Treinamento técnico, habilidades essenciais para um bom relacionamento interpessoal, ou simplesmente atualizações de áreas diversas. O leque das startups de educação que lidam diretamente com o mundo do treinamento corporativo parece cada vez maior, mas sempre com uma fórmula parecida, certo? Não exatamente. A UBITS, edtech do ramo fundada por Julián Melo e e Marta Helena Forero em 2014, na Colômbia, aproveitou bem o boom de demanda provocado pela pandemia de COVID-19 para descobrir que, ao menos na América Latina, há um jeito certo de atrair a atenção dos trabalhadores e estimulá-los a fazer um curso até o fim.
Chamados de “bits”, a maioria dos mais de 600 cursos oferecidos pela UBITS tem aulas com 30 minutos de duração – e essa gama de oferta que também faz a empresa se apresentar como a maior plataforma de treinamento corporativo da América Latina.
“Focamos mais no aluno do que no cliente pagante, que é a empresa. É assim que descobrimos que as pessoas não querem um curso de dez horas, mas aulas de 30 minutos, no máximo; que as pessoas não querem cursos presenciais, mas aulas online que podem elas possam fazer no seu tempo, principalmente durante o deslocamento. E agora este é o nosso padrão”, conta Melo em entrevista exclusiva ao LABS.
A UBITS também aprendeu que a localização é importante, mesmo na América Latina. “Isso significa ter conteúdo local, com sotaque local; criar conteúdo do zero, com nossa própria metodologia e especialistas locais, e exemplos locais.”
A forma de vender produtos também muda de país para país. “Enquanto no México a relação se constrói enquanto a venda é negociada, na Colômbia não é preciso construir uma relação antes de vender. Se o produto for o que a empresa colombiana deseja, ela o adquirirá. Existem países sensíveis ao preço ; outros olham para o próprio valor intrínseco dos produtos. “
O resultado disso aparece nas métricas de conclusão. No início deste ano, a UBITs anunciou uma aliança com a Coursera, com a disponibilização de cinco cursos da edtech na plataforma norte-americana. Enquanto a taxa de conclusão na UBITS é de mais de 88%, com estudantes tendo completado mais de 1 milhão de cursos, na plataforma Coursera, onde as aulas, por padrão, são mais longas, a taxa é de 10%.
Melo é um engenheiro que também trabalhou como professor na Universidad de los Andes. “Como o mais jovem professor da Faculdade de Engenharia por alguns anos, e sendo capaz de ensinar mais de 800 alunos, eu sempre ponderei como poderia impactar mais pessoas que não podiam pagar uma escola de primeira. Essa é uma das as coisas que fazemos no UBITS, levamos treinamento de alta qualidade para as massas.”
No mesmo período, Melo conheceu Forero, que era diretora geral de uma universidade online no México que estava sendo levada para a Colômbia. “Tínhamos a mesma visão sobre educação, sobre como educação é a solução para os principais problemas que temos na América Latina: desigualdade, pobreza, desemprego. Nós queríamos dar essa oportunidade [às pessoas], fechar essa lacuna”, conta Melo. “Vimos também as empresas estavam com dificuldade para treinar seus colaboradores no que elas precisavam, e ajudá-los a crescer de forma eficiente. Ao olhar os cursos disponíveis vimos que a maior parte era offline, em inglês. Então pensamos: por que não criamos uma Netflix de treinamento corporativo, em espanhol?”
Melo lembra que não havia essa disponilidade de venture capital que há hoje. “Então, nós começamos a buscar investidores nos Estados Unidos. Nos inscrevemos no programa da Y Combinator. Logo depois acabamos fechando nossa rodada seed, desenvolvendo a primeira versão do nosso produto e lançando a UBITS em janeiro de 2019 em três mercados ao mesmo tempo: México, Colômbia e Peru. Hoje talvez eu não tivesse dado um passo como esse, mas hoje vejo que funcionou.”
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Em junho deste ano, a UBITS levantou US$ 5 milhões, em rodada Série A liderada pelo Owl Ventures, um dos maiores fundos investidores de educação do mundo. O investimento também teve a participação do Roble Ventures, fundo do empresário Sergio Monsalve, membro do conselho de administração da Udemy e outras companhias e grupos educacionais.
Em 2020, a UBITS também recebeu um investimento da Universidade de Stanford – o primeiro feito pela instituição na América Latina.
No últimos mês de setembro, a UBITS estava entre as 100 edtechs mais promissoras da América Latina segundo a plataforma HolonIQ.
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Como a UBITS funciona
A UBITS tem uma área que se encarrega de desenhar os cursos em conjunto com mais de 400 especialistas em diferentes temas, desde finanças e marketing até gestão de estresse. Esses especialistas, que vêm de diferentes partes da região, são os “rockstars” da UBITS, treinados na metodologia da startup. Ao mesmo tempo, a equipe da UBITS cria as trilhas curriculares exatas para cada cliente, levando em consideração seus objetivos de negócio e as necessidades de seus colaboradores.
A UBITS também trabalha com machine learning para criar trilhas de cursos com base no mapeamento de habilidades que as empresas querem que os colaboradores desenvolvam. UBITS também usa algoritmos para recomendar conteúdos para seus alunos, de maneira similar ao que o Netflix faz para cada um de seus assinantes.
Cada aluno tem sua própria trilha para seguir, ao longo de seis meses ou um ano. A UBITS também tem um painel de controle onde os gestores de RH de cada empresa podem acompanhar as principais métricas de treinamento.
Mais de 250 empresas de diferentes setores, em 11 países de língua espanhola, usam UBITS, de bancos, seguradoras, montadoras e universidades a varejistas latino-americanas como Falabella e Cencosud e empresas de tecnologia, como o Mercado Livre. “E isso é interessante porque é exatamente o que nós gostaríamos de construir: uma solução que pudesse ajudar pelo menos 70% das necessidades de treinamento das empresas latino-americanas”, ressalta Melo.
Os maiores mercados da UBITS são Colômbia, onda a startup nasceu, e o México, onde a empresa está abrindo um escritório, em Monterrey. Em 2021, a UBITS também chegou fisicamente ao Peru e ao Chile, e formou uma pequena equipe no Equador.
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Os planos da UBITS
“Vamos terminar o ano atendendo pelo menos 350 empresas e no próximo ano queremos chegar a mais de 1 mil clientes”, diz Melo ao LABS. O plano é ousado, mas a edtech tem realmente crescido rápido, em força de trabalho também. No ano passado, a startup tinha 50 colaboradores. “Até o fim do ano, devemos chegar a 250. Imagino algo em torno de 500, 600 colaboradores em 2022.”
A UBITS também vem negociando uma nova rodada, de Série B, que deve ser anunciada antes do fim do ano. Até o momento, a startup vem reinvestindo seus recursos para ampliar seu portfólio e alcance. “Mas em três anos, esperamos ter uma receita de US$ 100 milhões.”
Os novos recursos serão decisivos para os planos de expansão geográfica da UBITS, que pretende chegar à Espanha e à Argentina em 2022. A startup também pretende lançar, nas próximas semanas, uma nova modalidade de cursos, já em testes por alguns dos clientes atuais.