médico olha holograma com dados do cérebro
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Startups de saúde mental veem demanda até dobrar durante quarentena na América Latina

Apesar da crise, as empresas têm visto esse serviço como essencial para o bem-estar dos funcionários. É o que PsyAlive, Vittude, Zenklub e Telavita contaram ao LABS

As medidas de reclusão e distanciamento social tomadas para prevenir a dispersão do coronavírus fizeram saltar a procura por serviços de saúde mental com atendimento online na América Latina. A PsyAlive (nome usado fora do Brasil, onde atua como Psicologia Viva) viu o número de usuários dobrar na plataforma. As startups brasileiras Vittude, Zenklub e Telavita também relatam uma alta na procura pelos seus serviços.

O cofundador e CEO da PsyAlive, Bráulio Bonoto, conta que o crescimento registrado pela empresa em março foi “extraordinário”. Antes da quarentena a empresa tinha aproximadamente 3 milhões de pessoas cobertas pelo serviço. Hoje, são mais de 6,5 milhões de beneficiados. 

O cofundador e CEO da PsyAlive, Bráulio Bonoto. Foto: Divulgação.

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A PsyAlive tem feito uma média de 1.000 consultas por dia. De acordo com Bonoto, 75% dos atendimentos são de clientes corporativos: empresas e operadoras de saúde. A startup trabalha com empresas de grande porte, com 500 a 1.000 funcionários, como multinacionais que têm operações em toda a região como Avon, Siemens e Azul.

Somando clientes diretos e indiretos (empresas que utilizam o plano de saúde cliente da PsyAlive) mais de 200 empresas obtêm o serviço. A startup já passou por três rodadas de investimento e recebeu recentemente uma de grande porte que deve ser anunciada na próxima semana, conforme informou Bonoto.

Ainda no fim de 2019, a startup Vittude recebeu um aporte de R$ 4,5 milhões, liderado pela Redpoint eventures, para investir na ampliação do Vittude Corporate. A startup oferece consultas com valores sociais para a população enquanto busca a democratização do acesso à terapia visando as empresas. Desde o início da pandemia no Brasil, a empresa registrou um crescimento de 18% no tráfego da plataforma, totalizando 2,2 milhões de visitantes únicos somente no mês de março de 2020. 

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De acordo com a CEO Tatiana Pimenta, em fevereiro a startup recebeu 40 contatos de potenciais clientes; em março o número saltou para 130. A procura pelo serviço corporativo também cresceu muito de fevereiro para março, 300%. Atualmente, a Vittude tem 35 clientes, entre eles a Drogasil, Resultados digitais, 99, Banco do Brasil e SAP. A empresa tem mais de 100 mil pessoas cobertas pelo serviço.

“Tivemos aumento de demanda em todos os stakeholders, na procura de psicólogos por ter uma plataforma segura para atendimentos, na procura de pessoas querendo terapia e também de empresas querendo projetos de saúde mental corporativos para esse momento para acolher seus times”, afirmou Pimenta.

A Vittude atende algumas empresas com operações fora do Brasil, como nos Estados Unidos e na Argentina. Para ela, o crescimento na procura por atendimento psicológico online não deve cessar nos próximos meses, mesmo com um possível relaxamento do isolamento social. 

CEO da Vittude, Tatiana Pimenta. Foto: Divulgação.

Pensando na democratização da saúde mental durante a pandemia, a startup tem oferecido consultas de 50 minutos por R$ 20. Segundo Pimenta, instituições tem se colocado à disposição para financiar quem não pode pagar esse valor, como a organização Favela Sem Corona, que tem feito rodadas de captação para financiar o auxílio.

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O Zenklub, que possui clientes no México, Espanha e Portugal, além do Brasil, registrou desde o início do isolamento social um crescimento “exponencial”, segundo o médico e CEO Rui Brandão. “Quanto mais é estendido o prazo da quarentena maior é o número de sessões realizadas. Para se ter uma ideia, no último mês crescemos 10% a cada semana”. 

