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Negócios

Startups vão às compras e registram recorde de aquisições em 2021

Os M&As têm ganhado papel de destaque na estratégia de crescimento do ecossistema de inovação; fintechs lideram esse movimento com 49 transações até novembro

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Um mercado altamente competitivo e com seus principais concorrentes cada dia mais capitalizados — inclusive, atraindo cifras recordes de fundos de investimento internacionais. É nesse cenário que as fusões e aquisições ou M&A, na sigla em inglês, se consolidaram como uma estratégia de crescimento tanto para startups quanto para grandes conglomerados na América Latina.

No relatório Inside Venture Capital Report, a plataforma de inovação Distrito estima que foram investidos até novembro deste ano US$ 8,85 bilhões em startups brasileiras em todos os estágios de crescimento. Ou seja, o valor aportado no ano deve ser três vezes o capital recebido em 2020. 

Até o mês de novembro foram realizados 227 acordos de fusão e aquisição no mercado brasileiro. E os “campeões do M&A” em 2021 estão na categoria de serviços financeiros — que também conta com as empresas que receberam mais capital de investidores. As negociações envolvendo fintechs representaram 21,5% das fusões e aquisições no ecossistema de inovação em 2021.

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Em números absolutos, foram realizadas 49 transações desse tipo entre fintechs. Um destaque recente é a compra do banco digital Linker pela plataforma SaaS de gestão (ERP) Omie por R$ 120 milhões. Já em dezembro, o EBANX, fintech que processa pagamentos para empresas globais na América Latina, e que é dona do LABS, também foi ao mercado e anunciou a aquisição da Remessa Online. O negócio foi fechado por US$ 229 milhões (R$ 1,2 bilhão).

Entre os setores aquecidos para a união entre companhias, o relatório do Distrito também aponta marketing (martech) e varejo (retailtech) com 29 e 25 transações, respectivamente, até novembro de 2021.

Momento de afirmação

Fusões e aquisições não são um mecanismo novo. No entanto, para Gustavo Araujo, cofundador e CEO do Distrito, a chamada nova economia deu uma roupagem diferente para esse tipo de estratégia que, em 2021, teve um ano de consolidação no ecossistema de inovação brasileiro.

“Tivemos a partir de 2020 um padrão novo em relação a venture capital, aquisição de startups. E 2021 é um ano de confirmação dessas tendências: do apetite das corporações por inovação aberta, por investimento e aquisição de startups. E ainda do apetite dos investidores internacionais e nacionais por empresas da nova economia. O mercado está crescendo em todas as direções”, explica Araujo.

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Para ele, o momento revela que o “Brasil da tecnologia já deu certo”. Ou seja, é possível observar que o valor já captado por fundos nacionais e internacionais para investimento já supera a marca dos US$ 10 bilhões. Com mais capital chegando para o Brasil e para a América Latina, Araujo aponta que o mercado deve seguir expandindo.

“Quando observamos o crescimento dos últimos dez anos, vemos que o ano passado ‘sobe o patamar’ e 2021 confirma a tendência de crescimento. Mesmo que o ano que vem seja um ano eleitoral, [o setor da] tecnologia deve crescer. Não vemos nenhum dado de retração nesse setor”, explica o CEO do Distrito.

As empresas precisam de mais tecnologia quando passam por crises financeiras, econômicas. Para poder fazer mais com menos, ganhar escala e cortar custos. Vemos que mesmo durante a pandemia, um momento de crise, a tecnologia cresceu bastante.

Gustavo Araujo, CEO do Distrito

Se as perspectivas são positivas, os motivos para as negociações de fusão e aquisição de startups não faltam. Adam Patterson, economista e sócio da Redirection International, explica que as empresas possuem diferentes objetivos quando procuram por aquisições. Dentre eles: acesso à tecnologia, aquisição de talentos e marcas, expansão de seus mercados, aumento de sua avaliação de valor.

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Além disso, do lado dos fundadores que decidem vender suas startups, essa saída garante ganhos financeiros e uma chance de sobrevivência de suas startups em um mercado de crescimento acelerado.

Investimento cross-border

Com o mercado nacional atraindo investidores globais, há ainda um outro fenômeno: o aumento nas fusões e aquisições de empresas entre países (cross-border). Esse tipo de negócio cresceu 98% em escala global, entre janeiro e outubro deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são da Retivit, plataforma de pesquisa de mercado financeiro. 

Na América Latina e, sobretudo, no Brasil, essa tendência já pode ser detectada também. Patterson explica que as operações cross-border representam cerca de 30% de todas as transações registradas no país e devem fechar 2021 com um crescimento de 20%.

Observando os mercados internacionais, percebemos que o crescimento não-orgânico, ou seja, via M&A é uma peça chave no desenvolvimento de players globais. Assim, as operações cross-border vão ser cada vez mais relevantes

Adam Patterson, economista e sócio da Redirection International

“Essa tendência começou com as empresas que receberam os primeiros aportes relevantes, algumas viraram até unicórnios, e tinham muitos recursos em caixa — e uma forma de garantir o crescimento é comprar empresas menores. Para grande parte das empresas essa estratégia ajuda a manter relevância, crescer em outras áreas e ampliar sua atuação. Cada vez mais as scale-ups e empresas gigantes estão adotando M&A como forma de crescer mais e mais rápido”, aponta Patterson.

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Para o Renato Stuart, sócio da consultoria RGS Partners, o cenário de 2022 deve seguir aquecido para esse tipo de transação. “Hoje as startups estão acostumadas a transacionar em múltiplos elevados. Esse movimento de fusão entre startups é natural, a tendência de disrupção vai continuar”, aposta Stuart.

Do lado das grandes empresas, o especialista afirma que é necessário uma estratégia clara na hora de abrir a carteira para aquisição de startups. “Quem for ao mercado de maneira reativa vai ficar para trás. Cada vez mais essas empresas estão montando teses claras para aquisição de startups”, conta o sócio da RGS Partners.

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Com a possibilidade de captação mais acessível e previsível do que a abertura inicial de ações na bolsa, alguns especialistas apostam em mais M&As do que IPOs em 2022. Outro caminho para expansão é a realização do IPO fora do país. Empresas latino-americanas de crescimento rápido e que já visualizam a listagem em bolsa podem alcançar novos investidores ao mirar em mercados mais desenvolvidos e robustos.

Com a chegada do Nubank à Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) em dezembro, a previsão é de que outras companhias brasileiras tomem o mesmo caminho no primeiro semestre de 2022. Em entrevista à agência de notícias Reuters, o chefe de mercados internacionais da NYSE, Alex Ibrahim, revela que há negociações para abertura de capital de fintechs e empresas de consumo e de saúde. “Estamos em busca das empresas que estão mudando o mundo”, diz Ibrahim.