O empresário americano Kenny Laplante mora no Brasil há cerca de três anos, onde fundou a Genial Care, uma startup que combina uma plataforma de conteúdo e capacitação com suporte clínico especializado para famílias de crianças com autismo no Brasil. Antes disso, ele atuava na empresa americana de private equity General Atlantic, prospectando e analisando investimentos em serviços de saúde, mais especificamente aqueles que usavam a tecnologia como forma de medir e melhorar resultados clínicos.
Foi trabalhando nisso que, em 2017, ele se viu envolvido em serviços de apoio a crianças autistas nos Estados Unidos. “Assim que tive esse primeiro contato, meio que me apaixonei por essa área, porque é uma área onde um trabalho melhor e uma tecnologia melhor podem realmente fazer uma grande diferença na vida das pessoas”, disse ele ao LABS.
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Laplante decidiu que queria começar um negócio focado nisso, e queria fazer isso fora dos Estados Unidos. Na época, ele namorava uma brasileira, que agora é sua esposa. “Eu morava em Nova York. Então decidi ir ao Brasil e tentar construir algo que pudesse ajudar as pessoas e usar um pouco do conhecimento que acumulei como investidor na área da saúde”.
Sem falar português, Laplante começou a trabalhar na plataforma de finanças Guiabolso. Ele passou mais de um ano lá, aprendeu o idioma e também como, afinal, trabalhar em uma startup. Em 2019, Laplante deixou a empresa para começar a desenvolver a ideia da Genial Care. “Tirei um ano sabático; fui voluntário em um posto de saúde no SUS para entender a realidade brasileira e aos poucos desenvolver a Genial”.
Cuidado digital e humano: como funciona a Genial Care
A Genial Care é uma startup de educação e apoio a cuidadores de crianças autistas, que são, em sua maioria, os pais das crianças. A empresa começou a operar em maio de 2020. Desde então, Laplante vem montando uma equipe e desenvolvendo seu primeiro produto/serviço. “A saúde é uma área muito sensível e temos que lidar com isso com cuidado. Só agora estamos abertos para o público”, afirma.
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Estamos focados na qualidade. Não somos uma daquelas startups que está tentando crescer muito rápido. Estamos tentando trabalhar com um pequeno grupo de famílias para garantir que os atendamos bem, porque, em última análise, essa qualidade é a base a partir da qual vamos poder crescer no futuro
Kenny Laplante, fundador da Genial Care .
A empresa oferece uma assinatura por um serviço que também é um produto. Tudo começou com um lançamento beta, para um pequeno número de mães – há uma lista de espera para usar a Genial Care. “Trabalhamos diretamente com os consumidores. No entanto, também estamos começando a desenvolver algumas parcerias com outros grupos, talvez empresas. É principalmente B2C agora, mas achamos que este [negócio] é muito valioso para o B2B2C, por exemplo.”
De acordo com Laplante, a personalização é fundamental neste momento, para que os clientes da Genial Care tenham uma pessoa real trabalhando com eles, falando com eles regularmente. Em suma, o modelo oferece uma abordagem híbrida. Um lado humano, com reuniões regulares com a líder clínica da Genial, e conversas constantes com o que chamam de “agente de cuidado”, além de um componente digital, uma plataforma oferece vídeos, áudios e tarefas sobre o autismo.
A Genial tem uma líder clínica sênior fluente em português, nascida na Venezuela e criada nos Estados Unidos. “Ela é uma analista de comportamento, o que é uma certificação muito rara no Brasil, e trabalha, essencialmente, como nossa diretora clínica; ela é responsável pelas famílias. Eles se reúnem uma ou duas vezes por mês”, diz Laplante. Os clientes pagam R$ 879 mensais por este serviço.
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Próximas etapas do Genial Care
Atualmente, a startup tem nove funcionários em tempo integral, e eles atuam em diferentes áreas, como tecnologia, design, conteúdo e clínica. Como a startup está crescendo ativamente, está com vagas abertas. Para iniciar as operações, a Genial captou uma rodada Seed de R$ 5 milhões no final de 2020 liderada pelo Canary, fundo brasileiro que já investiu em várias startups, como Gupy, Sami, Qulture Rocks, entre outras, e o unicórnio Loft.
“Ainda temos espaço para crescer com essa rodada Seed”, diz ele, acrescentando que o foco da empresa agora é desenvolver resultados de qualidade que possam ser medidos. “É muito difícil e raro demonstrar resultados clínicos com seu produto e serviço na área de saúde. Até mesmo os melhores hospitais do mundo têm dificuldade em fazer isso. Por isso, estamos focados em medir os resultados e pensamos que nos próximos seis a 12 meses, teremos resultados fantásticos por causa de todo o trabalho clínico que está por trás disso”.
Segundo Laplante, a Genial tem um conselho clínico com alguns dos melhores pesquisadores do mundo. A startup buscará a próxima rodada de investimentos depois de ter os resultados clínicos demonstrados em algum momento de 2021.
“O autismo é um transtorno muito complexo. Estamos muito focados no autismo e, por enquanto, estamos focado nos pais”. Porém, a Genial Care não descarta expandir para começar a trabalhar com outras pessoas melhor envolvidas no ecossistema, como profissionais, psicólogos e professores, por exemplo, como explica Laplante. “Esse é um caminho que podemos pensar, e também além do autismo em algum ponto. Mas isso está longe no futuro. O autismo em si é um problema tão grande que temos muito espaço para crescer. Há 4 milhões de pessoas com autismo apenas no Brasil, e há 100 milhões de pessoas com autismo no mundo.”
A expansão pata a América Latina não está fora de discussão. Na opinião de Laplante, faltam sistemas de saúde na América Latina como um todo e “nenhum dos países da região atende muito bem a população autista”, afirma.
Para ele, a Genial existe porque o Brasil tem uma população enorme no espectro do autismo e poucos profissionais treinados para isso. “A tecnologia tem um grande papel a desempenhar para preencher essa lacuna, para tentar ajudar e cuidar desses cuidadores e apoiá-los para serem professores de seus filhos. Toda essa lógica faz tanto sentido no Brasil quanto em outros países da América Latina. Somos uma equipe internacional; temos visão de expandir para além do Brasil porque os problemas são muito semelhantes. Mas agora estamos focados aqui.”