Fundada há dez anos em Bangalore, na Índia, a BYJU‘s recebeu no mês passado uma rodada Série G de US$ 350 milhões liderada pelo UBS Group e pela Blackstone que a avaliou em US$ 16,5 bilhões. É a startup mais valiosa da Índia, a edtech mais valiosa do mundo e o décimo unicórnio com maior valuation no mundo. É com todas essas credenciais que a empresa chegou, há alguns meses, à América Latina, mais precisamente Brasil e México, e outros cinco novos mercados: Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia e Indonésia.
Na Índia, a BYJU’s fornece produtos com aulas gravadas. Para sua internacionalização, no entanto, a startup tem focado em um modelo de aulas individuais ao vivo para crianças de seis a 14 anos, a BYJU’s Future School.

As operações no México e nos Estados Unidos começaram há alguns meses. No Brasil, a empresa entrou em fase pré-operacional há pouco mais de um mês e já tem 1,5 mil alunos matriculados. No mundo, considerando Índia, Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e México, a BYJU’s já tem mais de 100 milhões de alunos e 6,5 milhões de assinaturas pagas.
Recentemente, a BYJU’s anunciou uma parceria com a Disney para usar seus personagens na plataforma, e na semana passada comprou o aplicativo de leitura Epic por US$ 500 milhões para expandir nos Estados Unidos. O movimento de aquisições não deve parar por aí, como conta Fernando Prado, country manager da BYJU’s Future School no Brasil, em entrevista ao LABS.
“A startup se capitalizou muito no ano passado, levantou mais de US$ 1,5 bilhão [durante a pandemia]. Sem dúvida, além do projeto de expansão orgânica, a expansão também será por meio de M&As. Veremos a melhor forma e em quais mercados essas aquisições vão funcionar melhor”, diz Prado, complementando que não descarta aquisições também na América Latina.
“A BYJU’s é a maior startup da Índia e é uma empresa de educação. Fazendo um paralelo, a maior startup do Brasil é um banco. Não sei se isso diz um pouco sobre o nosso futuro, sobre o nosso passado ou sobre o nosso presente, mas é uma coisa que chama muito a atenção”.
LEIA TAMBÉM: Movida pelo design, Zee.Dog quer expandir globalmente e ir muito além do mercado pet
A BYJU’s avalia um IPO em 12 a 18 meses. Até lá, deve receber novas rodadas privadas. “A empresa está muito quente, tem muita gente querendo embarcar nesse projeto. Acho que muita coisa deve acontecer ainda nessa parte de funding nos próximos meses”, diz Prado.
Qual é o negócio da BYJU’s Future School no Brasil?
No Brasil, em um primeiro momento, a BYJU’s Future School está ensinando programação para crianças, mas pretende acrescentar matemática e música em breve. “Já vemos algumas iniciativas nesse sentido para adultos, mas a nossa ideia é focar em crianças. É um produto totalmente customizado, com quatro currículos compatíveis com a idade e o grau escolar da criança”, explica.
A ideia é que em 144 aulas – o curso é flexível, mas geralmente leva um ano e meio – as crianças aprendam programação na prática, entregando jogos e programando no final de cada aula.

“Não é como a escola tradicional em que você escuta muita teoria. A prática e a teoria estão mescladas no nosso curso e isso é possível pela plataforma tecnológica da BYJU’s, que oferece recompensas, lições de casas e projetos. É um aprendizado que acontece de forma natural. A nossa ideia é fazer com que a criança goste de aprender. Isso é talvez a coisa mais escalável que a gente pode fazer, porque o aprendizado é a habilidade do futuro”, comenta.
No último um ano e meio de pandemia da COVID-19, as crianças foram forçadas a aprender de forma remota, o que acelerou a penetração do serviço da startup. “Uma das barreiras que os pais tinham era aquela desconfiança da capacidade de aprendizado online. Acho que depois da pandemia, o aprendizado online já é um fato. No nosso caso, as crianças parecem que estão brincando, mas quando percebem já estão programando e fazendo jogos e aplicativos”.
A BYJU’s está investindo US$ 1 bilhão na América do Norte, segundo o TechCrunch. No Brasil e México, os dois maiores países da América Latina, a empresa deve “investir algo parecido com América do Norte”, diz Prado, embora não revele o montante para o Brasil porque, segundo ele, o valor será mais uma consequência do negócio do que uma premissa.
“Esse projeto de internacionalização é estratégico para a empresa. Claro que temos um primeiro plano de negócios, mas a gente está descobrindo o mercado. Sem dúvida esses números vão mudar. A gente vai investir o quanto for necessário para crescermos rapidamente”, afirma.
No primeiro ano de operação, a BYJU’s Future School espera faturar mais de R$ 100 milhões com cursos vendidos no Brasil e superar a marca dos 15 mil alunos matriculados. “O potencial é gigantesco, são 20 milhões de possíveis alunos no Brasil. Vamos nos tornar uma plataforma tecnológica com mais alunos do que muitas escolas brasileiras, que em média têm 600 alunos. Por ser online, não temos uma barreira física. Já temos alunos e professoras de praticamente todos os estados brasileiros. Isso é uma forma muito interessante de escalar”.
Como a Uber tem motoristas parceiros, a BYJU’s tem “professoras parceiras”. Hoje, 400 mulheres do mundo da tecnologia ensinam programação às crianças por meio da plataforma da startup e a ideia é chegar a 3 mil professoras até o fim de 2021. “As professoras que se cadastram na nossa plataforma têm a flexibilidade total de escolher os horários que elas querem dar aula”, explica Prado.
Entre os profissionais contratados da BYJU’s no Brasil, a empresa conta com um time de 300 pessoas e espera dobrar a equipe até o fim do ano.
No Brasil, os responsáveis pela criança podem pagar pelo curso por uma assinatura renovada mensalmente, que compreende um número de créditos por mês, com opções a partir de R$ 300. Podem também optar por pagar pelo curso completo à vista. Em ambos modelos, em caso de cancelamento, os responsáveis recebem de volta o valor referente ao que não foi consumido no curso.
LEIA TAMBÉM: Jogo dos unicórnios: a NotCo é o primeiro ou o segundo unicórnio da história do Chile?
“Aqui no Brasil a gente vê um mix entre clientes que optam por assinatura e outros clientes que compram o curso inteiro, então isso varia em termos de custo. Neste momento estamos estudando, entendendo os produtos que se aderem ao mercado brasileiro”.
Segundo Prado, a BYJU’s não tem a preocupação de resolver o problema de déficit de profissionais de tecnologia no mercado de trabalho. A ideia é estimular a criança para que ela goste de aprender e se prepare para os desafios do futuro.
“Obviamente, como uma empresa, a gente tem objetivo de crescer receita, mas em nenhum momento abrimos mão da qualidade do ensino, porque essa é a base do negócio. Os nossos principais KPIs (indicadores chave de performance) são os NPS (Net Promoter Score, métrica de recomendação) dos clientes e as avaliações que a gente recebe de cada aluno. Como consequência, as vendas vão crescer, a retenção vai crescer. Respeitamos muito a qualidade do ensino”.