A startup de gestão de frotas Cobli anunciou nesta quarta-feira (21) um aporte Série B de R$ 175 milhões (US$ 35 milhões) liderado pelo SoftBank, que está em uma maratona de investimentos pela região. Participaram da rodada ainda a Qualcomm Ventures e os fundos NXTP Ventures, Fifth Wall e Valor Capital, que já eram investidores da Série A da empresa.
Rodrigo Mourad, CEO da Cobli, trabalhava na consultoria de estratégia da Bain & Company quando conheceu o americano Parker Treacy, que tinha uma empresa de financiamento de veículos para estrangeiros em Boston. A cidade é a base de empresas inovadoras do setor de IoT (inteligência das coisas) para frotas, onde tecnologias nascem no jardim das faculdades.
Quando Parker veio ao Brasil, a dupla pensou em aplicar dados de inteligência das coisas para otimizar decisões na área de mobilidade. “É como se há 50 anos falássemos que se colocássemos computadores nas empresas, elas poderiam ser melhores. Em uma comparação superficial, a gente fez uma coisa parecida com os veículos”, conta Mourad, ao LABS.
Buscando trazer inteligência de frota para agregar mais eficiência para as empresas, ele e Parker começaram a Cobli em março de 2017. A proposta da startup é explorar os dados dos veículos para aprimorar, por exemplo, a precificação de seguros. Assim como para pessoas físicas, no Brasil, os seguros para frotas de empresas levam em conta dados sócio-econômicos, como gênero, local e idade do condutor, para precificação do produto.
“Obviamente, esses dados não correspondem a todo o risco porque ainda assim não se sabe como as pessoas estão dirigindo e o que está acontecendo [ao volante, na estrada]. Então, muito da ideia da Cobli é usar dados para melhorar a eficiência das empresas e conseguir oferecer produtos melhores para elas”, afirma.
O Brasil é um grande mercado para operações com frotas, são 10 milhões de veículos comerciais distribuídos pelo país, atendendo a diversos tipos de indústrias. A Cobli tem hoje 3 mil empresas clientes, desde floricultores e pastelarias até grandes transportadoras e locadoras de veículos.
“Nosso esforço começou com a educação do mercado para explicar para as empresas quais eram os benefícios com um produto como o nosso. A nossa estrutura de distribuição começou com conteúdo para mostrar um pouco mais do que a gente pode fazer. No Brasil, esse mercado tem uma característica forte de rastreamento para carga roubada e isso não tem nada a ver com o que a gente faz. O nosso foco é voltado totalmente para produtividade e como automatizar os processos e gerar decisões melhores”, explica o CEO.
Como funciona a Cobli?
A Cobli coloca sensores em veículos que mandam dados para a nuvem da Amazon Web Services em tempo real. Como se fosse um GPS ou um acelerômetro, o sensor informa como o motorista está dirigindo, se está muito rápido, se está fazendo curvas. A Cobli lê essas informações e conecta com o Google para saber como está o trânsito, verificando se há alguma rota que faz mais sentido ou não, ou para identificar o lugar em que o veículo está, se é um posto de gasolina, uma oficina mecânica ou a casa do motorista.
“Combustível, para frota, é um gasto muito grande. Temos agora algumas parcerias com empresas de gestão de combustível como a Sodexo. Esses parceiros têm dados de quanto o combustível custa em cada um dos postos porque eles estão se relacionando com vários cartões o tempo inteiro”, explica. Assim, a Cobli também consegue determinar as melhores rotas para economizar combustível.
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Em 2019, a startup levantou uma Série A que a ajudou a acelerar o crescimento. Hoje, a startup tem um time de quase 200 pessoas e pretende chegar a 500 em 2022.
Com a nova rodada, Mourad quer investir em tratamento de dados e em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia. Só neste ano, a startup separou mais de R$ 20 milhões para P&D e o número para o ano que vem deve ser ainda maior com o aporte do SoftBank.
“No Brasil, só 15% dos veículos comerciais têm algum tipo de tecnologia embarcada. Nos Estados Unidos, esse percentual é de 50%. Isso é um futuro inevitável. A gente não vai voltar para o papel e caneta”, disse.
O plano inicial da Cobli era fazer o financiamento de capital de risco apenas em 2022, mas a empresa escalou rápido – mais do que 100% ao ano, embora não divulgue o número exato do faturamento – e já tem mais de um bilhão de quilômetros dirigidos dentro da plataforma.
Hoje a Cobli só vende em território brasileiro, embora tenha clientes com operações na América Latina que viajam do Brasil até o Peru e Colômbia.