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Na era dos aportes, HRTech Jobconvo quer se diferenciar crescendo organicamente

Startup tem no Brasil seu principal mercado, mas espera ver a América Latina respondendo por cerca de um terço de seu faturamento em 2021

O mineiro Ronaldo Bahia trabalhou por 10 anos na Pepsi em São Paulo, na divisão conhecida no Brasil por Elma Chips, com planejamento de vendas e operações. Depois de uma década na indústria, ele decidiu sair da empresa e buscar recolocação no mercado de trabalho. Foi neste processo, em 2010, que percebeu a ineficiência dos processos seletivos. “Eu gastava duas horas para chegar em uma entrevista de emprego, [gastava] em torno de R$ 50 [preço da corrida por aplicativo]. Pessoas que estão sem trabalhar e buscam se recolocar não vão ter R$ 50 para fazer uma entrevista de emprego. É impraticável”, conta ele. 

Na época, alguns processos seletivos para trainees já usavam vídeos como forma de triagem, mas esses vídeos ficavam disponíveis no YouTube, sem os cuidados com a privacidade do usuário que existem hoje. “Se o meu chefe colocasse o meu nome no YouTube, ele acharia a entrevista para um processo seletivo. O que hoje é um é um caso muito sério em tempos de LGPD (Lei Geral de Proteção dos Dados)”. 

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Ronaldo Bahia, fundador e CEO da JobConvo. Foto: Divulgação.

Foi aí que Ronaldo criou a JobConvo, uma startup de recrutamento e seleção, que começou a atuar com vídeos gravados para processos seletivos. Em 2011, o empreendedor foi para o Chile apresentar a empresa e estudar tecnologia. Ele ganhou o prêmio de US$ 40 mil do programa de aceleração governamental Startup Chile e essa foi a primeira rodada da JobConvo. 

Em 2012, quando voltou para o Brasil, Ronaldo ainda dividia seu tempo entre a startup e outras ativiades. Somente em 2015 é que assumiu o papel de CEO em tempo integral. 

Como o projeto começou no Chile, a JobConvo já nasceu com o foco na América Latina. Mesmo assim o Brasil ainda responde por 80% do faturamento. “[Dentro dos outros 20%] Nossos principais mercados são Peru, Portugal e temos alguns clientes nos Estados Unidos, México, Colômbia, Equador, Uruguai, Panamá, Chile e Argentina“, conta o CEO. A operação da América Latina é conduzida a partir do escritório de Bogotá. Até o fim deste ano, a JobConvo espera que os países latino-americanos respondam por 30% a 35% das receitas da empresa.

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Assim como as demais HRtechs que utilizam a inteligência artificial no processo seletivo, a JobConvo consegue, no recebimento dos currículos, transformar a imagem em um texto e classificá-lo, entendendo o que é experiência profissional e formação acadêmica, por exemplo. A ideia é evitar que o candidato tenha de preencher o formulário manualmente. “Eu capto esse texto com aprendizado de máquina e classifico o texto da melhor forma possível. Hoje a nossa assertividade está em torno de 70%”, diz Ronaldo. 

A startup criou seu próprio robô de captação e classificação de texto também por questões financeiras. Quando antes usava a IA de um fornecedor europeu, a cobrança em euro por cada currículo classificado ficou insustentável por questões do câmbio.  

Diferentemente de alguns concorrentes, a JobConvo oferta os produtos como módulos, e cada cliente pode optar por quais quer usar. 

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A trajetória e as metas da JobConvo

A JobConvo recebeu um capital anjo de US$ 300 mil em 2014 para estruturar a empresa. Em 2016, passou a oferecer um  módulo de vídeo-entrevistas gravadas para processos seletivos, o que hoje já é um tema mais comum em recrutamento e seleção. 

Um ano depois, a empresa colocou no mercado uma plataforma de gestão de processos seletivos. E em 2018 lançou o módulo de admissão digital em 2018 – quando apenas um cliente usava o produto – mas foi na pandemia, em 2020, que a demanda pela solução disparou. “Melhoramos o produto em 2020 com a integração com o eSocial, assinatura de contrato digital, e uma versão para dispositivos móveis com uma melhor experiência para o usuário”, relata Ronaldo.

De 2020 para 2021, a empresa viu o quadro de funcionários crescer três vezes e o faturamento dobrar em relação ao R$ 1,1 milhão registrados no fim do ano passado. Hoje, a empresa tem 55 clientes.

Com grandes nomes no mercado de startups de RH levantando milhões em rodadas de investimento, como a Gupy e a Revelo, Ronaldo afirma que a JobConvo cresce de forma orgânica, ou seja, sem contar com capital de risco, “o que é muito bom e muito difícil”.

“Existe muito trabalho para termos um produto competitivo, somos uma empresa referência em tecnologia, acho que é por isso que a gente chegou onde está hoje. No passado, a gente encontrou alguns desafios e implementamos uma equipe de sucesso do cliente para manter clientes e evitar saídas. Hoje a gente só pensa em escalar”, afirma.

A concorrência é muito boa porque ela nos obriga a extrair o melhor de nós, ou então vamos deixar de existir.

Ronaldo Bahia, fundador e CEO da JobConvo.

A meta para 2021é faturar 2,5 vezes o que conseguiu no ano passado – ou seja, chegar a R$ 2,75 milhões. 

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“Quando você olha empresas referências no mercado, como a Amazon, são poucos anos em que ela dá lucro, porque o dinheiro do lucro você reinveste ou então paga imposto sobre isso. É melhor você reinvestir do que pagar imposto”, diz. Com essa ideia, a JobConvo já reinvestiu mais de R$ 1 milhão em seu crescimento. “Existe uma métrica no mercado de que você cria uma empresa, recebe investimento e tem sucesso. Na prática, isso é um pouco distinto, porque há muitas pessoas inexperientes em empreendedorismo que acabam construindo empresas para investidores. Acho que a JobConvo tem feito um caminho adequado de ser uma empresa como qualquer outra, onde o cliente paga as contas da empresa, e, quando ela atinge um patamar de faturamento e crescimento sustentável, aí sim é o momento de ter poder de barganha com potenciais investidores”. 

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