A plataforma de atendimento online viu os acessos crescerem em 160% e o número de clientes aumentar em 90%. Brandão explica que a maior procura fez com que a startup aumentasse a rede credenciada de profissionais (psicólogos, psicanalistas e terapeutas) de 250 para 400 especialistas. 

O Zenklub já passou por duas rodadas de investimento e o CEO prometeu “novidades em breve”. A startup cobre aproximadamente 500 pessoas entre as mais de 100 empresas que contratam o serviço. 

A Telavita também ganhou força durante o isolamento social, com um crescimento em torno de 30% em sua base de usuários e 200% no interesse de empresas que buscam a solução para oferecer aos funcionários. A psicóloga e co-fundadora Milene Rosenthal explica que a COVID-19 levou a um aumento significativo também na procura de empresas de saúde que querem oferecer o serviço a médicos e enfermeiros. Além do estresse, a carga de trabalho alta e o medo de pegar a doença, o distanciamento da família também tem perturbado os profissionais que atuam na linha de frente, que sofrem com angústia e ansiedade, relata a psicóloga. 

Foto: Arquivo Pessoal.

A gente sabe que o isolamento é nocivo para o ser humano, quem tinha uma boa estrutura emocional também está adoecendo

MILENE ROSENTHAL, Psicóloga e co-fundadora da Televita.

Psicólogos estão procurando a plataforma porque não estão atendendo presencialmente. Segundo Rosenthal, a Telavita executa no mínimo 100 sessões por dia. A Telavita atende todas as regiões do Brasil e já recebeu em torno de R$ 3 milhões de investidores-anjos. 

Segundo Brandão, do Zenklub, outras pandemias deixaram um legado de estresse pós-traumático na sociedade, justamente porque as pessoas não estavam preparadas para as mudanças ocasionadas por cada uma dessas doenças.

Com a demanda crescente agora, podemos entender que há um aumento de pessoas conscientes sobre a importância de cuidar da saúde emocional. E isso é um grande passo. À medida que o cuidado com a mente ganha o título de ‘essencial’, tudo no entorno tende a melhorar

Rui Brandão, CEO do Zenklub.

Saúde mental está começando a ser visto como cuidado essencial, e COVID-19 acelerou isso

Ainda que empresas enxuguem gastos durante o período de recessão econômica pela pandemia, as startups relatam que a demanda de companhias que procuram por atendimentos psicológicos online para os colaboradores não tem sido prejudicada.

O CEO do Zenklub, Rui Brandão pondera que tão importante quanto oferecer um convênio médico é promover a saúde-emocional e o bem-estar dos colaboradores. Na visão dele, as empresas têm se dado conta que a eficiência e resultados dos funcionários melhoram a partir desse benefício.

Do início do isolamento social para o atual momento, a plataforma cresceu 400% em receita B2B. O Zenklub ainda planeja criar uma plataforma exclusiva para profissionais de Recursos Humanos. “Há uma tendência de tornar a saúde emocional um benefício dentro das grandes corporações”, pontua o CEO. 

A Vittude afirma que ao invés de reduzir os gastos, muitas empresas estão investindo no serviço de terapia online neste momento. “Fizeram cortes em determinadas áreas, fizeram até suspensões de contrato, mas optaram por investir em saúde mental para apoiar colaboradores e entregar conforto no momento em que as pessoas estão trancadas dentro de casa, ansiosas, com medo”, relata a CEO. 

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Já o CEO da PsyAlive não viu demissões em massa no perfil de empresas atendido pela startup. Por outro lado, Bonoto conta que a reclusão fez a demanda crescer com empresas preocupadas com a saúde emocional dos funcionários. Para Rosenthal, co-fundadora da Telavita, as empresas que procuram o serviço não falam em substituição de benefícios, mas sim de ampliação. “Acontece que o transtorno mental é incapacitante, você não enxerga onde está o problema”, explica. Por esse motivo, ela acredita que as empresas estão entendendo que acolher colaboradores começando a ter algum problema, que poderia impactar a produtividade, é fundamental.

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