa encomendada pela Microsoft no fim do ano passado, 44% dos brasileiros ouvidos disseram que a pandemia aumentou o sentimento de exaustão relacionado ao trabalho. Globalmente, a pesquisa mostrou que 54% dos trabalhadores se sentem sobrecarregados e 39% afirmaram estarem exaustos.
Baseado em como o colaborador trabalha diariamente no computador, o algoritmo da Fhinck mede fluxo e volume de trabalho, quantidade e frequência de reuniões diárias, quanto tempo o funcionário fica conectado, inclusive além do expediente, se cumpre ou não os horários de intervalo e com que freqüência tem feito horas extras, entre outras variáveis.
Com base nesse conjunto de informações, a Fhinck identificou, durante o primeiro ano de pandemia, um aumento de 12% na carga horária de trabalho e de 17% na mistura dos compromissos profissionais com as atividades pessoais, resultando em uma jornada de trabalho maior. Dados coletados pela startup também mostraram que a sobrecarga somada ao isolamento aumentou em 27% o risco de casos de Burnout, principalmente entre profissionais sênior e em cargos de liderança.
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Os relatórios gerados pela startup, diz Castello, podem ajudar as lideranças a definir mudanças em processos e equipes, por exemplo, calibrando metas, demandas e resultados e delineando com mais precisão o perfil profissional ideal para cada função.
A jornada de trabalho típica de 8 horas foi desenhada há muito tempo. As empresas precisam se perguntar como essa jornada de trabalho funciona para o seu modelo de negócio e para o seu time de colaboradores. As empresas podem adaptar as jornadas de acordo com o perfil de cada colaborador; da mesma forma podem ajustar as equipes de acordo com as demandas de cada departamento. Para isso, elas precisam de dados.
PAULO CASTELLO, FUNDADOR E CEO DA FHINCK
Em busca de uma Série A
Fundada em 2014, a Fhinck já desenvolveu projetos para clientes globais de 15 países. Castello não revela o faturamento da startup, mas afirma que a empresa tem registrado um crescimento de 500% ao ano e agora está em processo de análise de um aporte Série A para expandir a equipe de vendas e abrir escritórios em outros países. A startup recebeu um aporte Seed de valor não revelado da Verve Capital, fundo americano de venture capital focado em starups em estágio inicial.